Capítulo XVII

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Lentamente, Julieta abriu os olhos na penumbra do quarto, aos poucos as lembranças foram surgindo em seus pensamentos: o nervosismo antes do jantar com Josep e Lorenzo, como rapidamente se sentiu à vontade assim que começaram a falar de Madrid, depois sobre vinhos, a comida caseira e todos sentados à mesa lembraram a ela como era bom ter uma família e mesmo com a saudade dos pais, ao lado deles a tristeza não a alcançou.

Depois a praia, outra vez o receio de não se encaixar, a areia na sandália e o vento bagunçando os cabelos, tomar coolers dispostos em uma caixa térmica que não parecia nada higiênica se comparada aos drinks dos clubes noturnos que costumava ir. Não conhecia ninguém e aqueles que conhecia tinham tudo para odiá-la. Era para ter sido um fim de noite catastrófico, mas acabou sendo um dos melhores de sua vida.

Miguel era uma pessoa completamente diferente do garçom que diversas vezes a serviu naquele restaurante, assim que Diego perguntou das bebidas de Julieta, ele a puxou pela mão de volta para a caixa como se a conhecesse há anos – e conhecia, entregou uma garrafa envolta em areia e ao perceber a cara de nojo da garota a limpou na própria camiseta sem se importar. Foram essas atitudes despreocupadas que deixaram a noite mais leve.

Ela não se lembrava do nome de todos apesar de se esforçar, tentou forçar a memória em cada etapa onde se apresentaram para ela sem sucesso. A de cabelos castanho-escuro era Patrícia ou Felícia? E o garoto que a fez girar enquanto dançavam podia se chamar Estevan, tinha cara que combinava com esse nome. As piadas, a dança, a música e as risadas... algumas outras coisas que o excesso de álcool não a deixaria lembrar...

E toda vez que olhava para Diego, ele sorria para ela. Sim, Diego... o olhar dele ao vê-la se divertir, o som genuíno das gargalhadas que ele deu enquanto ela cantava desafinada. O cheiro dele ao seu lado a noite toda, desde o apartamento até a hora que ela encostou em seu ombro sentada na areia, a voz dele perguntando se ela realmente o deixaria dirigir o carro. Os olhos dele tão perto refletindo Julieta em duas lindas cores, tão lindas que a hipnotizaram a ponto de achar uma boa ideia a sugestão de Miguel...

Mierda! – Sentou na cama de sobressalto.

Se arrependeu na mesma hora sentindo a cabeça rodar e o estômago revirar cobrando a dívida de uma noite de embriaguez com bebidas baratas, correu para o banheiro com a impressão de que colocaria para fora tudo o que comeu no último mês, mas felizmente era só impressão.

Abaixou-se na pia em frente ao espelho e com a água fria mesmo molhou o rosto sentindo um alívio no embrulho estomacal, procurou por ali algum remédio para aliviar a dor de cabeça e estava decidida a tomar um banho demorado, até que alguém bateu à porta. O coração acelerou na possibilidade de ser Diego, o que ela falaria para ele? Depois de lhe roubar um beijo de maneira tão... tão... aleatória era a palavra?

Bateram na porta novamente, uma voz conhecida, porém feminina é ouvida:

Señorita Julieta...

, Rosalia – respondeu voltando ao quarto.

Te llaman por la línea fija¹.

– Quem?

– É de Madrid, señorita.

– Madrid? Que horas são agora?

– Já passam das onze da manhã – a resposta assustou a garota.

– Estou indo.

Olhou ao redor procurando algo para vestir, só então notou que estava com a roupa de ontem e o quarto repleto de areia. Percebeu que, por algum motivo que ela desconhecia, havia chego em casa e se deitado do jeito que estava, sem colocar um pijama ou retirar o excesso de areia, nem se lembrava como havia chegado até lá.

Café e CEO [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora