Página 51 Encontro XVII

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Pensei em não fazer daquele momento um encontro, mesmo não tendo a noção ao certo do que eram formados os encontros românticos, me arrumei de forma graciosa para receber Benji. Decidi não florear muito a casa com velas ou enfeites a mostra, fiz uma refeição sem muito categorizar, nada além de uma macarronada e uma sobremesa de torta de limão simples, arrumei a mesa e algumas bagunças espalhadas, fiz o que eu sabia fazer com a certeza de que eu não estragaria nada. A noite estava parcialmente fria, mas não tanto como em dias anteriores, prontifiquei deixar um clima amigável com o som ligado, pensei em pentear os cabelos para o lado após o banho e evitar que os mesmos ficassem lisos para frente com fios sobre a testa, mas não deu certo, os fios escorriam da posição e escolhi bagunça-los. Sentia um certo anseio me invadir, mesmo que eu tentasse não tornar aquilo em um encontro eu estava me sentindo como em um. No fundo eu estava apaixonado por Benjamin e ter a certeza, como hoje tive, de que ele estava também apaixonado por mim e me fez arder em felicidade. Minha mente rodopiava em pensamentos do que faria em sua presença, criando diálogos mentais durante o banho, ou enquanto eu cozinhava, teorizando muito para situações inusitadas, eu não queria dizer algo errado, queria estar preparado para estar com ele. É como todos fazem em situações que sabemos ficar nervosos, criamos diálogos extensos internos, criamos e teorizamos a respeito de tudo.

Depois de tudo pronto me lancei ao sofá macio e confortável, me pergunto se eu estava muito arrumado para a ocasião, coloquei meu melhor sapato, uma camisa que eu nunca nem usei, e uma calça parcialmente nova. Acendi pela primeira vez a lareira da casa, com a lenha que eu mesmo cortei no quintal aos fundos um pouco antes de escurecer totalmente, não se era muita lenha, mas o suficiente para manter a casa aquecida em um clima tranquilo depois de todo o caos. Já se era perto da oito da noite, eu temia que a refeição esfriasse e por isso ele devia chegar logo. Ainda teorizava sobre nós dois e mais precisamente sobre ele, ele era lindo, seus cabelos rebeldes, sua barba, seu sorriso, e cada detalhe dele era perfeitamente feito para mim, eu gostava de seu nariz quando encostava no meu antes de nossas bocas se encostar lentamente, gostava do seu cheiro e de suas risadas que eram uma raridade mas comigo escapavam com facilidade, gostava do tom de sua pele levemente bronzeada, do contraste que ela criava perto da minha, eu estava nitidamente caindo de amores por Benji, ele era a única coisa que me agradava naquela cidade. Eu não fiz amigos, nem sequer me preocupei a fazer. Em meu trabalho no restaurante já pensava em pedir as contas mesmo sem ter conseguido a vaga de assistente veterinário, talvez, arrumar um novo emprego, ou até mesmo ver com a Pilar algo que me mantivesse mais estável. Eu queria ficar, queria ficar nessa cidade, viver com Benji que agora parecia a única família que me restou, queria ser cuidado por ele, estar sobre sua vigilância e seus cuidados constante. Minha mãe estaria feliz se me visse desse modo, feliz, de namoro com o amigo de uma mulher importante como Pilar, de certo que ela idolatraria Benji. Eu evitava pensamentos que me levassem a ela por não querer ficar emotivo, mas de qualquer modo meus olhos já estavam cheios enquanto eu pensava como seria se ela estivesse viva enquanto observava sua foto em cima da lareira já virada ao público, uma foto linda, ela estava radiante naquele dia, era seu aniversário, minha mãe sempre parecia brilhar em seu aniversário, tínhamos ido fazer um passeio. Gosto da foto pelo simples fato de que o aniversário para ela era algo tão importante que era o único dia na qual ela de fato se importava cem por cento comigo, ela deixava todas as tarefas de lado, podíamos sair, nos divertir. Na foto ela está sentada com a mão na cabeça de forma pensativa e um sorriso envergonhado ao se dar conta da câmera que eu segurava em sua direção, havíamos ido alimentar os patos do parque aquele dia, em outra cidade na qual morávamos.

O sentimento nostálgico me invadiu, mas não perpetuei nele por muito tempo, a campainha ecoou sobre a casa, me levantei prontamente, secando a água de meus olhos e dando algumas piscadelas rápidas para inibir a emoção. Antes de atender a porta ensaiei como atender: "Oi? Você veio?", claro que ele viria, pensei em outra coisa: "Oiii!", parece muito empolgante talvez um olá e um sorriso sutil, a campainha ecoou novamente e quando abri a porta perdi o compasso. Tudo que ensaiei, todas as falas de cumprimentos e as teorizações de nossos futuros diálogos se desmancharam em nervosismo tremendo, fiquei gélido, imóvel, o olhando durante longos segundos. Ele estava lindo, não muito arrumado, mas bem arrumado, os cabelos estavam penteados para trás graciosamente, usava uma camisa branca de botões aberta na gola e até o peitoral mostrando um decote atrativo, e uma calça branca espuma. Senti meu corpo estremecer, e tentei respirar de modo tranquilo. Ele deu um sorriso levemente envergonhado e eu só desviei o olhar.

—  Eu trouxe um vinho —  disse ele erguendo a garrafa na mão meio acanhado.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora