Capítulo XXII

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No andar de baixo, Diego parou em frente ao lavabo esperando por sua acompanhante, quando a porta se abriu, saiu uma mulher que sorriu para o rapaz com estranheza. Ele a reconhece do leilão, ela chegou a dar um lance por ele, porém o nome lhe fugiu à mente. Vendo a expressão confusa da senhora ele quebrou o silêncio tentando se desculpar:

– Me desculpe, achei que era outra pessoa aí dentro.

– Se está procurando Julieta, eu a vi subir as escadas – ela informa simpática.

– Obrigado – agradeceu antes de se afastar.

Já no topo da escada, olhou ao redor tentando identificar onde sua falsa namorada poderia estar, um dos garçons que recolhia taças abandonadas sobre os móveis informou que há um lavabo no corredor à esquerda e que talvez tenha visto alguém com a descrição de Julieta indo naquela direção. Ele seguiu pelo caminho indicado se perguntando porque carajo alguém precisa de uma casa tão grande.

Parou no corredor em frente ao lavabo e não pode acreditar na cena. Do ângulo que estava via apenas as costas de Leonel e pelo reflexo do espelho os cabelos de Julieta e mais abaixo a mão de Leonel em sua cintura. Não dava para entender o que o outro dizia, mas sussurrava algo no ouvido da moça. O estomago de Diego se revirou e a única coisa que conseguiu pensar foi em sair dali.

No hall que separava o corredor do sanitário, Leonel tentava alcançar os lábios de Julieta ainda encostada na pia já que a coxa do homem a mantinha no lugar, ao mesmo tempo ele continuava proclamando propostas que faziam seu estômago revirar tanto quanto seus olhos em uma sensação de puro asco.

Ela bloqueava o corpo dele com a mão em seu peito novamente, resistindo ao contato que ele insistia em ter ainda sussurrando seu nome numa falha tentativa de seduzi-la. O hálito de whisky do ex-namorado só piorava o enjoo que ela sentia, se tornando mais uma razão para desviar o rosto a cada investida dele.

Sem razão aparente, Leonel enrijeceu a postura não mais forçando a aproximação, nesse momento Julieta percebeu que ele encarava o espelho exibindo seu sorriso prepotente. Olhou por cima do ombro dele e viu o outro rapaz parado na entrada do hall com cara de poucos amigos.

– Diego...

– Seu namorado parece irritado – Leonel debochou.

Vete ao carajo¹

Juntou todas as forças que tinha e afastou Leonel num impulso que o fez cambalear para o lado, saiu ao encalço de Diego que já estava prestes a descer as escadas o alcançando a tempo de descer os degraus ao lado dele. Ambos sorriram para as duas senhoras elegantes que vinha na direção contrária e Julieta até mesmo entrelaçou seu braço ao do rapaz enquanto passavam pelos convidados buscando a saída.

Ela percebia que o rapaz evitava olhar para ela e se perguntava o quanto ele tinha visto, se ao menos tivesse ouvido os diversos "não" que disse a Leonel ele provavelmente não estaria tão irritado. Para Julieta era impossível ler os pensamentos de Diego, o que ela faria se soubesse o quanto aquela cena confusa doeu no garoto que estava ao seu lado e o quanto ele lutava com a enxurrada de sentimentos?

Diego não queria dizer, não se sentia no direito de questionar Julieta por estar prestes a beijar o ex-namorado, para ele era obvio que ela ainda gostava de Leonel, além do mais o que ele poderia exigir de alguém cujo relacionamento é fundado num acordo? Que direito ele tinha de sentir o que estava sentindo? Aquilo era ciúme? Não deveria ser. Precisou respirar fundo ao passar pela porta e pedir pelo veículo.

– O carro, por favor.

Foram as primeiras palavras que ele proferiu desde então e eram destinadas a um dos valetes em frente à casa, a essa altura Julieta já havia soltado seu braço e aguardava em silêncio o retorno do manobrista. De canto de olho, a viu enrolar os braços ao redor do corpo sentindo a brisa gélida da noite, tirou o blazer colocando-o sobre os ombros da moça que aceitou o gesto ainda tentando não demonstrar aos outros convidados que havia um problema.

Café e CEO [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora