Página 44 - Entregas de Lealdade XIV

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 Pela manhã, Benji não estava ao meu lado na cama, mas ele havia me coberto com dois cobertores quentinhos e macios que deva ter pego no baú de cobertores no quarto de minha mãe. Era cedo, bem cedo. Lembro que nos primeiros dias após me mudar para Aurora do Norte tive dificuldade para me adaptar em questões de horário, mas logo fiquei habituado como todos da cidade a acordar cedo, as vezes antes do dia iniciar o dia. O clima estava bem gelado e seco, mas consegui sair da coberta, entretanto quase não saí do banho de água quente pela manhã. Provavelmente Benji havia partido, ido para sua casa, não havia me deixado nada, nem um bilhete, mas por que eu esperava isso dele? Eu não sei. Talvez ele devesse ao menos demonstrar compaixão pelo seu futuro marido. Um riso disso, "futuro marido" parece um termo engraçado, mas extremamente bizarro, eu espero de fato que tudo isso não se concretize, e se sim o que os lobisomens fazem em seguida? Como seria a Cerimônia da União?

 Ah, claro, lobisomens não tem problemas com a sexualidade como humanos tem, Benji me disse no dia em que comíamos lanches na rua após o treino no galpão abandonado que sexo era sexo, não importava qual sexo, e procriar não era mais uma obrigatoriedade entre eles. São movidos por instintos e vontades, principalmente as vontades sexuais que são de certo modo exacerbada, do modo com que querem e buscam prazeres constantes, principalmente no inverno, segundo ele. Não quero imaginar como será o inverno verdadeiro daqui alguns meses, os primeiros dias de outono está tão frio quanto o próprio inverno, presumo que eu precise de Benji no inverno, mas somente para que ele me aqueça, entretanto se de fato casarmos eu quem terei de aquecê-lo aos outros modos. Espero que isso não aconteça, na verdade eu não sei, talvez seja divertido. Eu tenho um certo medo em pensar na palavra não, geralmente o universo retrógrado faz com que o não se torne um tremendo sim, então eu não sei o que pensar, não pensar em nada é difícil. Mas não estou a favor de que ele seja punido por minha causa, mas caso seja uma punição leve então recusarei o pedido de casamento, podemos rever isso mais à frente. Me pergunto se esse é o motivo dele também ter me beijado, será que ele já está afofando o terreno como os cães que fazem ninhos de panos para um cochilo sossegado em suas casinhas? Ou será que ele está realmente a fim de mim, me vendo como o vejo? Com aquela tensão sexual e excitação constante somente em vê-lo, uma mínima atração talvez? Não sei, são muitas perguntas, muitas ideias sem sentido e talvez pensar menos me fizesse não ficar tão apavorado com a ideia. Eu o namoraria, eu iria gostar de tê-lo por perto quando me sentisse sozinho, mas não de tê-lo todos os dias, não de conviver como um casal, as brigas e a responsabilidade. Minha mãe falava sobre casamentos, dizia ser difícil, e acredito que ela estava certa, conhecia pessoas que eram casadas e dedicavam suas vidas ao outro, os cuidados de uma vida inteira as vezes que foi interrompida por filhos e responsabilidades matrimoniais, ou traições. Eu ainda era inexperiente, em tudo, até mesmo em relacionamentos, nunca namorei, nunca tive vontade de fato, eu não gostaria que meu primeiro namoro fosse diretamente um casamento embora muitos por aí se comprometem a amorar junto com o seu par cedo demais. Eu gostaria de vivenciar coisas antes de ter uma rotina casamenteira, — se é que de fato teríamos uma—, ainda mais com uma pessoa que eu particularmente não o conhecia de fato, pelo menos eu achava isso.

 Pilar estava num veículo negro do lado de fora, os vidros levemente embaçados pelo frio, faríamos uma breve viagem para A Cúpula da Ordem da Lua, onde eu a nomearia como a nova Suprema-Alfa. Ao abrir a portado carro me deparei com um cooler térmico azul de piquenique no banco do passageiro. Ela deu um leve sorriso, estava muito elegante, parecia ter saído de uma revista de negócios, os cabelos pretos estavam presos em o coque, e bem lisos rente a cabeça novamente, usava uma maquiagem impecável e uma roupa elegante e branca.

 — Bom dia, como tem estado? Coloque isso no banco de trás... É a cabeça de Clayton. — disse ela sobre o cooler térmico.

Fiquei horrorizado, mas mantive a postura.

  — Estou bem — falei respondendo sua pergunta — está transportando uma cabeça? — falei sem tom de intimidação enquanto colocava o cooler gélido no banco traseiro.

 — Tomara que a polícia não nos pare. — Brincou.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora