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 Engoli seco, estava morrendo de medo, mas Benji largou Cora e voltou-se contra mim, pegou meu braço, pensei que ele fosse me arrastar para fora, mas ele arregaçou a manga da minha blusa, e rapidamente feroz mordeu meu pulso. Dei um berro assustado.

 — Isso! — exclamou ela. — É melhor assim, vai ser melhor assim Benji.

 Tentei empurrar Benji, mas ele segurou minha outra mão e rosnou me olhando com os olhos de modo selvagens em um brilhante caramelo amarelado, mordeu novamente com os caninos sobressaltados como quando se era um lobisomem, senti os dentes de sua boca dilacerar a carne da pele do meu pulso e ele ganiu um gemido enquanto mordia novamente. Cora olhava a cena de modo sucinto, e eu em pânico tentava o tirar, mas a dor de seu dente carcomendo minha pele era maior, em seguida ele trocou as mordidas por lambidas incessantes enquanto segurava meus braços, eu fiquei em choque não tive uma reação se quer a mais, não tive forças para me debater quanto as mordidas, conforme sua língua passava em minha pele o sangue e a dor também passava sumindo, assim como o corte que ia se fechando, as lambidas eram babadas, longas e rápidas com o grunhir de um cão choramingando. Depois da constante sequência de mordidas e lambidas ele ergueu a cabeça limpando os lábios lambuzados e as feridas haviam sumido.

 — Que bom que deu certo — disse arfando em alivio e eu o olhava sem entender — Seu sangue, é tão bom que quase não consegui parar — falou surpreso enquanto eu olhava para meu pulso já curado

 Cora avançou em cima de Benji o empurrando de modo irritado, do nada ela se transformou em um poço de ódio, como se tudo tivesse dado errado, e eu sem entender nada me mantive parado, pensando que agora eu seria um monstro como eles.

 — Filho da puta o que você fez! Merda, por quê?!

 Benji olhou feio para ela e disse com brandura:

 — Agora ele é meu.

 — Vou virar um lobisomem?! — falei em pânico.

 — Você marcou o garoto e ele está vivo, você... Não, Benji, sabe o que isso significa. — disse ela arrasada. — Esse menino aguentou a mordida...

 Ele a olhou friamente. O olhar dela esmoreceu, seus lábios estremeceram em tristeza, notei que aquele seu desespero ia muito além, por esse motivo entrei em pânico, sem saber o que estava de fato acontecendo, minha pergunta não foi respondida, mas eu já estava esperando o pior. Dois homens engravatados chegaram no exato momento que eu faria uma abordagem para que me falassem o que os dois fizeram, mas me assustei, eram grandes feito dois armários, Benji tentou relutar a todo custo, mas foi segurado com as mãos para trás e colocado de joelhos. Cora gritava para que sessassem e não o fizesse mal, corri para a saída e um terceiro homem me pegou, me içando com o braço na região de minha barriga, tirando meus pés do chão e me lançando ao ar e para trás, me equilibrei em passos tortos após ser levemente lançado, para não cair. Esse mesmo homem demeia idade caminhou, elegantemente em passos curtos usando seu enorme guarda-chuvas retraídos como uma bengala de apoio, havia em seus ombros poucas gotículas de água, os cabelos eram vermelhos como fogo com fios de brancos entre os mesmos, e os olhos azuis tão vibrantes como os céus em dias ensolarados de verão, tinha um nariz pontudo e grande e queixo sugestivo com uma pequena fenda no meio. Olhou para mim em negação, estalou a língua com ar de reprovação e depois voltou o olhar a Benji, mas em seguida segurou meu queixo me analisando.

 — Eu odeio quando meus planos saem fora do eixo. Ah, funcionou, não é? Marcou o garoto... Eu tinha grandes planos para nós garoto — Deu uma pausa e respirou fundo aproximando seu nariz de meu pescoço — Mas com cheiro de outro em você? Nããão, não, não! — gritou ele fazendo com que eu estremecesse seu chilique raivoso de floreios teatrais.

 — Deixa ele em paz! — relutou Benji tentando se levantar.

 Clayton deu uma gargalhada. E o encarou.

 — O garoto do mato apaixonado pelo demônio. Parece até um conto de fadas. — Debochou Clayton em seguida ergueu minha cabeça me segurando o queixo — Que desperdiço, nós dois seríamos uma dupla incrível.

 Escarrei em seu rosto, uma cusparada de saliva, Clayton virou o rosto em reflexo, passando a ponta de seus dedos na saliva densa que escorria de suas bochechas, ficou extremamente fora de si, era nítido em sua expressão de revolta, me acertou o golpe na cabeça por minha ousadia, uma vertigem forte, escutei uma nova relutância de Benji e também de Cora antes de apagar ao cair no chão desacordado.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora