Pagina 48 - Julgamento XVI

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 Era de tarde, Pilar e eu estávamos no saguão da Ordem da Lua, Benji estava presente, havia um palco, um púlpito. Era o primeiro dia de julgamentos de traição. Havia alguns Alfas e respectivamente seus delinquentes senhores, os lobisomens mais agressivos como Aurélio que foi capturado pelos Coiotes estavam algemados com prata. Eu o olhava friamente enquanto aguardava seu julgamento com uma certa sede de vingança. Pilar começou com os casos mais leves de traição de forma organizada, chamava primeiro uma Matilha e depois a outra e entre os condenados que ficavam enfileirados a frente do púlpito estava Cora e Rene, ambos que eu conhecia, mas antes deles havia outros de outras Matilhas e de outros Alfas a serem punidos, alguns foram punidos ali mesmo com marcas feita com prata aquecida em uma caldeira pequena de brasa, outros teve um dia especifico para que suas penalidades fossem aplicadas perante a Matilha, em noites de lua minguante, ou crescente, descobri que cada lua influenciava-os de certa maneira, as punições eram um tanto barbaras, finalmente Pilar chegou em Cora e Rene, onde eu estava curioso para saber o que cometeram.

 — Vamos aos julgamentos prestados da Matilha de Aurora do Norte, os Coiotes, representado por Donatelli Laurenz — deu uma pausa e todos se silenciaram — Estamos nos atos mais leves do livro da Ordem da Lua. Cora Cortez, foi indiciada pelo crime de traição à lealdade referente ao Alfa de Aurora do Norte, onde cometeu o ato de desobediência ao entregar o indivíduo Benjamin Laurenz e Adriel Kennet que corriam sérios riscos e deviam ser veemente protegidos. Cora está atualmente gravida de 3 meses.

 Todos se voltaram a ela com espanto, aquilo era uma dádiva, inclusive eu estava com uma tamanha surpresa. Don a olhou boquiaberto, ele não esperava que Pilar fosse dizer isso, de certo Cora não contou a ninguém mesmo que eles pudessem perceber, as vezes não usavam seus sentidos aguçados para saber da vida alheia.

 — Não corresponderá ao exilo pelo seu ato, mas cera punida com a runa de prata como forma de sua quebra perante a lealdade.

 — Mãe por favor não — disse Don em espanto e Pilar o olhou com olhos que o fizeram calar-se e abaixar a guarda.

 Cora o olhou com os olhos chorosos, dois homens subiram no púlpito com uma lata com carvão em brasa, de lá Pilar retirou um ferro quente feito de prata e Cora caminhou para frente do púlpito e se ajoelhou diante de Pilar e de todos.

 — Sinto muito querida. — disse Pilar com olhos piedosos.

 — É a lei, não é? — falou Cora com brandura.

 Em seguida ela ergueu a manga da blusa exibindo seus bíceps magros e ali o ferro quente foi encostado, ela até tentou conter a dor, mas não conseguiu deu um breve grito doloroso de sua nova marca na pele, um ciclo com uma linha no meio, uma lua cheia partida ao centro, eu já havia visto outros sendo carimbados com esse ferro de prata quente em brasa, há várias marcas como essa e cada uma delas significa algum delito, esse era a runa por ser desleal. Em seguida Cora se levantou e Don a abraçou e ela choramingou em seus braços.

 — Finalizo o Caso de Cora como sentenciado a Deslealdade Dolosa quando o indivíduo trai a matilha com a consciência e consequência de seus atos, tendo a intenção de causar algum problema ou conflito — Acrescentou Pilar — Cora não ficará exilada, como dito anteriormente em recorrência de sua gravidez.

 Houve um enorme silêncio, Pilar devolveu o ferro a brasa quente na caldeira de ferro.

 — Rene Almeida — disse ela e Rene deu um passo — Sentenciado ao crime de quebra de Deslealdade Culposa quando não há intensão de trair a matilha. Deve cumprir sua pena em exilo em liberdade da Matilha durante 15 meses, sendo sujeito a ausência de proteção da mesma e prestando serviços ao Alfa local se assim ele desejar, nesse período estar veemente proibido a presença nas comemorações lunares, caçadas ou qualquer outro evento, e qualquer ato ou crime cometido nesse período pode ocasionar o exilo intermitente. Em consequência da traição onde o culpado não teve a intenção de ser desleal, não será marcado por runa de prata.

 Rene se aproximou, ele não foi carimbado, apenas assinou o protocolo de sua ficha criminal num livro negro no púlpito. E assim se seguiu, houve outros crimes de outros indivíduos presentes da Matilha, inclusive do Sam que era um dos Corredores, uma Matilha extinta, que recebeu o carimbo e vai passar metade do seu exilo em custodia e a outra metade em liberdade. Ali entendi que cora podia ser condenada de uma forma pior, embora eu, particularmente não achasse justo que ela fosse punida, afinal ela estava em perigo e a perdoei. Entendi que a lealdade em si estava a cima de qualquer coisa, de qualquer coisa mesmo, uma vez que jurar lealdade ao Alfa em situações de ameaças ou perigo deve cumprir mesmo que essa ameaça parta de um Supremo-Alfa invalidado que era o caso de Clayton, ele não era a voz majoritária e maioral por não ter sido eleito da forma democrática ou até mesmo da forma autoritária perante a existência de uma força maior como o caso de Pilar. Eu estava presente por pura curiosidade e não só isso queria ver Aurélio que foi sentenciado à morte, além de ter recebido quatro runas de prata quente em sua pele, quatro runas criminais, uma de traição, outra de assassino que era um triangulo, e a terceira um ciclo sem divisas ao meio na palma da mão que significava mortes de inocentes por decorrência do próprio prazer, e a quarta um meio ciclo que simbolizava a criação de lobos Betas sem a permissão do Supremo-Alfa, ele não podia escolher os locais onde seria carimbado, não tinha esse deleite e ninguém exceto as mulheres tinha esse direito, por esse motivo devia ser marcado em áreas visíveis sendo que uma dessas runas foi feita em seu pescoço. Ele ficaria preso na base militar até o dia de sua execução por enforcamento, e eu nem sabia que existia uma base militar para lobisomens.

 Aquele julgamento me confortou, de alguma forma ele seria punido, podia não ser pelas leis humanas, mas ainda sim eram leis. Ele ainda sim pagaria por seus crimes. Parte de mim, ainda mais humana não conseguia sentir-se feliz, eu jamais desejaria de fato a morte de alguém. Ao término de todos os julgamentos e punições Pilar anunciou aos Alfas presentes a cerimônia de União que seria em breve e pediu aos Alfas que informassem os outros Alfas, antes que ela finalizasse. Após o término da audiência os olhos de Benji me encararem com brandura ele se retirou do saguão de modo incomodado. Eu rapidamente deixei o local também incomodado, mas não com o fato de Pilar fazer o anúncio e sim com a indiferença e frieza de Benji que já perdurava a semanas sem qualquer motivo aparente. Ele caminhava pelo corredor rumo ao elevador quando o icei pelo braço de uma forma revoltante, ele se virou e me olhou fulo da vida.

 — Qual o seu problema? — Perguntei e ele sequer se esforçou para responder — Quer que os outros percebam? Droga!

 — Conversamos em casa. Aqui não. — falou ele pacificamente.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora