Capítulo XXVI

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Na cozinha da mansão Julieta esbravejava contra a bancada cheia de pó de café derramado há alguns segundos, a chaleira elétrica aguardava logo ao lado, a água borbulhando impaciente que a garota se resolvesse com a bagunça que causara. Santiago entrou pela porta da cozinha estranhando a cena, sabia que Julieta gostaria de tomar café para passar o resto da noite trabalhando após a exaustiva viagem, mas nunca consideraria a possibilidade dela mesma tentar fazer.

– Eu colocaria o café dentro do coador – ele sugeriu. – Ou chamaria a Rosalia.

– A ideia inicial era o coador até eu me lembrar quão desastrada consigo ser, quanto à Rosalia ela foi visitar a irmã, eu acho. Está de folga essa noite.

– Me deixa te ajudar.

Julieta entregou a colher e o pó de café que tinha nas mãos de Santiago e foi à procura de um pano que pudesse usar para limpar o que derrubou no balcão. O motorista despejou com cuidado a água quente sobre o pó escuro fazendo com que o aroma de café se espalhasse pelo cômodo, a garota terminou de remover a sujeira e aguardou que a bebida fosse filtrada.

– Por que não usar a cafeteira?

– Diego disse que faz diferença no sabor, é filtrando direto com água quente que eles conseguem um café tão bom no Saint Eulália.

– Então porque não fomos até a cafeteria tomar um café feito pelo próprio Diego?

– Ele não estaria lá – ela deu de ombros.

Santiago olhou a garota encostada na bancada com os braços cruzados encarar o chão, ela parecia chateada com algo que não sabia como começar a dizer, mas ele a conhecia o suficiente para fazer Julieta se abrir.

– E qual a razão de ele não estar aqui?

Julieta o encarou em silêncio sem saber o que responder.

– Pega as xícaras para a gente? – Ele pediu ternamente.

Ela abriu o armário alcançando duas xícaras enquanto o motorista levava a garrafa até a mesa, entregou uma para Santiago e se sentou com a outra em sua frente. O cheiro que o café emanava ao ser servido reforçava as lembranças daquele fim de semana, Diego se servia da bebida sempre que podia e tinha acabado de tomar um pouco após o almoço quando se beijaram em frente ao restaurante. Ela nunca pensou que café poderia ser tão bom.

– Diego não está trabalhando, você está com cara de quem não vai trabalhar essa noite... porque ele não está aqui?

– Eu deveria trabalhar – ela sorveu um pouco do líquido na xícara, – eu só não consigo.

– Vai me contar o porquê ou vamos continuar fingindo que é normal sua tentativa de fazer café após o expediente?

– Às vezes acho que você lê meus pensamentos, Santiago.

– Eu quase escuto quando seus pensamentos estão gritando assim.

– Em alguns momentos eu queria que você não fosse o único, seria muito mais fácil.

– Estou me perguntando se vinho não era a melhor escolha para esse estado de espírito que está agora.

– Não, eu queria café... – porque lembra ele, pensou. – Sabe, se eu pudesse ler os pensamentos do Diego seria mais fácil também, assim eu entenderia o que ele quer afinal.

Ela falava encarando a xícara e Santiago a ouvia pacientemente.

– O fim de semana foi perfeito, mas hoje de manhã ele estava completamente diferente... eu não entendo o Diego.

Café e CEO [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora