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Kate
Me lembro até hoje do dia que Mercy descobriu que eu estava sendo abusada, ela reconheceu as pequenas marcas de unha na minha mão, e os dentes pelo meu corpo. Depois que aquele covarde saiu de cima de mim, tratei de marcar tudo o que eu conseguisse, no dia seguinte ele me bateu por "estragar seu brinquedinho". Naquela época, Mercy brigou comigo por horas, disse que mutilar meu corpo não era a resposta. Tomei mais cuidado daquele dia em diante, deixando as evidências o menos aparente possível, roubei maquiagem da minha mãe para esconder, e Mercy nunca mais viu. Até hoje.
- Morgan, o que eu disse sobre as mordidas? - Sua mão está segurando meu pulso. - Isso é de quando?
A marca já estava quase desaparecendo, por isso não me importei em cobri-la. O roxo já foi embora, deixando uma leve sombra esverdeada no local.
- Semana passada. - Puxo meu braço e cubro a marca com a outra mão. - Foi só um momento ok?
- Porque você fez isso? - Seus olhos estão vidrados, sei que está tentando não chorar. Não respondo. - Kate?
- Por nada, já passou. - Me levanto.
O quarto de Mercy é quase tão conhecido quanto o meu, sei onde fica tudo, até onde esconde seu vibrador. Abro a gaveta de maquiagem na penteadeira e começo a procurar um pó compacto, deve ser o suficiente para cobrir as evidências. Enquanto encaro meu reflexo no espelho, as lembranças do que aconteceu invadem minha visão. Não foi culpa dele, eu deixei que as coisas fossem longe demais.
- O que meu irmão fez? - Odeio o fato que ela me conhece melhor do que ninguém.
- Nada. Eu já disse que passou. - Fecho a gaveta. - Não vai acontecer de novo.
- O que vocês dois fizeram pra te deixar tão mal?
Fico em silêncio, encarando a porta do quarto. Eu sei que Hero não está em casa, mas não quero ele se culpando de novo pelo incidente que eu causei. Já foi mais do que vergonhoso ele ter que me carregar até o banheiro, me acalmar e fazer um curativo no meu braço. Mercy se levanta e vira a chave entre os dedos, deixa seu corpo cair contra a porta, bloqueando mais ainda a entrada.
- Ninguém vai entrar aqui. - Eu amo essa garota.
- Hero conseguiu, com o tempo, me ajudar a lidar com alguém em cima de mim. - Desvio o olhar, focando em qualquer coisa na parede. - Estava tudo bem, até eu forçar meu próprio limite. Seu irmão não tem culpa.
- Você não pode usar meu irmão como terapia. Você sabe disso.
- Funciona muito bem, e ainda vem com bônus de orgasmos maravilhosos. - Sorrio e volto a encarar seu rosto. - Hero já brigou comigo o suficiente por eu ter me machucado.
- Não quero ver isso em você outra vez ok? - Concordo com a cabeça. - Morgan, eu estou falando sério. Se eu souber que ele te causou algum mal, eu mesma vou cortar o pau dele fora.
- Não. Não precisa fazer esse mal para a humanidade. - Sorrio e me levanto. - Não foi culpa dele.
- Sei. - Mercy também se levanta. - Vem aqui.
Minha amiga tem o terceiro melhor abraço que existe, acho que é mal dos Tiffin, Já que Hero e Nate ocupam as duas primeiras colocações. Os três tem o mesmo fundo de perfume, provavelmente do amaciante das roupas, o que torna o abraço muito melhor, aquele mesmo cheiro de flor amarela. Mercy cheira a isso e a perfumes doces, Nate tem aquela mistura com seu cheiro de sabonete, e Hero com seu aroma natural de fumaça. Me lembro de quando ele só cheirava a flor amarela, o cigarro apareceu só na adolescência.
Hero e eu evoluímos consideravelmente em relação aos meus traumas. Já consigo suportar, quase gostar, de ter seu corpo sobre o meu por um longo período de tempo. Descobrimos que sou tão quebrada que sinto prazer com alguns tipos de dor, o que ele amou saber. Ele conhece tão bem meu corpo, que consegue mudar meu humor só tocando no lugar certo, o que é péssimo. Quando ele descobriu que meu pescoço é extremamente sensível ao toque repentino de seus lábios, passou a usar em qualquer lugar, literalmente qualquer lugar. Se ele quiser, e já compro ou que consegue, me convence a transar nos lugares mais inusitados possíveis. O que acabou mostrando mais uma coisa que temos em comum, adorar a adrenalina de um local público ou cheio de gente. Seríamos um casal perfeito, já que na cama somos extremamente compatíveis, mas fora dela a história é outra. Hero e eu fumamos muito, o que é bom, já que ninguém acaba se incomodando com o gosto da nicotina, mas a única coisa que a gente gosta em comum. Sempre acabamos discutindo algum assunto, as vezes sobre sua mania de correr demais com o carro, ou minhas roupas curtas demais, sobre seu comportamento auto-destrutivo atoa,  o fato que comecei a beber e principalmente porque ele não aceita que é apaixonado pela melhor amiga. Nossos tempo juntos começa e acaba em discussão.

Empowered Women - A história de KateOnde histórias criam vida. Descubra agora