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 Entramos na casa, Pilar havia pedido para que organizassem toda a bagunça, o chão estava limpo tão qual como o ambiente que segundo ela estava revirado quando se deparou com o corpo desfalecido de minha mãe em minha casa, os quadros estavam virados ao contrário para que eu não tivesse lembranças de minha mãe, um cuidado atencioso de sua parte. A polícia ainda investigava, dizia em notas que ainda em busca do assassino e não iriam descansar, imagino os policiais empolgados com o primeiro crime verdadeiro naquela cidade moribunda, mas nós já sabíamos quem era o responsável por aquele crime. Na enorme e espaçosa sala entrei e tudo ali me trazia a lembrança de minha mãe mesmo com os quadros recaídos e ao contrário, a poltrona verde musgo havia se mudado conosco e minha mãe gostava daquele acolchoado castigado e velho onde descansava por horas em meio a sua leitura inacabada da releitura de seu livro que lia e relia constantemente: O Alquimista. Em cima da mesa de canto o livro com a marca páginas visíveis entre as páginas amareladas, em cima do livro seus óculos gatinho preto de leitura. Caminhei em passos soturnos e toquei a poltrona enquanto Benji me vigiava de braços cruzados e encostado no batente do arco de madeira que dava entrada à sala, meus dedos correram na textura do tecido fazendo eu ter uma nostalgia, em seguida toquei o livro com as pontas dos dedos e meus olhos marejaram-se, tentei conter o choro. Foi um dia muito estranho, embora Benji e eu tivéssemos nos tido todo aquele afeto éramos como dois estranhos distintos o dia todo, não houve nada, apenas olhares de afeto, e agora eu sabia que ele estava em minhas costas me assistindo em um momento íntimo de minha tristeza e mal ele sabia que eu também pensava nele além da ausência de minha mãe. Me sentia sozinho, deixado, abandonado. A minha solidão embargava na ausência materna e amorosa naquele mesmo ambiente eu podia sentir um pouco dos dois, a frieza e olhar de Benji, e ausência de minha mãe. Olhei para Benji parado me assistindo e seus olhos estavam tão perdidos ele mal sabia o que fazer, estava tentando me confortar, mas também tentando me respeitar estando distante, ele passou o dia distante com olhos culposos e frios e eu não queria mais aquilo, o motivo de eu querer ficar em minha casa sozinho era esse, eu preferia que estivéssemos de fato longe, do que perto e longe. Joguei para o ar meu orgulho, as vezes orgulho de mais atrapalha de mais, dei alguns passos rápidos em sua direção e seu olhar se espantou, e rápido com um impacto contra seu corpo o abracei forte e de surpresa, ele rapidamente me envolveu em seus braços em um abraço cheio de afeto, aninhamento e carinho, onde suas mãos acariciaram os cabelos de minha nuca da mesma forma como fizera na cabana do bosque, com os dedos tocando nas raízes dos fios subindo e descendo simultaneamente, enquanto soluçava em seu abraços, em seguida ele afastou meu rosto de seu corpo e beijou minha testa, tão breve a ponta de meu nariz limpando as minhas lagrimas com o polegar, fiquei nas pontas dos pés onde lhe roubei novamente um beijo carinhoso como se aquele beijo fosse juntar todos os meu cacos quebrados do coração e ele correspondeu fazendo com que meus lábios tocasse o dele por um tempo enquanto eu ainda chorava e as lagrimas tornavam nossas bocas unida molhadas. Houve uma sequência de beijos apertos e carícias de sua parte como se ele estivesse louco para me acolher e cuidar de mim, e me senti acolhido como a criança que acolhe sua pelúcia favorita.

 — Por favor, não vai embora essa noite — murmurei baixinho me afagando em seu corpo.

 — Eu não pretendia de fato ir... — sussurrou ele.

 Naquela noite ele preparou o jantar, fez sopa de vegetais muito encorpada, o aroma irradiou a casa enquanto eu tentava distrair a cabeça com um desenho bobo após uma chuveirada. O meu corpo ainda se reaquecia, eu não fui à cozinha estava evitando as janelas abertas, que Benji deixara para que a casa não condensasse cortinas de fumaça e vapor. Benji entrou no quarto empurrando a porta sutilmente, em suas mãos uma tigela com a sopa quente soltando uma cortina de vapor quente, ele estava sem camisa, como se estivesse em um dia de calor, sua pele sempre estava no verão, se sentou ao meu lado e me entregou a tigela, eu não estava com fome, olhei com repulsa o liquido grosso e espesso com pedaços grandes de legumes.

 — Precisa comer um pouco — disse me ofertando a sopa novamente.

 Peguei a tigela e provei, estava de fato uma delícia, embora nítido que ele não soubesse cozinhar. Benji pegou meu caderno, onde eu fazia um esboço dele mesmo em sua forma bestial, observou com cuidado e apreço enquanto eu provava a sopa, eu estava surpreso, a aparência da sopa não parecia nada boa, mas o sabor era algo muito surpreendente, talvez ele tenha usado todos os temperos da cozinha. Ele disse: "Você desenha bem" Enquanto passava as pontas de seus dedos na folha sentindo os relevos sutis formados pelo grafite da lapiseira, eu apenas assenti com a cabeça. Naquela noite deitamos sob a mesma cama, ele me aquecia. Eu gostava do modo como ele me cercava e sentia a pulsação de suas correntes sanguíneas, o seu coração batendo contra mim, o seu cheiro, a textura de sua pele macia, em meio aos seus braços, num abraço apertado. Meus dedos novamente corriam os riscos côncavas de suas cicatrizes nas suas costas as lendo. Me sentia acolhido e protegido em sua presença. Eu o olhava enquanto ele mantinha os olhos fechados, seus cílios curvos, as sobrancelhas grossas, seus pelos da barba espessa. Tirei as mãos de suas costas, toquei seus ombros largos e depois seu rosto, senti a ponta de meus dedos nas pontas dos pelos de sua barba, corri com meus dedos até seu pescoço, toquei sua veia grossa da artéria que estava vultosa e pulsando lentamente, desci sentindo seus poros, toquei seu peito abrindo bem a mão sob o tapete de pelos marrons e finos ainda mais claros que os de sua barba. Eu estava lendo seu corpo, explorando cada traço de sua pele, cada um dos seus folículos de pelos corporais, cada um dos seus poros. Um certo nervosismo me invadiu, e decidi parar ao tocar em seu mamilo levemente protuso, engoli seco, meu corpo estava quente com o calor de sua pele e também por uma breve excitação.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora