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Karol

Depois de pegar um ônibus lotado para minha casa, meu estômago roncando a cada cinco segundos, fazendo todos olharem para mim, finalmente chego ao meu prédio. A raiva de Ruggero Pasquarelli  ainda me atinge com força! Quero muito mandar ele para aquele lugar e deixar que se vire em sua viagem importante, mas, uma mulher falida não tem condições de se vingar. Eu preciso mesmo desse emprego. Assim que pagar minhas dívidas de um casamento que não acontecerá, eu o mandarei ir tomar num lugar bem especifico e jogarei um copo de café quente naquele cabelo desgrenhado dele. 

Isso, essa ideia me faz ficar mais calma. Eu sonho com o dia em que verei Ruggero Pasquarelli ser humilhado. Assim que entro no meu prédio, recebo um olhar no mínimo curioso do porteiro. Como eu disse, ele nunca foi com a cara, diz que eu amo demais, mas normalmente ele simplesmente ignora a minha presença.

 Agora ele está me olhando como se tivesse aprontado alguma coisa, e estivesse com medo que eu descobrisse. Corro para minha casa e olho tudo em meu apartamento, uma vez que ele tem uma cópia da minha chave. Mas, nada está fora do lugar. À noite, recebo uma mensagem do estúpido Pasquarelli dizendo que a viagem foi adiada para segunda-feira à noite por conta de uma reunião de última hora de manhã, e detalhe, eu terei que estar nessa reunião ao lado dele. Só de pensar em ver de novo todos aqueles que ficaram rindo de mim na última reunião, sinto meu rosto queimar. 

Oh! meu Deus, por quanto tempo ainda serei motivo de piada? Minha resposta vem na segunda de manhã. Chego à empresa depois de uma péssima noite de sono. Desde que eu terminei com o segundo maior imbecil do mundo, não consigo dormir direito. Assim que chego, logo na recepção, percebo pessoas me olhando e cochichando, e alguns risinhos. Penso que a história do meu telefonema deve ter vasado, é claro. E agora eu serei motivo de piada da empresa inteira! Fico na cantina boa parte da manhã, já que a mesa de secretária do Ruggero é ocupada pela secretária dele. Estudo mais um pouco os relatórios que ele havia me passado e vou para a reunião. 

Entro lá já de cabeça baixa, procurando um buraco para enfiar minha cabeça, e novamente, aqueles olhares, cochichos e risinhos. Isso está acontecendo de tal maneira, que uma hora Sebastian puxa minha cadeira para perto da dele e sussurra em meu ouvido.

- O que está havendo? Por que todos estão rindo? - Eu dou de ombros, confusa. 

- Acho que deve ser por causa daquela ligação. - Ele nega com a cabeça. 

- Acho que não, nem no dia eles reagiram assim. - Continuamos a reunião sem saber o que está acontecendo. Até que vou ao RH receber meu salário. Lá, no painel onde dias antes estava o meu convite de casamento, agora havia uma foto minha impressa, no hall do meu prédio, com o ridículo do Henrique ajoelhado aos meus pés. Eu, com uma cara horrorosa de espanto, e ele com aquela careta de choro, e escrito embaixo: menina má. Arranco a folha do mural e vejo que as meninas estão rindo. Saio correndo do RH e topo com Valu, que me arrasta para a mesa dela, e me mostra um video. Oh meu Deus! Por quê? Um video no Youtube do Henrique ajoelhado aos meus pés, e eu, com cara de pamonha assustada pedindo que ele levantasse do chão. 

E o vídeo já tinha mais de cinco mil acessos! Muita gente sonha com seus quinze minutos de fama, eu não sou uma dessas pessoas. A menina má está sendo vista e eu estou mais uma vez, sendo motivo de piada. A valu me explica que a foto foi postada no Instagram do porteiro do nosso prédio. Aquele traste! Eu vou arrancar as bolas dele e colar com prego na testa dele! Que merda! Penso em ir para o banheiro, bancar a covarde que estou sendo nos últimos dias, mas antes que consiga uns minutos de paz, Ruggero aparece e me chama até a sala dele. Quando entro na sala vejo uma cópia da foto do Henrique ajoelhado na minha frente em cima da mesa dele. 

- Pela sua cara você já descobriu porque estavam rindo. - Eu apenas assinto. - Você tem ideia de quem pode ter feito isso? - Falo com a voz mais baixa do que esperava. 

- O porteiro do meu prédio. - Ele parece supresso.

 - Por Deus, mulher! Até o porteiro do seu prédio não te suporta! - Eu quero gritar com ele e mandá-lo para aquele lugar, mas começo a chorar. E aí fico mais envergonhada ainda porque estou chorando na frente desse estúpido. Ele todo sem graça, anda até mim e põe as mãos nos meus ombros. Não é ridículo uma mulher adulta chorar por causa de problemas? Sim? Imagina o quanto é pior quando ela pula nos braços de um homem que odeia. Isso mesmo, ele coloca as mãos nos meus ombros e eu agarro a cintura dele e começo a chorar. Ele tenta me afastar sem graça, mas eu me prendo a ele. Só o ouço falando

 - Não chora Karol, não chora, você vai manchar minha camisa carissima. - E, para piorar, quando vou me acalmando, adivinha qual a primeira coisa que percebo? O abdômen dele. Sim minha gente, eu sou mais uma vez motivo de piada na empresa, estou chorando na frente do bastardo do meu chefe, agarrei ele para chorar e, em vez de encontrar vergonha na cara, percebo como o peitoral dele é duro.

 Continuo fingindo chorar, com a cara enterrada no ombro dele e passo a mão por sua barriga. Como eu imaginava, sinto a barriga dura e aqueles gominhos deliciosos que homens malhados têm. Então percebo que quando o agarrei ele passou o braço em volta de mim e sinto aqueles braços fortes me acalmando. Fecho os olhos e me esqueço de fingir chorar, fico ali aproveitando aquele abraço gostoso e aquele corpo musculoso colado ao meu. De repente, ele se afasta e só então tudo volta a mim. Todos rindo da minha cara e da minha total falta de noção ao agarrar o homem daquele jeito. Abaixo a cabeça e olho para o chão, sem graça. 

- Você já parou de chorar? - pergunta ele e parece realmente preocupado. Eu apenas assinto. - Ótimo. Eu poderia dizer que sinto muito pelo que aconteceu, mas estaria mentindo. Toda vez que alguma coisa desse tipo acontece com você eu sempre me divirto. E confesso que dei boas risadas com essas coisas de hoje. 

Eu deveria sentir raiva dele. É o que ele merece, mas o que eu posso fazer? Eu sou mesmo uma comédia para as outras pessoas, a retardada, menina má, estabanada. Sempre acontece alguma coisa que me constrange. Por que o estúpido do meu chefe se compadeceria da minha maré de azar? Claro que não! Ele tinha que se divertir mesmo, como todos os outros.

 - Que bom que sirvo ao menos para diverti-lo! Minha vida está ganha por saber disso, senhor. 

Ele abre um enorme sorriso e passa a mão gentilmente pelo meu cabelo.


Pelo menos pense que você nunca ficara sozinha karol, a vergonha sempre te acompanhara 

Cretino irresistívelOnde histórias criam vida. Descubra agora