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 Demorei a entender que queria um momento romântico, e podia dizer que aquele era um encontro romântico, e já nos rendíamos as todas as características do romantismo. Já estávamos confortáveis na presença um do outro, talvez as taças de vinho tenham ajudado nesse quesito. Não éramos somente um casal aquela noite, não, estávamos deixando a aura amigável tomar conta do cenário dando boas risadas sobre coisas bobas, nos conhecendo um pouco. O som tocava em música ambiente e baixa, a lareira aquecia o cômodo e lá fora já era possível notar uma ventania sucinta, talvez uma chuva a caminho. Estávamos sentados no sofá, sentados não, largados. Segurando nossas taças vazias com a preguiça de ir buscar mais vinho, se é que tinha mais, eu olhava a borda reforçada da taça deslizando o dedo sobre a mesma ponderando-a sem nada em mente, apenas escutando a música, ouvindo o estalido da madeira queimando na lareira. Benji deu um sobressalto se levantando, colocou sua taça na mesa de centro e me estendeu a mão.

 — O quê? — pergunto confuso.

 — Estou lhe convidando.

 Segurei sua mão de modo confuso e ele usou a outra mão para puxar meu braço num solavanco. E após ser içado grudei em seu peito, assustado com a taça entre os dedos segurando as pelas hastes de vidro. Ele me abraçou e tirou a taça de minha mão a colocando-a ao lado da sua na mesa de canto.

 — O que estamos fazendo?

 — Vamos dançar essa música.

 O empurrei sutilmente negando com a cabeça.

 — Não, não, não — dei um riso envergonhado — Não sei dançar.

 — E quem falou que eu sei? — perguntou com um sorriso convidativo.

 Novamente ele me puxou, e eu me encostei em seu peito com a cabeça me aconchegando, ele colocou suas mãos em minhas costas entorno de meu tronco e em seguida fiz o mesmo o abraçando e embalados em passos lentos, e balanços de corpos sutis no ritmo da música lenta que ecoava pela casa. Eu podia ficar ali durante a noite toda, minha mente estava um tanto turva, mas eu não estava totalmente bêbado, somente com uma leve confusa visão que me fez fechar os olhos, sentir novamente seu coração contra mim, sentir seu cheiro perfumado. Ficamos ali durante um longo tempo, logo já tocava outra música e eu ainda me repousava sobre ele de forma pensativa, em passos lentos e gostosos pelo cômodo largo e espaçoso.

 — Minha mãe nos presenteou com uma Lua de Mel, disse para eu escolher o lugar e a hospedagem — falou ele calmamente.

 Eu gostava desse tom de sua voz, era bom ouvir ela assim, baixa amansada vazando de seu peito, mas me espantei.

 — Lua de Mel? — Falei o olhando surpreso

 — É — disse ele — ela acredita que seria ótimo relaxarmos um pouco. Queria que você me ajudasse a escolher o local, tenho três lugares em mente...

 — Quais são as opções? — falei me aconchegando em seu peito novamente.

 — Serra Canastra, fica em Olivia. Perto da praia, é uma área verde, bastante mata fechada, tem cachoeiras incríveis, mas de certo estará frio pois será no fim do outono.

 — As outras duas?

 — Lagoa Verde, fica em Porto de Alfazemas. E podemos ir até o porto que é um lugar com incríveis piscinas naturais aquecidas. Mas lá o inverno é extremamente rigoroso e neva, tem uma vista linda, bastante montanhas cobertas de neves, rios, área pastoril, floresta de pinheiros... A última é o próprio Porto de Alfazemas, mas acredito que dá para ir nos dois lugares numa viagem só.

 — Uma viagem dupla? Neve? E águas quentes? Já escolhemos nosso destino — falei me afastando para o olhar.

 — Pensei que não iria gostar da ideia de fazermos uma Lua de Mel.

 — Estou tentando levar a sério — falei baixinho.

 — Certo — tossiu um riso. Houve uma longa pausa e um longo silêncio — eu gosto de você — balbuciou.

 — Eu também gosto de você. — Sussurrei

 Era verdade eu gostava dele, por mais que eu tentasse relutar ele me fazia bem, tão bem que só o fato de estarmos perto me tornava feliz. Eu nunca havia me apaixonado antes e agora eu até me sentia estranhamente diferente, era como se eu tivesse sendo notado, como se em toda minha vida eu fosse tomado por uma invisibilidade na qual agora não funcionava. Não havia nada em Benji que eu detestasse, exceto sua impulsividade, e até mesmo sua impulsividade era amável, tão qual como seu silêncio incomodativo quando ele estava frustrado consigo mesmo, tentando fugir ou se esconder. Eu observava a chama consumir a lenha da lareira enquanto escutava a música pensando em como seria o dia em que faríamos a cerimônia da União, não demoraria pelo visto, seria breve. Eu tinha dúvidas a ser sanadas, mas não queria tornar aquele momento um questionário, agora eu estava amando seu silêncio enquanto escutava o som das batidas incessantes de seu coração, juntamente com o seu respirar em um abraço de balanços leves. Bebemos mais um pouco de vinho e logo fomos atingidos por crises de risos e claro alguns beijos e nada mais além de um tremendo sono. Logo pela manhã seu corpo permanecia adormecido ao meu lado, não lembro de ter dormido descamisado, tão qual como ele que estava seminu, eu sabia que não havia acontecido nada, embora eu estivesse bêbado e com leve rodopios visionais, eu não havia perdido a consciência, não aponto de transar pela primeira vez bêbado, uma vez que eu queria lembrar de minha primeira transa ainda mais se fosse com Benji, e de fato seria, presumo que eu tenha tirado a camisa apenas para sentir ainda mais seu corpo encostado no meu, como agora sentia, e era tão gostoso o contato de sua pele quase que totalmente nua com a minha. De certo modo eu saberia se tivéssemos feito algo, meu corpo acordaria com marcas de sua pegada forte contra minha pele, talvez até mesmo dolorido e pensar nisso me faz temer um pouco, mas tenho certeza que Benji não seria do tipo bruto comigo, bom pelo menos eu espero. Fiz a ele um bom café da manhã e dessa vez nada de surpreendente, ele já havia provado omeletes antes, mas ainda sim quis mais das sobras da torta de limão na qual já acordou falando sobre a tal Torta de Limão. E depois do café nos arrumamos, pois ambos perambulamos pela casa com nossas roupas intimas por tempo de mais.

 Deitei no sofá com a cabeça em seu colo.

 — Como é a cerimônia de casamento?

 — A União? Bom... Logo vamos dar início aos preparativos. É como um pacto. Eu te mordi provei seu sangue, então você deve provar do meu, assim o nosso elo fica ainda mais forte.

 — E o que muda?

 — Que você poderá saber tudo, me sentir mesmo muito longe, e todas as noites na qual eu uivar e saudar a lua também saudarei você e escutará meus uivos, mesmo longe, como um eco mental. Seus instintos serão como os meus. É uma ligação de almas.

 — E onde será?

 — Estou pensando, estava pensando, a cerimônia é algo simples. No gramado de casa ou em uma clareira no bosque ...

 — Parece legal.

 — Quero flores para enfeitar, nada de folhas secas, mas será difícil achar no outono. — Disse ele — Será na última lua cheia desse mês, durante o anoitecer. Temos muito o que resolver ainda. Por favor não deixe de opinar a respeito de tudo... quero que seja bom para você.

 — Eu nem sei no que opinar para falar a verdade.

 — Olha não é nada muito formal, mas é festivo. — disse ele me alertando — Vestimos as coberturas de Peles Ancestrais sobre os ombros como manda a tradição. Trocamos votos de fidelidades, finalizamos o pacto de sangue, certamente deverei ir Saudar a Lua... Depois o sexo que deve ser consumado no Ninho ou Manto Matrimonial. — Acrescentou ele — Mas fique tranquilo, você irá dar conta de tudo.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora