17

85 12 6
                                    

Kate
Hero estaciona na frente de casa. Sinto meu corpo formigar só de pensar em como aquele desgraçado me tocou um dia atrás. Uma pessoa com meu histórico, com meus traumas deveria crescer retraída ou traumatizada, mas cresci apaixonada pela primeira pessoa que me deu atenção. Sorrio para Hero e ele retribui. Não amo ele, amo o que ele significa pra mim, cuidado, segurança, apoio, melhor sexo do mundo. Hero foi o primeiro homem em que pude confiar, e o único que confio para me ajudar com o que sobrou de trauma daquele desgraçado, mas não amo Hero.
- Obrigada. - Seguro sua mão. - Eu estava errada. Eu não te amo.
- Que bom. - Hero ri e beija minha mão? - Dói?
- Um pouco. - Estico os dedos. - Só se eu faço força.
- Quer que eu entre com você? - Hero encara a pequena porta que dá para minha casa.
- Não. Eu sei me virar. - Solto sua mão. - Minha mãe pode ser uma drogada sem futuro, mas é só minha mãe. Eu sei lidar com ela desde pequena.
- Qualquer coisa pode me ligar. - Hero liga o carro enquanto eu desço. - Ei!
- O que? - Me apoio na janela do carro.
- Ainda posso te ver? - Seus olhos estão vidrados em meu decote.
- Sempre que quiser. - Sorrio e solto um beijo no ar.
Vejo o carro cantar pneu na esquina, Hero precisa parar de dirigir feito um louco. Jogo minha mochila no ombro antes de destrancar a porta e subir as escadas para minha casa. Tenho medo do que vou encontrar, as opções são tantas. Mamãe pode ter vendido toda a casa para o traficante, pode estar apagada no sofá, posso encontrar outro homem estranho, enfim. Abro a porta da sala, meu sangue ainda está manchando o chão, mamãe está jogada no sofá e o cheiro de maconha queima meus pulmões. Ignoro a presença física da pessoa que me colocou no mundo e vou direto até meu quarto, jogo minhas coisas em cima da cama e tranco a porta.
De banho tomado, me jogo na cama desesperada para dormir bem e conseguir acordar amanhã para trabalhar. Mas os planos de mamãe são outros, escuto algo caindo no chão da sala poucos minutos depois. Visto o roupão mais uma vez, respiro fundo e destranco a porta do quarto. Mamãe está ajoelhada no chão, tentando inútilmente esfregar o chão de madeira com a camiseta.
- Mãe, eu limpo isso amanhã. - Seus olhos vasculham a sala até me achar. - Deixa isso aí.
- Morgan? Você voltou? - Sua voz está sobrea. - Você realmente voltou? - Sou pega de surpresa quando uma lágrima escorre em seu rosto.
- Eu moro aqui mãe. - Me aproximo de seu corpo magro. - A casa é minha.
- Eu... Eu vou limpar isso. Isso é culpa minha. - Sua mão está trêmula por causa da força que seus braços finos fazem.
- Mãe por favor, eu limpo isso depois. - Levanto seu corpo do chão. - Eu preciso dormir um pouco.
- Si..Sim.
Mamãe sempre foi magra, mas com o tem e o uso frenético de todo tipo de droga, seu corpo se deteriorou. Ela só tem quinze anos a mais que eu, mas parece estar na casa dos sessenta facilmente. Limpo seu rosto borrado pela maquiagem com a barra do meu roupão. Ela não tem culpa de ser quem é, de ser viciada, de ter se apaixonado pela pessoa errada. Descobri da pior forma que eu sou fruto de um estupro em sua vida, por um cara qualquer na rua quando tinha seus catorze anos. Mamãe cresceu assim, rodeada pelas drogas, pela violência do subúrbio londrino. Minha vó colocava ela para pedir dinheiro desde muito pequena, esse é o único mundo que ela conhece. Seguro seu corpo contra o meu, tentando acalmar sua alma, protegê-lo do mal do mundo. Beijo sua testa e ela ri.
- Sou a pior mãe do mundo não sou? - Seus dedos acariciam meu rosto. - Me perdoa Morgan.
- Não é mãe, não é. Isso não é culpa sua. - Sua mão limpa meu rosto, não tinha percebido que estava chorando.
- Se cuida. Por favor. Não... Não deixa meu mundo te afetar Morgan. Não acabe como sua mãe. - É a primeira vez em dez anos que ela assume seu papel de mãe. - Eu sei o que você passou. Eu sei. É culpa minha. Eu... Eu deveria ser forte.
- É passado. Eu sou bem grandinha agora, sei me cuidar. -Arrumo seu cabelo.
- Não deixe que ninguém assuma isso aqui. - Ela apoia a mão no meu peito. - Isso é seu filha, não de ele a ninguém. Não seja fraca. Não deixe que homem nenhum nesse mundo te magoar.
- Não vou. Não vou deixar. - Minhas lágrimas caem freneticamente agora.
- Você é dona de si Morgan. Você é tudo o que você precisa. - Ela se solta dos meus braços. - Você é uma mulher linda. Não deixem te dizer o contrário.
- Você também. - Sorrio.
- Eu sei que você sai com aqueles seus amigos ricos, com aquele rapaz que é de Hollywood. Não deixe que o dinheiro compre seu corpo. - Seus olhos viajam pelo próprio corpo. - Não acabe assim.
- Mãe, eu não sou uma prostituta. Ele não é de Hollywood, e eu não vendo meu corpo. - Enxugo as lágrimas do meu rosto.
- O mundo é horrível filha, homens fazem coisas horríveis com pessoas como nós. Eles não se importam se vão nos machucar ou não. Só querem gozar e ir para a próxima garota. - Ela toca a própria barriga. - Não engravide, não coloque outra pessoa nesse mundo para passar o que a gente passou.
- Não vou. Eu prometo. - Estendo a mão e ela segura.
- Você não tem culpa. Enri era um doente.
- Mãe! Não quero falar disso. - Cruzo os braços e me afasto. - Não quero falar disso, por favor.
- Os Homens só sabem se aproveitar de nós.
- Nem todos mãe. - Sorrio e saio da sala.

Empowered Women - A história de KateOnde histórias criam vida. Descubra agora