Capítulo V

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– Eu não acredito que ele te deu a flor que você odeia dizendo que era a sua favorita – Diego gargalhava sentado em frente a Julieta.

– Eu sei, foi péssimo! – Ela também ria tomando um gole de seu café.

Eles estavam sentados em uma das mesas do Sant Eulália como todos os dias após o expediente de Diego conversando sobre assuntos banais enquanto uma chuva insistente caía lá fora. Era meados de março e apesar de não estar tão frio, as chuvas constantes pediam ao menos um casaco no início e no fim do dia.

– E você não disse nada? – Diego continuou rindo.

– Não, apenas me livrei das flores e agradeci – deu de ombros.

– Julieta, o que você viu nesse cara? Ele não sabe escolher presentes, não te leva para fazer coisas que você gosta e não te visitou nenhuma vez aqui mesmo que tenha mais de dois meses desde a sua mudança. Vocês nem se falam todos os dias. Ele pelo menos é bonito?

– Sim, ele é bonito. As revistas de Madrid colocam ele entre os solteiros mais cobiçados da cidade.

– Esses rankings ainda existem? – Diego revirou os olhos.

– Infelizmente, sim – ela confirmou. – O Leonel é filho de um dos amigos do meu pai, a gente se conhece desde que me mudei para Madrid. Nossos pais tinham negócios e interesses em comum que agora nós estamos a frente, é conveniente que tenhamos um relacionamento.

– Ah, não – Diego arrumou a postura na cadeira e encarou Julieta. – Você está me dizendo que está com ele por conveniência?

– Não... quer dizer... nós estávamos sempre juntos, era natural que em algum momento surgisse algo a mais, entende?

– Não entendo, não. Julieta, você é apaixonada pelo Leonel?

– Eu acho que sim.

– Não tem certeza do que você sente pelo cara que você namora há 5 anos?

– Seis, na verdade – corrigiu. – Eu gosto do Leonel, ele é um cara legal.

– Mas não ama?

– Não é só o amor que sustenta um relacionamento, Diego. Quando se vive no mundo em que eu fui criada, existem outras coisas a se pensar – ela disse ríspida.

– No meu mundo, onde existem casais como o Josep e o Lorenzo que lutam contra tudo e contra todos para estarem juntos, amor é o requisito principal para estar com alguém.

Ao lembrar do que Josep e Lorenzo fizeram para poderem estar juntos hoje Julieta se arrependeu do que disse, Diego pareceu ter se ofendido já que levantou recolhendo as xícaras vazias e levou para a cozinha sem dizer mais nada. Ele retornou depois com o casaco em mãos e disse que tinha que ir embora.

– Você vai embora de que?

– De bicicleta como todos os dias – ele respondeu indiferente.

– Mas está chovendo muito, você vai ficar resfriado.

– Não se preocupe comigo.

– Eu posso te dar uma carona, o Santiago te leva sem problemas.

– Eu duvido que minha casa seja caminho da sua, não tem carros como o teu andando no meu bairro – ele riu irônico.

– Isso não importa, eu te levo mesmo assim.

– Já disse que não precisa se preocupar, eu vou ficar bem.

– A gente se vê amanhã?

– Você sabe onde me encontrar.

Ele deu um sorriso fraco antes de voltar pela cozinha e sair em direção ao beco para pegar a bicicleta. Julieta pagou sua conta, chamou Santiago e eles se dirigiram ao carro. Já a caminho de casa, ela recordava as palavras de Diego sobre o que sentia por Leonel. O chofer estranhou o silêncio da moça e encarando-a pelo retrovisor perguntou:

Café e CEO [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora