Página 35 - Lobo Mal XI

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 Me deitei silenciosamente encolhido, mas meu corpo não aquecia, mesmo que tivesse minha blusa devia fazer uns três graus para menos. Meus dentes batiam de forma involuntária e eu tentava conter que meu corpo reagisse ao frio, mas sentia minhas mãos congelarem, assim como meu nariz rubrico de tanto frio. Fechei os olhos por longos segundos tentando afirmar para mim mesmo que o frio era psicológico, mas logo uma inquietude me tomou conta, nenhuma posição era boa naquele sofá velho e fedido. O vento cortante do lado de fora da cabana uivava, e cada rajada de vento mais frio eu sentia, meu ar quente começou a evaporar fazendo cortininhas de fumaça respiratória. Olhei para Benji que estava ainda descamisado encostado na parede de tronco com a pasta que dizia possivelmente a meu respeito notei seu corpo e os cabelos já secos, enquanto ele folheava a pasta cautelosamente.

  — Você não sente frio? — sussurrei me tremendo

  — Bem pouco — respondeu, me lançou um olhar melindrado e relutante, mas balbuciou depois de alguns segundos — Deixa eu aquecer você.

Não era uma pergunta, notei pelo tom de sua fala, ele caminhou até mim, se deitou ao meu lado na pequena mobilha, em seguida me abraçou como um urso. Fiquei desconfortável para me ajeitar e ele também, então nos entreolhamos apenas uma vez em nossos desconfortos olhares, eu ainda me tremia em seus braços quentes, me aconcheguei mais o abraçando, senti minha mão tocar a textura de suas costas e suas marcas de cicatrizes profundas onde corri com os dedos, elas formavam X e cruzes em suas cavidades mais profunda na pele danificada, estava um silêncio e estávamos envergonhados daquela situação, mas decidi quebrar o silêncio:

— Doeu muito quando lhe fizeram isso?

— Sim — respondeu imediatamente.

— E por que fizeram?

— Por que foi a punição que tomei por quebrar a Lei.

— Minha mãe, foi morta hoje... — sussurrei com a cabeça afagada em seu pescoço taludo.

— Meus pêsames — respondeu ele. Mas essa não era a resposta que eu queria, mas senti que não podia cobrar dele um pouco mais de empatia, por isso me silenciei

Eu estava exaurido daquela situação toda, mas não quis chorar, mesmo já sentindo meu nariz inundar se de lagrimas e fungadas, Benji me apertou ainda mais em seus braços fortes, e afagou minha nuca com seus dedos entrando entre meus cabelos. Também o apertei em seu corpo quente feito um cobertor, e em seus braços serenei.

Despertamos em um sobressalto, Benji também havia pego no sono, batidas estrondosas na porta ecoou, e não só isso, uma chuva incessante e barulhenta despencava do lado de fora, já do lado de dentro goteiras se formavam causando um som irritante de gotas batendo na madeira, como gotas quando caem da torneira na pia ou no chão. Benji se levantou me olhando assustado e coçando os olhos, algumas das duas lamparinas já não estavam em seus funcionamentos e dentro da cabana se instalava um breu noturno, eu o olhei com os olhos ainda mais surpresos e a voz de Cora soou do lado de fora. 

— Benjamin, porra abre logo

— Cora? — ele sussurrou me olhando confuso e encolhi os ombros.

Ele olhou entre as frestas das madeiras de troncos crus em seguida puxou a madeira que emperrava a abertura da porta e abriu a mesma. Cora estava toda molhada, os cabelos soltos com a blusa de frio fina suja de lama e rasgada, tão qual sua calça de pés descalços, cheios de lama e terra. Ela entrou rapidamente empurrando o Benji.

— Vamos entregar o garoto!

— O quê? Não, minha mãe disse para protegê-lo

Ela me puxou pelo braço me arrastando, tentei relutar a empurrando, mas em seguida Benji impediu sua passagem.

— O garoto fica! — disse Benji de cara feia batendo pé.

— Me escuta: eu sei... Não vamos ter tempo eles já estão aqui.

— Trouxe eles aqui? — perguntou e ela não o respondeu, Benji avançou em cima de Cora a lançando contra a parede com a mão em seu pescoço e rosnando de voz forte — Trouxe eles! Traiu a sua Matilha.

— Eu não tive outra chance — disse ela em pânico ao ser lançada para longe de mim — Eles iam matar Don. Por favor entregue o garoto, Clay disse que não vai matá-lo, mas quer levá-lo, ele quer tentar marcar o garoto, deixa ele fazer isso logo e acaba com essa merda toda, sabemos qual é o resultado.

—Filha da puta! — disse Benji irado

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora