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 Do lado de fora um vento hostil e forte cortava o ar, nos céus de nuvens mais escuras que o escuro da noite formadas por flashes de relâmpagos de trovejos luminosos e inicialmente silenciosos anunciava o temporal que acercaria a cidade naquela noite. Coloquei a blusa de frio de moletom vermelho que segurava no braço e me encapuzei, pensando que daquele modo estaria protegido da chuva caso despencasse do céu. A pequena cidade era formada principalmente por ruelas, becos cúbicos sem saída, ruas iguais e estreitas, de solo paralelos e limpos de pedras cubicas, havia alguns pequenos prédios e casas de sobrados mais ao centro urbano da cidade dando-se origem aos estreitos becos e vielas entre as mesmas, criando um verdadeiro labirinto de pedra que eram as coisas mais presentes naquela cidade pequena, transformando-se em verdadeiros "corta-caminhos" uma alternativa rápida de cruzar bairros inteiros sem andar pelos quarteirões de ruas imensos formado entorno da enormes casas. As ruas principais são sempre mais movimentadas, mas por conta da tempestade que parecia não ter piedade em anunciar sua chegada eu tinha pressa para chegar em casa antes que tudo viesse abaixo d'agua, relâmpagos e trovões. Como eu estava presente no lado mais urbanizado da cidade pensei que desse modo, cortar caminho entre as vielas poderia me fazer chegar em casa rapidamente.

 As minhas mãos estavam suando dentro dos bolsos quentes da blusa enquanto eu caminhava pela cidade solene, não havia sons, — esse horário durante a semana, era o horário em que a cidade dormia cedo e por esse motivo era possível escutar a chuva vindo ao longe, o que me fez apertar os passos e começar a cortar caminho e entrar em vielas tampouco conhecidas por mim, desse modo eu sairia da avenida principal e podia cortar caminho pelo meio da cidade sem dar voltas longínqua pelas ruas.

 Na entrada de uma das ruelas mal iluminadas, um grupo de rapazes intimidatórios, com garrafas de bebida nas mãos bebericando em goles longos o liquido das garrafas de cervejas, estavam reunidos em grupo ao canto da parede no meio do caminho. Não hesitei por medo, pois sabia que agora que fui visto eles poderiam vir atrás de qualquer forma, tentei ser o mais discreto possível. Senti uma friagem correr na espinha, e segui firme andando em passos rápidos e largos pelo caminho pavimentado estreito e longo. Um som e risadas foi ecoando de trás de mim após passar por eles, apertei o passo e enquanto eu caminhava as vozes e as risadas me acompanharam anunciando uma perseguição, ou talvez eu estivesse com tanto medo de ter cruzado o caminho daquelas únicas pessoas naquela noite soturna, que estivesse teorizando que o grupo de homens estivessem me seguindo, de certo modo eu não estava errado. Senti um leve arrependimento em não ter olhado com mais precisão os rapazes, mas a àquela altura o medo me acometeu. Existe uma forma de analisar o bom mocinho dos maus mocinhos em Aurora do Norte, um modo simples que pode ser utilizado não apenas aqui, mas acredito que todos nós julgamos roupas, e olhando as vestimentas das pessoas fica fácil criar uma teoria a respeito da mesma, mesmo que a vestimenta não seja motivo de segregação de caráter individual, ou motivo de qualquer represálias, mas vejamos: geralmente as gangues utilizam as mesmas cores de roupas, logo fica fácil saber quem são parte da vilania pública. Aumentei os passos principalmente ao notar que todos eles usavam um colete jeans sobre suas camisas, senti uma ponta de medo invadir meu amago no instante que ecoou o som de ferro batendo e sendo arrastado em tintilar entre os blocos elevados da parede. Olhei para trás de maneira cuidadosa e curiosa a fim de saber o que causava aquela cacofonia assustadora e um dos três rapazes passava uma machadinha de cortar lenha sob os blocos alaranjados da parede da viela.

 — Quando estiverem entre os Coiotes uive feito eles — disse um dos homens em bom tom.

 Em seguida um uivo, e todos rapazes uivaram em coro. Existe uma regra que aprendi rápido quando me mudei para essa cidade, no primeiro dia de trabalho atendi um homem que usava uma jaqueta jeans com a estampa impressa nas costas de um cão acorrentado, ele não foi nada amistoso comigo, e Alice, uma colega de trabalho, me disse: Evite os Coiotes. Coiotes eram pertencentes a um clube vil de rapazes mal encarados e presentes na cidade, conhecidos por causarem grandes problemas. Uma gangue de rua em uma cidade pequena.

 Me assustei ao escutar o uivo e a voz estridente e olhei novamente para trás por cima dos ombros vendo as grandes silhuetas dos homens se aproximarem. E eu que espiava olhando para o outro lado bati com o rosto no peitoral de um outro homem que surgiu em minha frente de repente. Não havia o visto chegar, me distrai assustado e não reparei no meu caminho. Instantaneamente num sobressalto assustado ao bater no rapaz, o olhei e ele me olhou de volta com olhos bravos, ele devia ter entorno de um metro e noventa e dois, os cabelos médios e uma barba entorno do rosto, tropecei e cai no chão de bunda, me arrastei no solo de concreto até encostar na parede cercado pelos esquisitões.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora