Como uma pessoa muito inteligente uma vez disse: nada está tão ruim que não possa piorar. Eu me agarro a essa frase vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana. Minha vida é uma bosta completa. E só para melhorar literalmente tudo, eu não sei conversar com outras pessoas. Sou alérgica a seres humanos! Eu entro em pânico toda vez que alguém se aproxima de mim, seja para perguntar algo idiota como que horas são ou tentar me conhecer. O último é ainda mais difícil. Eu simplesmente travo. Não consigo responder, não consigo dizer nada sem gaguejar e começar a soar frio. Patética; minha vida é patética e eu sou extremamente patética.
Mesmo com os pensamentos merda a mil na minha cabecinha, continuei tirando foto atrás de foto com a câmera nova que meu pai tinha me dado de presente de aniversário. Apenas pensando qual seria a grande tragédia do dia. A mente fodida de uma criatura de quinze anos, entenda o caso! Bem, pelo menos meus pais tentam lidar comigo. Se esforçam de verdade. Mas acho que nasci quebrada, sem concerto. Não sou como as máquinas que meu pai arruma, afinal, e nem como as pinturas que minha mãe molda do jeito que deseja. Eu sou só a Akira: quebrada por fora, vazia por dentro. Só queria não ser uma decepção tão grande para meus pais, sendo sincera.
Suspirei e dei outro clique antes de deixar a câmera de lado. Aquela foto ficou linda e ficaria ainda mais linda quando eu a revelasse, eu tinha certeza. Pelo menos naquilo eu era boa: capturar os momentos certos. E eu era mesmo boa nisso. Era tão mais simples mostrar as emoções daquela forma, por imagens, do que falando. A fotografia era meu corpo e minha alma e eu não precisava de mais nada além daquilo.
Eu sempre ia até aquele mesmo parque, e as fotos que eu tirava ali nunca saiam iguais. Tinha sempre algo novo, um detalhe diferente que mudava tudo na foto. Eu poderia passar horas e horas e horas ali, apenas fotografando as flores e árvores e pessoas que passavam e viviam suas vidas felizes enquanto eu estava ali completamente sozinha e perdida. Não que eu não gostasse de ficar sozinha; eu gostava, e muito. Mas as vezes era apenas... Deprimente.
Me agachei com calma para não espantar o gatinho dormindo de barriga para cima em meio as flores amarelas. Dei uma risada baixinha, ajustando o zoom da foto e o foco, deixando algumas das flores embaçadas. E ai, tirei aquela foto que certamente ficaria incrível em um porta retrato ou sei lá.
Eu me levantei e me afastei e, naquele exato momento, vi um garoto que deveria ter minha idade brincando com duas garotinhas. Ele tinha olhos lavanda e o cabelo era de um prateado lilás. Mas não foi exatamente o garoto que me chamou a atenção, até porque, eu geralmente queria distância de pessoas. O que me chamou a atenção foi o como aquelas duas garotinhas pareciam felizes tendo a atenção dele e o como ele parecia feliz em estar com elas. Aquilo era de fazer o coração de qualquer pessoa aquecer. E também daria uma foto incrível, ele sentado na areia enquanto aquelas duas pulavam de um lado para o outro, provavelmente em algum tipo maluco de brincadeira.
Apenas puxei a câmera para cima e olhei pela lente, ajustando o foco e o zoom para tirar a melhor foto do dia, definitivamente. E, no momento em que eu cliquei, o menino se virou para mim. E me viu. Tirando uma foto dele. Ai meu Deus. Meu coração foi parar na garganta e eu rapidamente abaixei a câmera, como se isso fosse mudar algo. Merda, merda, mil e uma vezes merda.
Comecei a entrar em pânico. Literalmente em pânico. Principalmente porque o garoto se levantou e começou a vir até mim. Quase tive um infarto. Eu podia correr, certo? Eu deveria correr! Mas minhas pernas tinham parado de funcionar e eu estava em choque e, ai, bosta! Porque eu não era capaz de fazer nada de útil, pelo amor de Deus?
-Hum, oi, tudo bem?- ele disse parando na minha frente. Bosta, bosta, bosta.
-Desculpa. Eu não deveria ter feito isso. É que achei muito bonitinho você e suas irmãs, quer dizer, acho que são suas irmãs, eu deveria ter perguntado algo antes mas ai ia estragar o momento e a foto não ia ficar verdadeira e eu sinto muito mesmo, vou apagar agora mesmo, desculpa.- eu soltei tudo de uma vez, em puro desespero. Meu Deus, eu falei mais nesses três segundos com aquele menino do que na semana toda. A situação tava mesmo crítica.
Levantei a máquina fotográfica para apagar a foto, mas o garoto segurou minha mão estendida para me impedir e ganhando minha atenção. Também me fazendo ficar ainda mais vermelha do que eu já certamente estava. Levantei a cabeça para olhar aqueles olhos lavanda e ele estava sorrindo.
-Calma. Eu só ia pedir pra ver, só isso. Não precisa apagar. - ele disse rindo. Que? Meu Deus, por um momento achei que ele ia ameaçar jogar um processo em mim! Mas ele estava tão calmo... Uau.
-Ah. Certo. Tá bom. - eu disse meio atrapalhada e estendi a câmera para que ele visse a foto.
Talvez tenha sido na hora da emoção do momento porque eu não gosto de mostrar as fotos que tiro para outras pessoas que não meus pais. Eu... Sinceramente, tenho medo de rejeição e críticas. Qualquer coisinha é capaz de destruir ainda mais meu psicológico já fodido. Então, lógico, fiquei super ansiosa enquanto aquele menino observava minha foto. Parecia estar levado uma eternidade. Droga, eu queria enfiar minha cabeça em um buraco.
-Ficou muito bonita. Quanto você cobra? - ele perguntou e eu franzi o cenho. Que? -Pela foto.
Ah. Ah. Ele achava que eu vendia as fotos que tirava? Quem me dera! Se um dia eu fosse boa o suficiente... Mas eu não era e duvido que alguém um dia iria querer comprar uma foto minha.
-Quem dera eu fosse boa assim.- eu disse. Ou meio que murmurei, sei lá. Ele riu.
-Você é boa. - ele disse. E, por algum motivo, aquilo me deixou feliz. -Espero que perceba isso um dia.
Ele me deu um tchauzinho e se afastou, voltando para onde as (agora eu tenho certeza) irmãs dele estavam. E, no final das contas, o dia não terminou tão ruim assim.
Bom dia meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Primeiro capítulo foi só uma coisinha mais simples pra vocês entenderem a mente da Akira e afins
Espero que gostem!
~AnaData: 24/08/21
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Destiny • Tokyo Revengers
FanfictionNa época da escola Akira Aikyo nunca foi boa em socializar com as pessoas, nunca foi boa em se comunicar. Mas Akira sempre havia sido boa em tirar fotos. E aquela sempre tinha sido sua melhor forma de se expressar. Anos depois, Akira se tornou uma d...