Seis meses depois
Eu me sentei no chão sem me importar com o como aquilo iria sujar minha calça jeans clara. Eu não me importava nem um pouco com aquilo, sinceramente. Eu daria tudo só para não estar sentando ali, naquele lugar vazio e triste, para ter aquela conversa. Puxei o cadarço do meu tênis numa tentativa falha de mandar embora toda aquela ansiedade que me atingiu em cheio e ameaçou acabar com o ar dos meus pulmões. Respirei fundo e olhei para o céu. O dia estava bonito; mas não importava se estivesse sol, vento ou chuva, eu sempre ia ali pelo menos uma vez por semana. Era minha forma de tirar toda a dor do meu coração, afinal.
-Sabe, pai, a mamãe conseguiu o que tanto queria.- eu disse olhando para aquela lápide, quase como se pudesse vê-lo, como se pudesse estar perto dele de novo. Mas eu não podia; porque ele tinha morrido, e eu nunca mais iria vê-lo. Assim como ele não estaria comigo e com minha mãe nos momentos mais importantes. -Ela sempre quis ser reconhecida, né? Parece que as coisas finalmente estão se acertando. Chamaram ela até para ir trabalhar na Itália, sabia? A gente vai se mudar no final do mês.
"Eu estou feliz por ela. Acho que talvez eu devesse estar mais feliz, mas não consigo. Porque é dificil sem você aqui para comemorar isso com a gente, sabia? Eu não queria ir embora de Tokyo, mas eu sei que sair daqui vai ser bom pra mamãe. Talvez seja bom pra mim também, quem sabe?"
Respirei fundo; fechei os olhos com força, tentando conter as lágrimas que ameaçavam sair. Droga, droga, droga. Eu não queria chorar; uma vez que eu começava, era impossível parar. E se minha mãe acabasse me vendo nesse estado, só a deixaria ainda pior. E eu não queria isso, de forma alguma. Eu só queria arrancar meu coração de dentro do peito até que ele se curasse. E queria mesmo que as coisas fossem bem mais simples do que realmente são.
-Eu vou aproveitar por nós dois, tá bom?
Eu me levantei, deixando ali uma das fotos mais recentes que eu tinha tirado. Ela era uma foto triste; todas as que eu vinham tirando eram cheias de melancolia. Até porque é dificil tirar uma foto feliz e alegre se você só se sente triste e sozinha. Ainda assim, meu pai amava minhas fotos. Então sempre que eu ia visita-lo, eu levava uma. Talvez aquela fosse a minha forma de lidar com a dor.
Quando saí dali, encontrei Yuzuha me esperando. Previsível; ela estava me vigiando nos últimos dois meses, como se eu fosse acabar cometendo alguma idiotice. Eu dei risada pensando no como ela parecia uma mãezona. Eu tinha dó dos filhos dela se ela um dia tivesse filhos! Ela me olhou e semicerrou os olhos, os braços cruzados.
-Rindo do que, Aikyo? - ela disse e eu balancei a cabeça, entrelaçando o braço no dela.
-Só dessa sua cara de quem vai cometer um assassinato.- eu brinquei e ela deu risada.
Pelo menos na vida de Yuzuha as coisas tinham se acertado, finalmente, depois que o irmão mais velho dela foi embora de casa. Ela e Hakkai estavam vivendo a vida tranquila que mereciam agora, sem os abusos de Taiju. Eu ficava feliz por aquilo; eles mereciam coisa melhor que aquele irmão de merda.
-Você precisa mesmo ir embora?- Yuzuha perguntou com um biquinho. Eu suspirei, olhando para o céu.
-Eu, sinceramente, não queria. Mas eu sei que vai ser... Melhor, sabe?- eu disse e ela assentiu.
-Bem, eu vou sentir muito a sua falta. Vê se não arranja outra melhor amiga enquanto estiver fora, viu?- Yuzuha disse me dando uma cotovelada de leve. Eu dei risada.
-Até parece que eu vou arranajar outra amiga, né, Yuzuha? Você é a única e vai continuar sendo a melhor pra sempre.- eu disse e ela riu.
-Eu quero só ver!
-Prometo que venho te visitar nas férias.- eu disse. Yuzuha me olhou.
-Todas as férias, todos os anos?- ela perguntou. Eu sorri.
-Todas as férias, todos os anos!
-Nesse caso eu deixou você ir.- ela brincou e eu ri, deitando a cabeça no ombro dela.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas aproveitando a companhia uma da outra. Minha amizade com Yuzuha era assim: o silêncio entre nós bastava. Nos entendiamos bem o suficiente. Eu podia dizer com toda a certeza do mundo que eu jamais teria amiga tão boa quanto Yuzuha.
Eu tinha enfrentado o inferno nos últimos meses, e Yuzuha ficou do meu lado em todos os momentos que eu mais precisei. Quando eu pensei em desistir de tudo, ela estava lá para me ajudar. Estava lá quando eu achava que aquilo nunca ia passar, para me abraçar e me dizer que tudo ficaria bem. E ela estava certa, afinal. Eu podia ainda sofrer, mas a dor, aos poucos, ia sumindo de dentro do meu coração. Por mais que eu soubesse que esse era o tipo de dor que jamais ia embora, não completamente.
E não importava em que país eu morasse, quantos anos tivessem se passado, eu sabia que Yuzuha Shiba sempre estaria no meu coração. Eu era grata a ela de milhares de formas diferentes mas, principalmente, por ter estendido a mão pra mim quando ninguém mais o fez. E por ter sido minha amiga, minha amiga de verdade.
Eu me virei para Yuzuha e dei um sorriso.
-Ah, eu vou sentir tanta a sua falta! O que vai ser de mim sem você, afinal?- eu disse e ela deu risada.
-Você vai morrer sem mim!- ela brincou e eu ri.
E, pelo menos aquele dia, aproveitei o tempo que ainda me restava em Tokyo. Porque eu não sabia quando eu voltaria para lá. E nem se isso chegaria a acontecer tão rápido assim.
E acabou a primeira parte da fanfic. Agora que a coisa começa a ficar interessante rsrsrs
~Ana
Data: 30/08/21
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Destiny • Tokyo Revengers
FanfictionNa época da escola Akira Aikyo nunca foi boa em socializar com as pessoas, nunca foi boa em se comunicar. Mas Akira sempre havia sido boa em tirar fotos. E aquela sempre tinha sido sua melhor forma de se expressar. Anos depois, Akira se tornou uma d...