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Kate
Perdi as contas de quantas vezes cravei as unhas na mão nos últimos vinte minutos. Me tranquei no banheiro buscando fugir do barulho insistente, mas ele estava dentro de mim. Sinto o sangue nas mãos, é um sinal de que perfurei minha pele, mas é o que me trás de volta a realidade. Não é o fim do mundo, já passei por coisas piores, já enfrentei meu pesadelos de peito aberto e cabeça erguida, não vou me abater por causa disso.
Tomo coragem e encaro o rosto pálido e borrado no espelho. Estou bêbada demais para saber se a maquiagem escorreu com as lágrimas, então lavo as mãos e jogo água gelada na pele. Não é qualquer coisa que vai acabar comigo. Lavo os rastros de saliva nojenta pelo meu pescoço, minha boca com o que acho ser um enxaguante bucal, tudo para me livrar da lembrança daquele idiota me arrastando para o quarto.
Os últimos dois meses foram os melhores da minha vida, fiz amigos que me apresentaram um mundo completamente novo daquela realidade que conhecia. Os amigos de Hero me acolheram como se eu pertencesse ao grupo a anos, não só como a amiga colorida, mas como parte de tudo o que eles vivem. Conheci lugares novos, frequentei as melhores casas noturnas da cidade, fui apresentada a pessoas que nunca imaginei conhecer na vida. Pra mim, sair e poder pedir uma bebida em um bar era uma realidade bem distante, com eles já pedi garrafas inteiras sem medo da conta no final. Hero, Alex, Félix e Jack conseguem bancar facilmente a noite de várias garotas sem pesar no bolso. Para uma garota como eu, que, se sair um dia, precisa escolher qual conta vai pagar no fim do mês, entrar em camarotes é luxo. Me sinto segura quando estou com eles, Hero não contou para ninguém meu segredo, mas estive na cama com todos, e fica fácil saber que tem algo errado comigo. Eu sei que se contar que um cara qualquer tentou me arrastar para um dos quartos, eu vou ter minha vingança. Nunca vi Hero levantar a voz com ninguém, mas já presenciei seu modo protetor, comigo e com Mercy. Os outros três não precisam de mais de uma palavra para bater em alguém.
Abro a porta do banheiro a tempo de ver Hero entrar em "seu quarto" com uma loira baixinha, que se não me engano conheço de algum lugar. Dou de ombros quando ele me encara e volto para a sala. O movimento diminuiu, Alex está sentado com uma menina no colo, Mercy, Félix e Jack estão conversando na cozinha.
- Acabei de ver seu irmão arrastando mais uma pro quarto. - Digo enquanto roubo o copo de Mercy.
- Ah, não. Não é o que você está pensando. É a Jo. - Jack comenta. - É alguma lei que melhor amigo não se pega.
- Aquela é Josephine? - Agora sei de onde eu conheço a garota.
- Sim. Provavelmente ele só vai colocar ela pra dormir. - Alex aparece, virando um saquinho de amendoim inteiro na boca. - Parece que ela brigou com um carinha que tava saindo.
- Ou ele vai comer ela. - Comento.
- Não vai. - Os quatro me respondem em coro.
- Vocês sabem muito bem que ele é caidinho por ela. - Viro o copo de Mercy. - Não se enganem.
- Hero nunca tocou em um fio de cabelo da amiguinha. - Félix ri. - É um desperdício, a garota é gostosa pra caralho.
- Você...? - Pergunto. E ele da de ombros
- A menina é gostosa pra caralho, e me provocou. Não ia negar. - Ele ri de novo. - Quem tem código moral é ele, eu não.
- Hero sabe disso? - Mercy pergunta.
- Eu sei do que? - A voz de Hero ecoa ainda no corredor.
- Apareceu a margarida. - Jack acena com a cerveja quando Hero entra.
- Jo dormiu. - Hero se senta no balcão ao meu lado. - Ela tá de carro, então não se preocupem em dar carona.
- Ela vai dormir aí? - Mercy diz encarando Félix.
- Vai. - Hero está ocupado passando os dedos pelo meu decote.
- Não vai ficar com ela? - Pergunto dando um tapa em sua mão.
- Não, tenho planos para o resto da noite. Se não se importa. - Seu sorriso diz tudo, eu sou o plano.
- Ah cara! - Alex mostra o dedo. - Era o meu plano.
- Vocês dois não comecem. - Mercy me abraça. - Minha amiga não é carne pra ser disputada.
- Não estou disputando ninguém. - Hero da de ombros e começa a mexer no celular. - Eu ligo pra alguém, pode ficar.
- Você não vai tratar Kate desse jeito. - Mercy arranca o celular da mão dele. - Vocês quatro parecem cão faminto quando o assunto é ela.
- Tá tudo bem amiga. - Beijo seu rosto e pego o telefone de Hero. - Se alguém me quiser, tem que conquistar. - Devolvo o celular para o dono e sorrio. - Hoje eu vou ficar só com meu vibrador mesmo.
- KATE! - Os cinco riem, e acabam me fazendo rir também.
- O que? A escolha não é justa. - Dou de ombros.
- Todo mundo sabe que vc escolheria ele. - Alex me mostra o dedo e bagunça meu cabelo. - Prioridades.
- Pelo menos comigo ela goza. - Hero ri e desvia do copo que Alex joga. - É verdade.
- Você não vai falar nada? - Alex cruza os braços me encarando. - Ele me chamou de ruim de cama.
- Eu não falei isso. - Hero pula do balcão. - Mas não tenho tempo de discutir sobre, uma tal de Anna me espera.
- Isso é nojento cara. - Jack grita, mas Hero já saiu. - Como ele sempre consegue?
- É mágica. - Alex ri.
- Eu chamaria de sorte. - Felix completa.
- Eu chamaria de exibicionismo. - Mercy revira o olho.
- Eu chamo de técnica. - Suspiro profundamente para enfatizar a frase.
- Isso é nojento. - Os quatro dizem.
- Vocês são dramáticos. - Me sento no balcão. - Hero não tá nem aí pro que vocês pensam.
- Não mesmo. - Josephine passa por nós, vestindo só uma camiseta que mal cobre sua bunda, e abre a geladeira. - Provavelmente a menina já deve estar vendo estrelas e vocês discutindo.
- Posso dormir com você? - Mercy saltita de felicidade.
- Pode. - Jo sorri para os três meninos e sai.
- Quem vai me dar carona? - Pergunto chutando os saltos no chão.
- Eu! - Alex levanta a mão.
- Você não quer só carona baixinha. - Jack comenta, empurrando o ombro de Alex.
- Que bom que você sabe. - Sorrio e estico a mão para ele me ajudar a descer.

Empowered Women - A história de KateOnde histórias criam vida. Descubra agora