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 Um enorme corredor de piso branco com detalhes de pisos amarronzados e parede com alguns quadro e plantas para enfeite, fomos até uma porta que abria-se em dois vidros grandes nos deixando de frente a um enorme saguão, certamente estávamos no subterrâneo amplo, não havia janelas, más esse saguão era extremamente clássico, havia molduras antigas e arcaicas nos arcos das portas, a coisa mais moderna ali eram apenas os aparelhos de ar-condicionado que deixava o clima fresco, havia até mesmo plantas de sombra verdinhas em vasos enormes feitos de terracota. Caminhamos pelo saguão de piso branco e marrons claros combinando com os arcos de madeira, os vasos e os quadros. Os saltos de Pilar batiam sobre o chão causando um estalido em seu caminhar honorificamente poderoso, tão qual como sua postura impecavelmente ereta, era como se nada a abalasse. Eu apenas a acompanhava seguindo seus passos largos e cheios de determinação observando tudo a minha volta, os enormes quadros feitos de madeira com gravuras expressiva e esculpida representavam a vida selvagem de alguns lobos, outros a lua, a mata, o uivar de um lobo para a lua, até mesmo aproveitei uma certa aproximação para passar o dedo sobre a madeira esculpida de um dos quadros, sentindo cada detalhe na ponta de meus dedos. Paramos diante a porta de uma sala, uma única porta do outro lado do enorme saguão, Pilar respirou fundo e me olhou. "Faça como combinamos no carro", disse ela com brandura, e eu apenas concordei. Ao abrir a porta havia uma mesa enorme e cumprida de reunião vários homens engravatados, poucas mulheres, todos sentados diante a mesa de reunião a olhando como se já esperassem por ela, Pilar abriu o cooler térmico. Um dos homens o mais rechonchudo espiou o que havia no cooler próximo a Pilar se levantou, para minha surpresa que também espiei, um saco de ervilhas congeladas:

 — Oh Pilar — disse o homem em cumprimento com risinhos emergindo as bochechas gordas e rosada — Por que a reunião de última hora? Trouxe até um humano, vai fazer sopa para nós? — Riu — Trouxe o avental para lavar nossa louça?

 Todos os homens riram daquilo, como se fosse uma piada muito cômica, até mesmo Pilar riu com sutileza e um ar de falsidade. Em seguida retirou um dos pacotes de ervilha do cooler lentamente, depois o segundo pacote sem pressa alguma, colocando, por fim, os dois pacotes de ervilha na enorme mesa de reuniões na qual todos estavam ansiosos. Os homens ainda faziam piadas achando que ela faria sopa, ou algum prato para eles, em seguida ela jogou a cabeça de Clayton no meio da mesa, a cabeça rolou congelada deixando alguns flocos de gelo enquanto deslizava. Todos se calaram imediatamente, houve um temível e memorável silêncio.

 — Isso é inadmissível, como ousa?! Matar um Alfa- Supremo?! É um crime de traição hediondo. — Escarniou o mesmo homem rechonchudo que zombou de sua cara.

 — A partir de hoje a Ordem da Lua será comandada por uma mulher, por mim. E todos os crimes serão protocolados como diz os Livros de Lei da Ordem. — Disse Pilar imponderadamente. — E deixo claro que não o matei, ele foi encontrado assim após uma briga de Hispos em Aurora do Norte, mas o responsável será punido, assim que encontrado. — Mentiu

 — Não pode fazer isso, uma mulher no poder? — riu um dos homens — Isso é patético, já tem sorte o suficiente em ser uma Alfa, você deve ser punida, está ficando insana? Eu não vou seguir ordens de uma mulherzinha nem jurar a lealdade de minha Matilha a ela, isso não é democrático.

 Pilar deu um sorriso soberbo.

 — Qual o seu nome? — perguntou ela com a voz melindrada.

 — Marco.

 — Levante-se e diga isso de novo, mas na minha cara. — Desafiou

 O homem não hesitou, se levantou e se aproximou, todos os outros permaneciam calados com risinhos espreitando-se nos lábios como se fossem coniventes com a situação, Pilar me olhou com olhos que diziam que aquele era o momento. Quando ele se aproximou de Pilar, segurei em seu braço, ele se assustou pois não esperava, mas antes que ele tirasse minhas mãos dele Pilar ordenou:

 — Se ajoelha — disse com os olhos acima do queixo

 Eu apenso e pensei o mesmo, pensei na ordem: Se ajoelha. E ele fez de modo silencioso e tirei minha mão dele o deixando em transe. Estava sobre o nosso controle, naquele instante eu me senti poderoso. Todos olhavam aquilo em espanto.

 — Vai dizer algo para mim? — ela se curvou olhando rosto a rosto do homem valentão.

 — Não tenho nada a dizer senhora.

 — Ótimo. Pensei que tinha algo a me dizer... E quanto a sua lealdade?

 — Será eternamente sua enquanto estiver no comando. — Respondeu

 — O que você fez com ele? —perguntou outro dos homens.

 — O Peeira fez —disse Pilar.

 Todos se agitaram, um burburinho, um alvoroçar e cochichos de olhares que me cercavam. Pilar lançou na mesa a pasta e logo a mesma começou circular de mão em mão em cochichos espantosos.

 — Ele me reconhece como uma Suprema-Alfa. A primeira mulher a assumir o supremo da Ordem da Lua. — disse pilar.

 Todos se levantaram rapidamente. E em fileira se ajoelharam diante a Pilar, e disseram em uníssono:

Eu lhe entrego minha lealdade.

Eu lhe entrego vossa lealdade.

Eu lhe entrego toda a lealdade.

 — Enquanto o Peeira estiver vivo e ao meu lado, serei o Alfa da Alcateia, tão qual como ele o Ômega, ele faz parte da minha Matilha, e agora fara parte da Alcateia. Estou no comando agora. — Proclamou ela. — E somente depois de sua morte a democracia retorna de forma igualitária. Quero que o parlamento de Alfas reúna todas as documentações, quero todos os livros de leis, faremos uma reunião categoricamente para rever as punições não aplicadas recentemente em breve, e também para esclarecemos as leis... E punir aqueles que foram contra a Ordem da Lua e estão a solta é a nossa principal meta. Também vamos retomar nossas atividades culturais em Plenilúnio com caçadas e grande eventos festivos na Alcateia, manteremos as tradições originais de nossos povos de volta.

 Nesse instante pude ver os olhos de alguns dentro da sala brilhar em conforto, uma certa felicidade, uma certa paz interior em ouvir aquilo. E Pilar continuou: "Quero saber dos nascimentos nas Matilhas, saudaremos os novos lobisomens de linhagem na Lua do Lobo de todos anos. Os Betas deverão a partir de hoje ter a atenção total da Matilha e de seu Criador para que não saiam do controle. Não aceitarei mortes de humanos inocentes e nem de mais de nossos povos, temos poucos de nós, estamos sendo extintos pela ignorância. Está na hora de mudar, e todos os Alfas aqui presente que apoiaram o golpe democrático de Clayton, e eu sei quem são, devem renunciar suas matilhas entregando-as a um novo Alfa" finalizou ela.

 Eu me mantive silencioso ao lado dela, todos dentro das enormes salas a escutaram com muita calma, houve alguns agradecimentos, algumas dúvidas, e até uma certa emoção, eu podia ver nas poucas mulheres ali o sentimento de representatividade e isso me confortou de maneira que eu sabia que estávamos fazendo o certo. As coisas estavam caminhando para a mudança, e depois de toda aquela cena de posse saímos para um almoço, ela ainda tinha coisas para resolver, voltamos para Aurora do Norte ao anoitecer como previsto, e ela levou consigo um enorme livro de artigos e leis chamado: A Ordem da Lua, e também caixa de arquivos de crimes cometidos e não condenados, ela jugaria todos e condenaria. E pelo o que eu entendi eu fazia parte disso agora, eu devia estar sempre ao lado dela, mas eu podia ver em Pilar um conforto irradiante por ter conseguido dar a volta por cima e isso era gratificante, as coisas estavam caminhando para algo bom.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora