Página 28 - Mudança VIII

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 A casa em si era enorme, aconchegante, térreo, não havia andar de cima, bem ampla, ficava num pequeno bairro chamado a Alvorada, esse bairro em si tinha as casas distantes uma da outra, barraquinhas mercantis de verduras na estrada de terra batida, havia bastante arvores em seu entorno oque não me confortava de certo modo, mas houve uma vez em que eu e minha mãe moramos em um sítio sinistro. Aqui não era um sítio, mas nitidamente uma casa de campo, havia cômodos espaçosos com pisos de madeira envernizadas e lustrosas, até mesmo uma lareira e banheira de mármore no banheiro o que me era uma grande surpresa. Embora afastada tinha um bom acesso e sinais de internet, ficava um pouco longe do meu local de trabalho, quanto o da minha mãe ela não se preocupava com a distância por ter um veículo para sua locomoção, no meu caso os ônibus aqui tinham facilidade a acessibilidades. A imobiliária manteve a casa limpa e em bom estado, não havia nada ali que interferisse no meu ponto de vista embora minha opinião não fosse do interesse de minha mãe. Geralmente eu a acompanhava antes de nossas mudanças, ela sempre me apresentava o local queiramos morar com certa antecedência, e caso eu discordasse ela iria discordar de minha discordância. Ela ficou nitidamente encantada com a casa, nunca moramos em uma casa grande, sempre vivíamos em casas pequenas, cubículos, hotéis, pousadas, condomínios ou apartamentos mequetrefes. Para mim a casa tinha todas as coisas inúteis da qual minha mãe não se importaria, ela não cuidaria do jardim de flores, ela achou lindo, mas as plantas de certo morreriam entre um ou dois meses já que ela não era o tipo de pessoa que se importava de fato com os cuidados de um jardim, ou a lareira que seria como um enfeite pois ela não cortaria lenha e nem compraria a mesma. Sim, a casa era linda, mas para minha mãe aquilo era algo para sua grandeza de futilidade pessoal incontestável de minha parte. Eu apenas concordei que a casa era linda, um sonho, mesmo sabendo que aquela casa não estaria em bons cuidados estando nas mãos de minha mãe. Havia moveis belos na casa, já montados, faltava apenas algumas coisas, mas a casa em si já estava completa. Havia tanta janelas que já podia imaginar as mesmas ficando embaçadas por uma gordura de sujeira e pó impregnados, não que minha mãe fosse uma mulher porca, mas ela não teria tempo para limpar as janelas cotidianamente, ainda mais os vidros retangulares da grande área ao fundo que eram do tamanho da enorme parede de madeira, a não ser que ela contrate uma boa empregada e um jardineiro, o que eu duvido muito que ela faria, afinal ela não teria tanto dinheiro assim logo de início mesmo que agora estivesse com uma vida financeira um pouco melhor que antes. Talvez ela não entendesse que não podemos ter mais do que somos responsáveis de arcar.

 No meu interno a felicidade de minha mãe era algo da qual me confortava, eu não queria impor minhas ideias realistas sobre como seria difícil de viver naquele lugar, seria nossa primeira morada de qualidade e eu também já me imaginava no divã da sala repousando de frente para a lareira.

 — Vamos comprar a casa — disse ela ao homem da imobiliária.

 — Ah, que incrível dona Renata, a senhora vai ver que é uma boa aquisição sua e para seu filho, até mesmo para o futuro dele. Logo esse bairro será valorizado, a prefeitura está pensando na criação de um parque verdejante há alguns quilômetros daqui. — Disse o rapaz desconhecido da imobiliária

 — Mãe? Você... Disse comprar? Digo, não íamos alugar?

 — Na verdade Adriel, eu acho que está na hora de termos algo nosso. Então peguei um empréstimo é claro que Pilar me ajudou há alguns dias atrás. E bom, a empresa já dá bons lucros, não tem como dar errado. 

 Senti uma angustia invadir meu peito, era como se tivesse sido apunhalado. Eu podia ter minha própria vida e não viver com minha mãe, embora eu soubesse que seria difícil viver sozinho, tínhamos uma relação semelhante à de alguns parasitas que uma vez estudei na faculdade, simbiótica, na qual eu podia conviver com ela sem prejudicar ela e versa, mesmo que tenhamos uma relação difícil eu a considero uma mãe amiga, e gostava da nossa vida movimentada, gostava do fato de não criar raízes em determinados locais. Engoli seco sentindo meus ombros murcharem, meus olhos ficaram um tanto inundados, mas disfarcei andando pela casa enquanto ela conversava com o Corretor de Imobiliária. Pensei que fossemos ficar aqui talvez por um ano ou dois como quando moramos em uma casa de praia, mas essa expectativa era muito idiota de minha parte, claro, minha mãe já estava quase beirando aos sessenta anos, era tão óbvio que seu retorno a sua cidade natal significava um descanso de sua vida profissional, ainda mais agora com todo esse apoio financeiro que ela recebeu, não há razões para ela não querer desfrutar de tudo isso. Creio que parte da lagrima que transbordou sem querer não era tristeza em si, mas uma felicidade de saber que agora depois de anos teríamos uma vida totalmente estável e eu não estava preparado para essa vida estável, era algo que sempre quis quando mais novo, até mesmo na última cidade que moramos durante 5 anos. Quando pequeno eu me apegava aos amigos, as pessoas, ao lugar e não queria que fossemos embora, queria uma vida estável, mas ao longo dos anos acostumei aos recomeços, as dificuldades em escolas diferentes. Tive oportunidades brilhantes, mas aqui não há nada nessa cidade, é uma pequena cidade pacata sem oportunidades boas como a minha bolsa facultativa esquecida e abandonada. Saber que íamos morar ali me fez pensar que eu devia me rearranjar, mas como? Com aquela ideia louca de lobisomens e criaturas monstruosas me perseguindo. A insegurança me invadia no mesmo tanto que a tristeza e a felicidade, em momentos eram tantas emoções dentro de mim que eu já não sabia mais o que eu estava sentindo.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora