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ANNABETH

A casa de Jackson era aconchegante. Cheirava maresia e havia uma parede com pranchas penduradas. Um total contraste com sua personalidade, animada e calorosa. Quer dizer, essa é a visão que eu tenho dele. Nunca me permiti aprofundar em seu jeito.

- Seu pai surfa? - pergunto, enquanto analiso os objetos.

- Antigamente sim. Hoje em dia, o trabalho não deixa. Inclusive agora, ele deve estar lá em cima trabalhando.

- E ele não vai perceber minha presença? - Não é possível que seja tão desligado.

- Claro que vai. Mas não é como se ele estivesse desacostumado a perceber presenças de garotas em casa depois de alguma festa. Então nem vem atrapalhar - seu sorriso é engraçado.

- Meu Deus, Percy Jackson. Você é um galinha.

- A culpa não é minha que eu seja o rei delas.

- Melhor você ficar de boca fechada antes que suas palavras me deixem surda.

- Se liga, sabidinha - ele joga uma toalha pra mim, e mostra a direção do banheiro.

Antes de vir, procurei Thalia e pedi seu celular para se comunicar com minha mãe. Avisei que dormiria na casa da minha nova melhor amiga e deu tudo certo. Ela amou a ideia inclusive, pois "eu estava fazendo amizades muito rápido". Mas eu não tinha pensado em um detalhe. Agora eu teria que dormir na casa de Jackson? Eu me recuso. Ok. Ele foi muito generoso comigo. Mas primeiramente nem sei porque diabos aceitei isso sendo que poderia ter ido pra casa da própria Thalia de verdade.

Acabei o banho e vesti roupas extremamente largas enquanto as minhas estavam lavando. Naquela casa não havia nada em um tamanho feminino, inclusive nem sei se a que eu estava usando no momento era de Percy ou do pai. Sinceramente, estava com medo de descobrir.

Quando saí do banheiro, encontrei um Percy animado na frente da TV procurando algo na Netflix.

- Fiz pipoca! - ele levanta o balde para me mostrar. Suas meias eram de patinhos de borracha, e eu ri ao vê-las. - Que foi? Quer uma meia dessa?

- Valeu, mas passo.

- Quer assistir o quê?

Então era isso, Percy estava me chamando para assistir um filme com ele? Não é possível que ele não perceba que estou brava.

- Não vai responder? - Ele me olhou triste. E talvez eu tenha sentido pena. Talvez.

- Você derrubou cerveja em mim. Você estragou meu celular. Você pode acabar com meu histórico escolar, e depois de tudo isso me chama pra assistir um filminho como se nada tivesse acontecido?

Eu ateei o fogo no graveto. Vi a raiva em seu olhar e ativei um Percy furioso.

- É sério isso, Annabeth? Eu ofereço minha casa na maior boa vontade, te empresto roupas, faço o máximo pra te ajudar e você diz isso? Não sei se você viu, mas olha ali seu celular na bancada mergulhado no arroz. Eu coloquei enquanto você estava no banho. E outra, já te disse que foi sem querer. Por que derrubaria cerveja em você de propósito? Não sei qual a imagem que você tem de mim, mas não sou um babaca. - Ele vira o rosto, mas volta como se tivesse lembrado de algo. - Talvez eu até seja, por ter acreditado que você era diferente.

Ele entrou no banheiro e se trancou, me deixando sem saber o que fazer. Estava sem palavras. Talvez eu tenha sido grossa demais. Não! Claro que não, Annabeth, esse garoto que é um pirado sensível. Mas seus olhos. Acho que por sempre vê-los alegre, (pois por incrível que pareça já vi muitas vezes) me desacostumei ao ver desse jeito.

Ele acreditou que eu era diferente. Diferente do quê? De não ser mandona? De ser gentil e amigável? Nunca iria esquecer de tudo rapidamente, e se ele saísse daquele banheiro comigo aqui, o clima seria estranho. Tentei me lembrar das palavras de Rachel, que eu deveria moldar meu destino com calma. Mas o certo a se fazer agora, ou pelo menos o que eu acho, é ir embora. Talvez Percy não faça parte do meu futuro, aliás. Peguei todas as minhas roupas e fui embora com o conjuntinho ridículo de moletom que ele havia me emprestado.

O cheiro de maresia impregnado na minha roupa me tranquilizava enquanto eu caminhava pelas ruas desertas mais do que eu queria admitir. Eu não fazia ideia para onde ir, e percebi tarde demais que havia deixado o celular mergulhado no arroz. Droga. Mas mesmo assim, não adiantaria nada. Ele está estragado.

Achei um orelhão e foi minha única escolha. Eu só sabia 3 números de cabeça na minha vida.

1: O do meu pai. E ligá-lo está fora de cogitação, já que além de estar muito tarde ele vai morrer de preocupação.

2: Da minha mãe. Mas ela pensa que estou na casa de Thalia.

3: Luke. Quando eu tinha 13 anos resolvi decorar seu número para ligar para ele com qualquer mínima desculpa. E minha situação atual era uma das boas.

Mas ele descobriria que eu sei o número dele de cor. Quer saber, não ligo. Quando menos percebi, o telefone já estava chamando.

- Alô? - Ouvir aquela voz rouca me deu saudades.

- Luke! É a Annabeth.

- Annabeth? Que número é esse?

- Escuta, eu não sei para onde ir. Meu celular estragou e minha mãe não pode saber que eu não estou na casa de uma amiga, agora não tenho rumo. Por favor, não me pergunte muito.

- Deuses. O que está acontecendo? Desculpa, isso é uma pergunta. Mas eu preciso saber, Annabeth. Você nunca foi de sair escondida.

- É, eu sei. Mas eu tô tentando evitar problemas futuros com o meu nome que nem fui eu que criei. É uma história meio complicada.

- Eu espero que isso não tenha a ver com ninguém que você se meteu. Mas o que eu posso fazer? Ligar para alguém?

Nessa mesma hora, alguém toca em meu ombro. Me viro num susto esperando o pior, mas era apenas Jackson.

- Fiquei preocupado, loirinha.

Enquanto isso, Luke estava na linha.

- Tem alguém aí com você?

- Deixa pra lá, Luke - falo. - Me desculpa de verdade por atrapalhar sua noite.

- Tá tudo bem, Annabeth? Você tá segura? - Ele estava realmente preocupado.

- Tecnicamente sim. Muito obrigada por ajudar, viu? Saudades.

E assim eu desligo, evitando mais perguntas. Me viro furiosa para o moreno atrás de mim.

- Estava tentando me comunicar com Thalia.

- Ué, não era um tal de Luke?

- Acontece que é o único número que eu sei de cor. - Percebi que Percy pensava sobre a posição do Luke em minha vida. - Ele é um amigo. Não que eu te deva satisfações. Por que você veio atrás de mim?

- Annabeth, eu saio do banheiro e você simplesmente evaporou junto com suas coisas. Essa não é uma boa hora para estar perdida, e seu telefone está lá em casa.

- E o que você sugere que eu faça? - Pergunto.

- Se você não se sentir confortável dormindo na minha casa, eu posso ligar para Thalia. Essa hora a festa já deve ter acabado.

A festa, verdade. Ele saiu da festa por minha culpa. Talvez tudo isso não tenha sido o mínimo a se fazer. Preciso de tempo para pensar.

- Vou ligar para Thalia.

Percebi uma esperança indo embora do rosto de Percy. Ele queria que eu ficasse, é?

O garoto me emprestou o telefone e eu liguei. Minutos depois, Thalia apareceu num carro com Jason. Me despedi de Jackson rapidamente e entrei, esquecendo de novo, o bendito celular.

𝐏𝐀𝐑𝐓𝐘 𝐂𝐋𝐔𝐁 - percabeth.Onde histórias criam vida. Descubra agora