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 — Meu filho falou sobre você.. — disse ela andando em meu entorno — O que você é?

 — Eu não sou nada. — Respondi encolhendo os ombros novamente estranhando a pergunta.

 — Não me importa. Vou descobrir sozinha. Vigiarei você, e quanto aos meus meninos, cuidado... — disse ela com a voz doce, mas de modo soberbo — Eu não gosto muito de vê-los se sentir inúteis, ou amedrontados.

 — E você acha que o que eles fazem é certo?

 — E o que eles fazem? — falou num tom repreensivo parando em minha frente me olhando como um tigre selvagem — Eles são livres. E bom, as coisas aqui nessa cidade é assim, manda quem pode e o obedece quem tem juízo

 — Eu... Não tenho medo da sua família. — Falei apenas sem prevenção alguma, queria igualar a postura de poder, mesmo sabendo que eu não tinha nada.

 Ela riu.

 — Você é astuto, não é? E ingênuo, mas não tem essa posição aqui, não tem poder — ela segurou minhas bochechas com uma única mão apertando as com seus dedos finos — Eu sou o Alfa, e eu sou o Ômega dessa cidade. E eu gosto de ser respeitada.

 Me soltou, e caminhou com sua bunda em formato de abobora colada em seu vestido preto até a porta.

 Colocou suas mãos de dedos longos finos e nodulosos na maçaneta em formato oval e parou por alguns instantes de forma pensativa, virou apenas a cabeça de modo com que seu rosto ficasse parcialmente não visível.

 — Já que você não diz o que é, farei ao meu modo. — Deu uma pausa com um resmungo — Meu cartão de visitas está ali em cima da mesa, diz para sua mãe que foi um prazer conhece-la.

 Passou pela porta, pelo menos teve a decência de fechá-la. Minha mãe apareceu com panos na mão, estava nitidamente empolgada com um sorriso no rosto esperando reencontrar Pilar na cozinha de casa

 — Onde está ela?

 — Foi embora. — Falei congelado

 — Oh, mas nem se despediu. Creio que ela seja muito ocupada. Dá para acreditar? Pilar Laurenz na minha casa? — ela pegou o cartão de visita que Pilar deixara em cima da mesa sem mim a menos dizer que ela havia deixado o cartão ali.

 — É, realmente surpreendente — disse com os olhos vidrados na porta.

 — Ela me ofereceu a ser sua própria assistente e também a verba para empresa que Cassio e eu queremos tanto. Oh, eu nem sei o que fazer, estou tão...

 — Não deveria aceitar — falei a interrompendo.

 — Quê? Por que não? Seria ótimo, teríamos uma vida mais estável. Talvez uma casa mais decente.

 — Pois agora estou torcendo que possamos nos mudar, não vejo a hora. — disse subindo as escadas.

 No fundo eu sabia que a minha mãe não iria ir embora daquela cidade, a menos que seus planos dessem errado. Fiz uma pesquisa durante a noite. Uma não, varias, fiz várias buscas em sites e livros. Sensitivo, empata, espiritualista? merda eu nunca li tanta baboseira sem sentido. Eu não era nada daquilo, afinal nunca senti ou vi através das pessoas, nunca vi coisas de outro mundo, nunca presenciei fenómenos sobrenaturais e eu nem acreditava nisso.

 Naquela mesma noite adormeci entre uma pilha de livros, sem sucesso algum na minha busca. 

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora