Pagina 54 União XVIII

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 O decorrer da semana começou a me trazer mais fluidez a respeito da cerimónia, tive de passar mais tempo com a família Laurenz, na qual Pilar perguntou se havia algo que eu quisesse incluir na cerimônia como buffet, mas no caso não era preciso, eu sabia que não tinham o habito de fazer um preparativo como casamentos humanos, não havia bolos ou docinhos, mas havia salgados, músicas e bebidas, era apenas uma cerimónia, e eu não queria quebrar as tradições deles, afinal eram tradições sérias de mais, e um rapaz como eu cultuado na cultura humana que os lobisomens não parecem gostar tanto assim, seria vergonhoso tornar a cerimônia cercada de lobisomens em uma festa religiosa. Tive o deleite de escolher algumas coisas em si, e as cores das flores que Benji queria, as cores que não podiam ser chamativas de mais. Os preparativos não eram só meus e de Benji, todos da Matilha tinham um comprometimento, havia um protocolo. Os Coiotes eram um grupo de formado por 18 lobisomens, eles eram responsáveis por fazer a caçada de cervos para a construção de uma Manta Matrimonial, na qual a pele dos animais era costurada categoricamente pelo Alfa da matilha, não importa se ficar grande era responsabilidade de todos cumprir o ato, e quanto maior o Manto melhor. Depois deveríamos levar a manta para forrar a cama na qual fossemos nos deitar para ter a nossa primeira noite de amor após a cerimônia. Era tão importante que fizéssemos o coito após a cerimônia no Manto, que Benjamin e eu não podíamos nos ver 48 horas antes da cerimônia para que não fizéssemos o ato, pois desse modo quebraríamos a tradição e as energias sexuais gastas poderiam ocasionar no não uso da manta que era um presente de boa sorte, fertilidade principalmente às fêmeas, paixão e eternidade. Também era fundamental que entendêssemos o propósito do Manto Matrimonial era justamente ser usado todas as vezes em que o casal tivesse em crise para que o casal relembrasse de primeira noite após a União, e obrigatoriamente utilizado durante todos os meses em noite de lua cheia na qual também devíamos nos entregar um ao outro sob o manto, por conta disso não podíamos nos ver no período de 48 horas, pois acreditava-se que assim o manto armazenaria energia sexual durante a vida inteira. O Alfa da matilha, no caso Don, também tem de executar a caçada para a criação da Cobertura de Pele Ancestral, feita de pele de lobos selvagens que deve ser utilizada no dia da cerimônia, como forma de lembrar as origens. A Suprema-Alfa, no caso Pilar, deveria remediar a cerimônia como um todo, ela também nos daria um presente, uma runa marcada em nossa pele com ferro de prata quente em brasa, essa era a única parte que me assustava. Mas não era uma marca grande como as dos crimes, era menor, e ficava na palma da mão esquerda, eram dois ciclos perfeitos e pequenos, um acima do outro, representavam duas luas cheias, a forma circular e sua finitude. Não havia um apadrinhamento, todos ali eram testemunhos de um matrimónio.

 Nos dias que se seguiu, vi Benji poucas vezes em encontros rápidos, e agora na última semana ele estava ainda mais sumido, no último dia que o vi ele estava atarefado com alguns preparativos, coisas como tochas de fogo para enfeitar, ou até mesmo galhos secos para fazer o arco, por fim as cores que escolhi das flores eram amarelas e brancas e ficariam em vasos pequenos perto dos acentos brancos e retrátil. Embora eu não tivesse tão atarefado quanto eles, aproveitei para colocar minha vida em ordem, pedi demissão do meu atual trabalho. Quero que as coisas sejam diferentes depois de minha viagem de núpcias com Benji, talvez abrir algum negócio, já que a venda da empresa de minha mãe me ajudou na quitação de dívida do imóvel e me sobrou grande parte do dinheiro para gastar com o que eu quiser.

 Naquela manhã da última lua do mês eu acordei com um tremendo anseio. Eu havia ganhado um calendário de Pilar que marca os dias das luas, um calendário de lua, e naquela manhã, da última lua do mês eu acordei com um tremendo ar inseguro. Aquele seria o dia na qual criaria o meu elo eterno com Benji, e um certo nervosismo me invadia. Penso que tudo faz parte de um todo, até mesmo o sexo, dessa vez não tinha como escapar, fazia parte da tradição transar no Manto, em todas as noites de lua cheia, que tolice, mas isso já me deixava mais ansioso do que a cerimônia, depois da cerimônia iríamos viajar, e depois iríamos transar, era uma ansiedade atrás da outra, e horas eu me pegava pensando na viagem, eu nunca andei de jatinho particular anteriormente, nunca vi a neve. Benji já havia programado tudo, ele me disse antes de sumir por 48 horas. Eu queria saber como seria tudo antes de vivenciar tudo. Benji me explicou que já estava tudo certo que o Alfa de Porto de Alfazemas havia disponibilizado um lugar incrível e até mesmo um veículo para a nossa locomoção. Eu calculava o horário, a cerimônia começaria às seis da tarde no crepúsculo do anoitecer, logo depois seguiríamos três horas de viagem, e depois quarenta minutos de estrada, estaríamos no nosso destino em torno das dez horas creio eu, ficaríamos lá por duas semanas. Ao longo do dia Pilar e Cora vieram até minha casa, estavam tão ansiosas quanto eu. Cora me disse empolgada que o Manto havia ficado lindo com uma costura impecável que ela mesmo ajudou a confeccionar com Don, disseram-me que Benji estava muito ansioso e nervoso, estavam quase o sedando, elas riram a falar disso. Me confortou saber que eu não era o único prestes a enfartar de tanta ansiedade e com um grande nervosismo, saber que ele estava passando pelo mesmo anseio que eu, me deixava de certo modo mais confortável.

 Pilar e Cora me ajudaram com a roupa que eu deveria ir, nada muito honorífico ou gracioso, podia ser algo simples, me ajudaram com as malas da viagem, e Pilar disse que levaria para a casa dela em seu carro e de lá mesmo iríamos ao aeroporto da cidade onde o jatinho já estava a nossa espera o dia todo. Eu estava animado, mas penso que seria ótimo se eu tivesse pessoas, amigos de verdade que presenciassem minha felicidade, mesmo sabendo que humanos não podem saber a respeito dos Lobisomens eu queria ter ao menos a chance de experimentar falar de Benjamin a alguém, dizer sobre seus gracejos, sua beleza, fazer propagandas de seus beijos, suas carícias, e tudo que fazia dele incrível. Não podia negar mais a paixão iminente que me irradiava, eu estava condenado a amá-lo de qualquer forma, e sinto que já o amava, dentro de mim meu coração pulsava só de pensar em estar próximo dele. Eu não temia a sua selvageria, tampouco a sua bestialidade, todos nós temos nosso lado animal, o dele só é mais expressivo, mas não significa que não possa ser amado.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora