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Ruggero

Chego em casa no sábado de manhã. Tinha passado a noite com a Lucélia num motel elegante e caro que ela escolheu. As palavras de Karol me vieram à mente, dizendo que meu gosto por mulheres é duvidoso. Tenho que admitir que Lucélia não é mesmo uma gata de parar o trânsito, mas dá para o gasto. E, por falta de tempo, há muito tenho pegado apenas mulheres que dão para o gasto. Tomo um banho e resolvo não ir dormir. Não estou com sono, apenas cansado. Vou para meu escritório trabalhar um pouco, e para variar, uma coisa me preocupa: Karol. 

Com tudo o que está acontecendo na vida dela eu tenho medo que ela não consiga dar conta do recado na viagem. E eu irei atrás de três investidores nessa viagem, nada pode dar errado. Consulto meu registro de funcionários e encontro a ficha da senhorita Sevilla. Vinte e cinco anos, solteira, mora perto do serviço e acho os números dos telefones dela. O engraçado é que na ficha dela não tem uma foto. Bom, melhor assim. Ninguém vai querer ficar olhando para aquela bruaca mesmo. Pego logo o número do celular dela e disco. 

- O que foi?- atende uma voz sonolenta e irritada.

 - Bom dia senhorita sevilla, é Ruggero Pasquarelli falando. - Ela fica em silêncio e depois ouço um som; parece que ela bufou ao telefone.

- Claro que é você! Você já viu que horas são?! Não se liga para o celular das pessoas num sábado de manhã. - Tenho que conter um sorriso. Essa mulher é irritantemente folgada.

 - Sinto muito se acordei a bela adormecida, mas você tem um trabalho a fazer e está atrasada. E eu não ligaria se não fosse urgente. - Ela resmunga e responde.

 - Não, você não sente. É melhor que alguém tenha morrido para me acordar às seis da manhã. O que você quer?

 - Não me ameace senhorita Sevilla. Eu ainda sou seu chefe.

 -Eu não estou no meu horário de trabalho. 

- Claro, e o seu respeito para comigo é apenas quando você é minha subordinada.

 - Exatamente. - Não consigo conter o riso dessa vez. Nunca conheci mulherzinha mais abusada que essa Sevilla!

 - Preciso que esteja em uma reunião às sete horas em ponto. 

- Você está de brincadeira, não é?!

 - Eu não sou homem de brincadeiras, senhorita Sevilla. Essa viagem é muito importante para a empresa e, devido aos últimos acontecimentos durante a reunião, quero ter certeza de que está preparada para a responsabilidade que terá. - Ela solta um palavrão.

 - Eu sou só uma merda de secretária. Minhas responsabilidades serão somente fazer anotações e organizar sua agenda. Qual o seu problema?

 - As anotações, senhorita Sevilla. Meu problema são as anotações. Você sabe que precisarei delas e você deve estar preparada para fazê-las da maneira correta. Agora, levanta esse grande traseiro da cama e anota o endereço que vou te passar.

 - Ok, mas é melhor eu receber uma gorda hora extra, por me acordar num sábado às seis da manhã e pelo seu linguajar nada profissional!

 - Respeito é uma via de mão dupla senhorita Sevilla. 

- Vai à merda!

 As sete horas em ponto a campainha da minha casa toca. Abro a porta para encontrar uma Sevilla com cara de sono, olhos vermelhos, o cabelo todo embolado em uma espécie de coque. Os óculos enormes e tortos em seu rosto, uma calça de moletom larga e uma blusa toda amassada mais larga ainda. Ela está horrorosa. Isso me faz abrir um sorriso. 

Cretino irresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora