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Nate

Caminho alguns passos até cair sentado em sua cama. Que merda foi essa? Tanto tempo lutando contra essa vontade, para abrir mão do nada? Soco a cama, como se fosse adiantar alguma coisa. Preciso controlar meus instintos para não voltar lá e foder tudo, literalmente. Meu corpo não tá entendendo nada, não consigo raciocinar direito com tanto sangue concentrado na minha virilha. Seu corpo é tão bonito, tão delicado, tão pequeno. Se encaixaria tão bem nas minhas mãos. Ela estava ali, como sempre sonhei, mas não estava. Seu corpo tocou o meu, senti os mamilos roçarem minha pele, sem poder fazer nada. Molhada, quente, pedindo para ser tocada, a centímetros. Sua mão arrancando minhas roupas, tocando meu corpo.

Agarro a primeira coisa em cima da cama, pensando em jogar longe, mas meus dedos envolvem renda. Irônico não? Ela estar toda de lingerie preta, sabendo que eu gosto, parece de propósito. Seguro o sutiã entre os dedos, rindo feio um idiota. Não foi assim que eu imaginei tocar em uma peça tão delicada, sem seu corpo dentro. Na minha cabeça, eu despia seu corpo com calma. Escuto o chuveiro desligar, mas não consigo sair do lugar. Kate sai do banheiro, enrolada na toalha, me ignorando completamente. Seguro o sutiã com as duas mãos e parto a renda, até ter um amontoado de elásticos e tecido.

- Era isso que você queria né? - Levanto os olhos. - Que eu te agarrasse assim? Contra o box do banheiro? Que eu não respeitasse seu espaço, e te fodesse até amanhã?

- Fui abusada. - Sua voz sai baixa. - Fui abusada psicologicamente, fisicamente e sexualmente durante minha infância.

Meu mundo para. Olha a merda que eu falei. Sinto a cabeça girar e o ar fugir dos meus pulmões. Abro a boca para falar, mas não sai nada. Meu corpo não está me respondendo, eu deveria estar com elas nos braços agora. Me sinto inútil, culpado, até sujo. Eu vi ela passar por isso e não percebi. Eu deixei isso acontecer. Kate solta a toalha no chão, me fazendo virar o rosto.

- Meu pai fez isso comigo. - Ela aponta para o próprio corpo. - Dos oito aos dezesseis anos.

- Se cobre Kate. - Cubro os olhos com o braço. - Por favor.

- Me deixa falar. - Sinto seus dedos no meu braço. - Preciso que você me olhe Nathaniel.

- Porquê? - Abri os olhos relutante.

- Preciso que você me veja. - Ela cai de joelhos na minha frente. - Meu corpo foi roubado de mim, noite após noite. Minha infância, minha decisões. Minha paz. Tudo isso me foi negado pelo homem que deveria me amar.

- Não precisa falar.. - Tento me levantar, mas suas mãos seguram meus joelhos.

- Cada pedacinho de mim morreu. Eu só existia. Não tinha vida. Eu só esperava o momento que ele ia entrar pela porta do quarto, bêbado, e me matar de novo. - Não tem emoção alguma no seu rosto, nem um lágrima. - Por muitos anos eu só aceitei que esse era o meu destino, morrer nas mãos do homem que me deu a vida. Foi seu irmão que me impediu de desistir, que me fez lutar. - Seus olhos encontram os meus. - Eu me apaixonei por ele por causa de um sorriso. Ele sorriu pra mim no dia seguinte do primeiro abuso. Foi isso me manteve viva.

- Vem aqui. - Tento puxar sua mão. - Quero abraça-la.

- Enri modificou meu corpo para sempre. O silicone é o menor dor meus problemas. - Ela não se move, continua de joelhos no chão. - Minha mãe não podia fazer nada, ela também foi vítima. Não a culpe. - Kate respira fundo. - Eu me apaixonei por Hero porque eu não pude amar meu pai. Sim isso é doentio.

- Não.. não é. - Não aguento mais ve-la no chão sozinha. - Sai do chão por favor.

- Qualquer homem que me da atenção, que cuida de mim, eu me apaixono. - Ela se levanta. - Esquecendo seu irmão, eu me apaixonei por você. Do jeito errado. Eu me apaixonei pelo pai que aquela criança vê em você. E eu não quero entrar nisso outra vez.

Empowered Women - A história de KateOnde histórias criam vida. Descubra agora