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Tão logo a tarde chegou, eu já estava na residência Laurenz, havia a Matilha toda presente e outros Alfas, todos estavam apenas bem arrumados. Todos ali pareciam ansiosos, de fato não era algo que acontecia recorrentemente, a União era algo distinto e distante. E finalmente pude ver Benji, e ele estava tão diferente, irradiava sua alegria em suas risadas com outros homens, sua barba estava feita e bem cerrada à pele, não ficamos próximos, mas trocamos olhares até que finalmente a noite se iniciou, o sol já estava se escondendo atrás da montanha dando o tom avermelhado dos céus com a chegada da escuridão, uma noite de penumbra e ventos frios, pois o fim do outono já trazia visivelmente uma frente fria do inverno, mas eu estava agasalhado. No gramado tochas foram acesas fazendo um caminho luminoso entre os acentos para os convidados, havia um pequeno palco com um cálice em cima de uma pequena mesa redonda coberta por uma toalha branca e mais atrás do arco feito de galhos e folhas secas com flores que se destacavam entre as fendas do galhos curvos causadas pelos vãos nodulosos das madeiras um tanto roliças, um púlpito onde Pilar ficaria, em cima do púlpito já estava sobreposto um livro, que eu não fui espiar para saber o que de fato era, mas talvez o seu ensaio pessoal e anotações de palavras. Todos os desconhecidos se prontificaram aos bancos para assistirem a cerimónia, minhas pernas beberam naquele momento e houve um estremecer. Não haveria entrada triunfal ou algo assim eu só precisava me posicionar na frente de Benji perto do cálice, e assim fiz, parando em sua frente.

Seus olhos me olharam com um sorriso confortante visível através do mesmo, senti uma paz interior em vê-lo ali e ele me estirou sua mão e eu a segurei sentindo-me acolhido pelo seu toque doce e inocente. O burburinho de vozes falantes cessou. A lua no céu dava suas caras entre as nuvens escuras da noite. Pilar se posicionou atrás do palanque de madeira envernizada.

— Boa noite a todos. Daremos início à União. Peço que todos aqui silenciem-se diante a esse dia memorável a respeito de Benjamin Laurenz e Adriel Kennet. —  Deu uma pausa — Adriel foi marcado por livre e espontânea vontade, perante a dedicação e lealdade de Benjamim. Ambas almas hoje finalizarão o ciclo, com uma união eterna. A Marca em si, não é qualquer coisa, a partir do ponto que o Hispo morde o outro na finalidade de se ligar ao seu sangue ele estará se ligando a você, sentindo o que sente, e nada mais justo do que o sentimento justo entre aquele que foi marcado e seu Marcador...

Pilar estendeu a Benjamin uma adaga, e Benjamin segurou a mesma, me olhou por alguns segundos plantando a certeza de que era o que ele queria e passou a lâmina do aço inoxidável na pele de sua mão derramando o sangue no pequeno cálice, em seguida lambeu a própria mão fazendo a ferida parar de sangrar e se fechar.

— Aqui está toda a minha lealdade. - Sussurrou ele — Torno a ti sangue do meu sangue — continuou com a voz mais elevada — Alma de minha alma, minha fidelidade, meu vinculo eterno. Prometo a ti em sua ausência ainda ser seu, de corpo e alma e jamais romper a lealdade de nossa essência.

Benji pegou o cálice me estendendo o mesmo. Era a minha vez de fazer o meu voto de lealdade. Peguei o cálice, senti um nó na garganta, um medo tremendo de errar, mas respirei fundo, olhei o público que nos assistia esperando com que eu tomasse de seu sangue. A união não se era dessa forma, os lobisomens marcam o seu par como o pedido de noivado, e aqui na cerimônia aquele foi marcado deve marcar o seu marcador. Mas no meu caso eu não podia morder Benjamin, mas devia tomar de seu sangue.

— Prometo a ti toda minha lealdade, até que minha vida um dia se acabe. —  Virei rapidamente o cálice.

Houve um alvoroço, gritos e uivos, aplausos, Don subiu no palco pequeno e houve um silêncio, ele carrega em suas mãos as peles de lobo, e não só isso, a cabeça empalhada junto com a pele dos mesmos, colocou a cabeça empalhada como forma de capuz em Benji enquanto o resto da pelagem espessa e cinzenta recaía sobre os ombros de Benji, depois foi minha vez de colocar a outra pelagem e o lobo empalhado em minha cabeça. Não era algo assustador, parecia que eu estava fazendo parte de algum evento tribal de algum filme, a boca do lobo formava uma aba pequena acima das sobrancelhas.

Crônicas da Noite - A Ordem da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora