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                         ANNABETH

Enquanto eu estava com Thalia na sorveteria, percebi o quanto ela era incrível. Me vi contando sobre praticamente toda minha vida a ela. Thalia fez o mesmo. Depois disso saímos da praça, fomos parando em algumas lojas, ela até comprou uma bota dizendo que hoje teria compromisso e precisaria estar uma tremenda gata (me contou isso nessas exatas palavras). Quando eu percebi, já eram 16h30. Meu Deus. Eu precisava ir à escola estudar, e fechava 18h. Até chegar lá seria meia hora perdida, ou seja, teria 1h para pegar toda matéria da semana anterior. Thalia viu meu desespero e se ofereceu para me levar, já que tinha carteira de motorista. Mas eu disse que não precisava, pois além de tudo precisaria do meu material. Liguei para o motorista da minha mãe e pedi para me levar, e aproveitar para pegar minha mochila.

  Dito e feito. Cheguei na escola exatamente 17h e corri para a biblioteca fazer o máximo que eu conseguisse. Tinha prometido para mim mesma me adiatar na vida acadêmica. Sabe, às vezes sinto que preciso parar de exigir muito de mim mesma.

  Depois de tanta matéria na cabeça (nem tinha muita coisa, mas sempre que eu começava a estudar, ia além), olhei para a janela e vi o céu escuro. No relógio da parede, o ponteiro apontava para as 20h. Eu tinha passado dos limites. Fecharam a escola e nem me notaram aqui dentro? E agora?

  Liguei o telefone e havia uma mensagem de minha mãe.

"Que horas a escola fecha, filha? Venha para casa. Não tem problema deixar para continuar outro dia."

  Saí correndo para a entrada, mas para meu alívio estava aberta. Não só aberta, mas escancarada. E por algum motivo tinham alunos entrando. Será que era algum tipo de atividade extracurricular noturna?

  Resolvi segui-los para ver onde aquilo daria e a coisa cada ficava vez mais estranha, todos estavam entrando no quartinho de limpeza e simplesmente não voltavam. Que magia era aquela? Aquele lugar era um cubico. Foi aí que eu percebi algo de diferente. No pulso de todas as pessoas que estavam entrando, havia uma pulseirinha azul, como a mesma que eu achei mais cedo. Liguei os pontos e lembrei que Thalia também havia a recebido, e de tarde comentou de ter um compromisso. Provavelmente havia uma espécie de porão lá dentro, e algum acéfalo teve a brilhante ideia de organizar um clube de festas lá.

  Lembrei que minha pulseirinha ainda estava na mochila, então peguei e fui em direção ao quartinho. Estava escuro, mas pude ver alguém sentado em uma cadeira analisando o pulso de cada um para não ocorrer algum caso de penetra. Mas ele com certeza não esperava por mim.

  Percebi que a pessoa era nada mais nada menos que Frank, da aula de biologia. Quando me viu, arregalou os olhos.

— Annabeth?

— Oi, Frank! — digo animada, fingindo naturalidade. Mostro meu pulso com a pulseira para o garoto e ele parece desconfiar um pouco. — Que foi?

— Não, nada! — Ele claramente ficou sem graça. — É que você é nova e tal... não sabia que já tinha arrumado amizades pra te convidarem pra cá.

— Pois é, né...

  Não falei mais nada e ele ficou me encarando. Como se tivesse acabado de lembrar de algo, se levanta e começa a abrir caminho em meio a umas vassouras e espandores, até uma portinha poder ser vista. Ele abre ainda meio confuso.

— Boa festa...

  E eu entro.

  De cara comecei a ouvir uma música absurdamente alta e me perguntei como não poderia ser ouvida do lado de fora. Isoladores de som, é claro. O lugar estava repleto deles. Enquanto descia as escadas estreitas pude perceber que aquilo era uma festa muito bem bolada, apesar de casual. Tinha até open bar. Se a escola descobrisse isso, deuses...

  Tentando me localizar e passar em meio àquela multidão encontrei Grover conversando com uma menina de cabelo verde. Ele parecia super interessado, mas me viu e falou com a menina que já voltava.

— Annabeth! Não sabia que tinha sido convidada!

— Oi, Grover. — Minha cara estava totalmente assustada. — O que está acontecendo aqui?

Ele fica confuso.

— Como assim, Annabeth? Achou que a festa teria menos gente?
 
   Não aguentei e o puxei para um canto.

— Vou falar a real, Grover. Não fui convidada coisa nenhuma. Parei aqui dentro por total acidente — gesticulo bastante para ele conseguir me ouvir com aquele som alto. Vejo sua expressão mais confusa do que já estava antes. — É uma longa história, depois eu conto. Mas e agora? Se o diretor descobrir isso? E souber que eu sabia mas não falei nada? Ai meus deuses, Grover! Tô num caminho sem volta.

— Calma, Annabeth! Não se desespera! — ele grita enquanto é espremido por um cara do time de futebol. — Relaxa, tá? Eles têm todo um plano. Mas por favor, não fala nada pro diretor. Aí que sua fama fica ruim pro colégio todo.

— Você não entende, Grover. As consequências podem ir pro meu currículo.

— Annabeth, olha em volta. Olha o tanto de gente que tá junto nessa. Só quem vai ser punido é o povo que organizou, e caso descubram. Mas não vão descobrir — ele me lança um olhar de pelo-amor-de-deus-não-nos-dedure.

— Onde eu fui me meter... — Murmuro mais para mim mesma mas sei que ele conseguiu ler meus lábios. Saí de lá à procura da saída, mas aquele lugar enchia cada vez mais. Como eles queriam que aquilo fosse secreto? Claro que alguém deduraria. E se me vissem ali eu estava ferrada. Ok, tem muita gente junto nessa. Mas é um peso enorme ser filha de alguém importante, pelo contrário do que todos pensam. Qualquer coisa que eu fizer posso sujar o nome e reputação da minha mãe junto, e aí sua carreira vai por água abaixo. Durante todos esses anos me esforcei para não ter problemas com isso, pois caso tivesse, não importava quantas pessoas estavam envolvidas, meu nome sairia em destaque. "Filha de Atena Chase, escritora e apresentadora, comete grande ato de vandalismo". Ok, não é pra tanto.

   Andava em meio à multidão ainda pensando nas consequências, mas logo volto pra realidade assim que sinto um líquido gelado caindo em cima de mim, da minha roupa inteira e ainda por cima na minha mochila onde estavam todas as apostilas. Julgando pelo cheiro, cerveja. Mas era uma bandeja com vários copos, e quando olho para ver quem foi o culpado por esse ato burro e insensato, vejo aqueles olhos verdes que já estou começando a me familiarizar de tanto ver.

𝐏𝐀𝐑𝐓𝐘 𝐂𝐋𝐔𝐁 - percabeth.Onde histórias criam vida. Descubra agora