Prólogo

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18 anos antes:

Julieta descia apressada as escadas do orfanato tomando o cuidado de não arruinar seu vestido ou as belas tranças de seu cabelo que dona Carmen havia feito caprichosamente. O vestidinho rosado contrastava com sua pele escura dando um ar angelical à garotinha, no auge dos seus 7 anos ela quase não tinha mais esperanças de ser adotada, mas naquele dia foi informada que um casal estaria lá para vê-la. Ainda olhando no espelho ela ensaiou seu sorriso, o dente que faltava a deixou envergonhada e esforçou-se para lembrar das palavras do sr. Raul de que todas as crianças trocam os dentes, sorriu outra vez antes de se dirigir para os degraus.

Aguardou paciente na cadeira ao lado do escritório da diretora até que chamarem seu nome, pareceu uma eternidade o tempo que ficou ali mesmo que não tivessem passados mais que 10 minutos. Carmem abriu as portas e convidou a menina, um casal ansioso a olhava com expectativa e Julieta se decidia entre mostrar ou não o buraco em no sorriso, com o nervosismo apenas encarou aqueles que poderiam se tornar seus novos pais.

O homem estava de terno, cabelos pretos perfeitamente alinhados, os olhos igualmente escuros a olhavam com ternura como se oferecessem um abraço, isso acalmou a pequena. Mas foi ao olhar a mulher que Julieta não pode deixar de sorrir, elas eram iguais! Sim, a sua nova mãe tinha a pele da mesma cor que a sua, o cabelo tinha curvas iguais as suas e os olhos cor de mel faziam com que parecesse um anjo. Naquela tarde, o sr. e sra. Martínez ganharam uma filha, enquanto Julieta pensava que o Ratoncito Perez acertou em cheio no seu presente.

Ela correu para buscar sua pequena mala no quarto, não haviam muitas coisas já que além do vestido que estava usando ela só tinha os uniformes do orfanato dos quais ela não precisaria mais, pegou seu urso de pelúcia com quem dormia abraçada e colocou na mochilinha. Antes de sair do quarto viu seu livro favorito em cima da mesa de cabeceira, olhou para sua única amiga e entregou o livro surrado para ela dizendo confiante:

– Toma, Floribela. Esse é o livro do Ratoncito Perez, quando o seu dente cair coloca embaixo do travesseiro que ele vem buscar e te dá um presente.

– O Diego disse que isso é tudo mentira – a outra respondeu desanimada.

– Não é, não. Olha só para mim, coloquei meu dente ontem mesmo e hoje já ganhei meu presente.

O rosto da garotinha de 6 anos se iluminou com a garantia de Julieta que sorria radiante olhando para a porta do quarto onde os Martínez a esperavam se despedir.

– Pode acreditar, Floribela. Eu ganhei o melhor presente de todos: uma família!

As pequenas se abraçaram pela última vez antes de se despedirem para sempre. Julieta desceu as escadas de mãos dadas com sua nova mãe enquanto seu pai carregava a mochila, ela se despediu da diretora Carmem e do zelador Raul. Algumas das crianças se amontoavam nas janelas vendo-a entrar no carro luxuoso de sua família, ela acenava de volta sorridente pronta para começar sua nova vida. Por muito tempo o orfanato em Barcelona foi seu lar, ajoelhada no banco de trás entre seus pais, a menina observou até que a construção sumisse do seu campo de visão deixando para trás os outros órfãos.


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