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 Todos tratavam a cena com naturalidade, aquele homem precisava de um médico se possível.
 Os outros homens deram toques e sinais de olhares um ao outro, e saíram para fora da garagem. Cora correu para pegar um tecido qualquer, tentava limpar e conter o sangue do ferimento de Benji. O pano estava se encharcando, como uma esponja sugando a água, o tecido velho já gotejava o sangue de Benji no chão. Meus olhos ponderava a cena de modo assustado, eu já havia visto ferimentos profundos antes, mas não com frequência.

 — Ei, você! — disse Cora me olhando — Faça algo ajude aqui.

 Ajeito os meus ombros tortos, e me aproximo, olhando desassossegado. Então Benji é aquele monstro semelhante a um cão deformado? Era isso? Segurei o pano como ela ordenou e pressionei sob o ferimento, seu sangue era mais quente do que sua pele, e o tecido encharcado inundou minhas mãos e as falanges dos dedos, parecia que eu estava espremendo suco de amoras, notei na região de suas costas torneadas uma sequência de marcações em cicatrizes profundas, eram como marcas de açoites antigos. Cora deixou o local indo buscar novos curativos atrás da porta que levava para algum lugar além do balcão.

 Evitava o olhar direto e com muita precisão o ferimento, e tentava relaxar a minha tensão, sentindo seu sangue quente já escorrer pelo meu braço, me agarrei a primeira forma de pensamento que se passara pela minha mente.

 — Vai ter uma nova cicatriz. — Balbuciei já me arrependendo do dito

 — Não, não vou — respondeu pacificamente —. Pela profundidade de ferimento talvez em 48 ou 72 horas vai sumir, é só uma questão de tempo, a cicatrização é mais rápida, mas não instantâneas como nas noites de lua cheia.

 Engoli seco, de modo com que não podia contestar, senti o medo invadir meu âmago de modo com que pensei que deveria argumentar a respeito de toda aquela situação. Em minha garganta o medo pairava de modo noduloso me causando uma secura interna.

 — Escuta, eu não sei o que você é, e não quero saber. Eu quero que você e sua mãe deixe minha mãe em paz — falei grosseiramente aproveitando o momento — e quero que você e seu clube parem de me perseguir.

 — Sabe o que é Adriel? — deu uma pausa e um resmungo — Não vai acontecer.

 Benji me lançou um olhar feio através dos cílios castanhos e curvados. Apertei propositalmente sua ferida como forma de vingança por não ter dito algo que eu queria ouvir, e ele me fitou novamente, dessa vez apertando as sobrancelhas grossas, rosnando e mostrando os dentes brancos e retos, enrugou o nariz grande. Tive um pouco de medo de sua expressão, mas não soltei o pano sob o rasgo de sua pele.

 — Eu posso ajudar você, posso fazer seu curativo, e também posso dizer quem é o traidor...

 Sua expressão mudou sutilmente para uma na qual suas sobrancelhas se ergueram, como se duvidasse de mim. Nos encaramos por cinco segundos em silencio, engoli os lábios de modo pensativo.

 — Eu vi quem contou sobre mim quando toquei no braço daquele tal de Sam, e também parei no 6º semestre da faculdade de medicina veterinária. Sei bem tratar um cachorro — apertei novamente o ferimento vendo sangue jorrar e escorrer de seu ombro.

 Ele apertou os lábios me olhando com dor por eu ter feito aquilo, eu estava o subestimando.

 — Para com isso! — Ordenou

 — Ou o que? Vai me morder? — falei o provocando.

 Ele fez uma careta rápida com olhos de ódio sobre mim.

 — Temos um acordo?

 — Não. — Falou irredutível — E nem pense em apertar o meu machucado de novo, não vai querer me ver zangado.

 Meu temor se dissipou, passei a ver aquela situação como algo divertido, então apertei mais forte dessa vez irritado, ele segurou meu braço com força me arrostando, olho no olho.

 — Escuta, eu estou faminto, e eu te salvei hoje, eu não estaria machucado se não fosse por você — disse mordendo os dentes de ódio — Então não me irrita, eu não estou com um pingo de paciência para birrinhas adolescentes.

 — Já sou adulto.

 — Então se comporte como um. Graças a mim e aos homens do clube te observando salvei sua vida. Você quem está em risco aqui, não eu.

 — Mas essa merda só começou por sua causa. — Gani baixo sentindo uma insegurança interna

 — Não faz diferença. A questão aqui é que ainda não sabemos que merda você é, e vai por mim, minha mãe está cuidando tanto de você quanto de sua mãe, estão tendo uma vida boa, protegida. Tem que ser mais grato...

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora