Capítulo XII

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Diego abriu a porta do apartamento com cuidado para não fazer barulho já que era tarde e seus pais deveriam estar dormindo, mas ao caminhar em direção ao quarto notou a luz da cozinha acesa. Estranhando que alguém estivesse ainda acordado foi até lá encontrando um Josep próximo ao fogão de olho em uma chaleira.

Hola, papá. ¿Qué pasa? – Perguntou já se aproximando

Hola, hijo. Chegou agora?

– É, acabei de chegar. E você, porque ainda está acordado?

– Lorenzo não está se sentindo bem, está com febre alta e vim fazer um chá de macela para ver se ajuda, aquela planta do Brasil que a Consuelo recomendou.

– Ela disse que é muito boa. Mas como tá o Lorenzo?

– Ele está suando muito e os remédios simplesmente não fazem efeito.

– Você deveria ter me ligado, eu viria mais cedo para te ajudar a levar ele ao hospital.

– Primeiro que eu não ia tirar você do teu encontro por isso, eu estava esperando que os remédios ajudassem. E depois que ele se recusa a ir para o hospital, o chá é minha última tentativa de hoje.

– Como assim se recusa? Que besteira é essa agora?

– Não se preocupa com isso, é teimosia dele – Josep sorriu fraco enquanto servia a água quente numa caneca com as flores secas.

– É por causa do dinheiro, não é?

– Já disse para não se preocupar, hijo.

– É pelo dinheiro? – Insistiu. – Nós não temos como pagar mais um exame?

A confirmação veio no silêncio de Josep. Por mais que o sistema de saúde público fosse muito bom na Espanha, quando nenhum médico conseguiu descobrir a origem da doença de Lorenzo foi necessário recorrer a médicos particulares e assim a fatura do plano de saúde era sempre altíssima, a cada consulta um exame e a cada exame mais gastos.

– Eu vou falar com ele – Diego avisou recebendo um olhar preocupado de Josep.

Caminhou em direção ao quarto dos pais ouvindo a tv baixinha vindo de dentro do cômodo, afastou devagar a porta entreaberta e ao dar o primeiro passo para dentro, Lorenzo virou o rosto para olhá-lo.

– Oi, você chegou cedo – tentou sorrir.

– Prometi que dormiria em casa hoje.

Diego se sentou na ponta da cama e tocou a testa suada do pai sentindo a temperatura alta, limpou cuidadosamente o suor retirando os fios de cabelo preto da pele branca levemente avermelhada pela febre, analisou a expressão cansada do italiano que aproveitou para fechar os olhos com o afago do filho e soltou um breve suspiro antes de dizer:

– Nós deveríamos ir ao médico.

– Você também? – Respondeu devagar com certa dificuldade em respirar. – Já me basta Josep fingindo que mesmo que possamos pagar outra consulta dessa vez vamos descobrir o que eu tenho.

– Não podemos parar de tentar, papà... eu vou dar um jeito, nem que eu abra a cafeteria todos os domingos... eu vou dar um jeito – disse sentindo os olhos umedecerem.

No, Diego. Você já trabalha demais – repreendeu abrindo os olhos.

– Ainda não é o suficiente, nós vamos encontrar a cura para seja lá o que você tem. Prometo que vai ficar tudo bem.

– Ah, mi hijo, não deveria prometer o que não pode cumprir.

Lorenzo afagou a mão de Diego que estava em seu rosto, olhando para a porta viu Josep entrando com a caneca de chá em mãos e pediu ajuda para se sentar encostado à cabeceira, sorveu o primeiro gole do chá e um arrepio lhe correu o corpo ao sentir o gosto forte da planta.

Café e CEO [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora