Todo seu

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     Lucas nem ao menos hesitou. Retribuiu no mesmo instante e agarrou minha cintura, como se certificasse que eu não iria a lugar algum.

     O beijo foi profundo, quente e saudoso. Memórias de nós dois jovens começaram a inundar minha mente e meu coração transbordava. Eu estava ávida por mais. Mais beijos, mais sentimentos, mais profundidade e mais contato. Ficamos tanto tempo separados, mas aquela paixão não parecia desbotada. Pelo contrário, parecíamos sedentos e desesperados, ambos ansiando por algo além.

    Subi minhas mãos pelo seu peito e parei ao encontrar o primeiro botão de sua camisa. Desabotoei um por um, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Ele se afastou, procurando meu olhar. Sorri, mordendo o lábio e ele retribuiu, nossos olhos denunciando nossos desejos.

    Lucas me conduziu até o quarto e voltou a me beijar. Tirei meu tênis e ele me acompanhou, as lembranças continuavam passando como um filme. Tirei sua camisa e admirei seu físico, já não era tão musculoso como na adolescência, mas aquela diferença lhe caia bem junto com a barba por fazer.

    — Esperei tanto por isso — Ele sussurrou entre beijos.

    Eu o empurrei, obrigando seu corpo a aterrissar na cama. Seu olhar era selvagem e o sorriso continuava estampado.

    — Hoje você é meu — disse enquanto largava minhas roupas no chão e o via se despir por inteiro.

    Naquela noite nós nos deliciamos com a saudade, dançamos com a nostalgia e nos inundamos de paixão. Fomos vorazes e eletrizantes, completamente diferentes da doçura juvenil de nossa primeira vez.

    Passeei por estranhos caminhos conhecidos. Sabíamos o que estávamos fazendo, mesmo que no meio do caminho seu relógio ficou preso em meu cabelo, e em outro momento eu dei uma cotovelada em suas costelas.

    Corpos que se amavam, atraídos um pelo outro, em uma conexão de almas. Quando terminamos, ambos estávamos suados e ofegantes. O sexo nunca tinha sido tão bom. Até mesmo melhor que antigamente.

    — Uau — limitou-se a falar.

    — Uau — repeti, sorrindo.

    Depois de alguns longos minutos deitados contemplando o teto, fomos tomar um banho. A água fria era bem-vinda, esfriando nossos corpos e levando embora o suor. Nos permitimos demorar um pouco, ensaboando e massageando um ao outro.

    Parecia que eu estava em um dos vários sonhos que tive ao longo daqueles anos. Sentindo o calor de seu toque, convenci-me que era real. Aquele homem ali ao meu lado era a materialização de todos os meus sonhos desejosos. Algumas lágrimas de felicidade saíram de meus olhos, misturando-se a corrente de água do chuveiro. Aquele dia tinha sido de fortes emoções e minhas pernas pareciam bambas.

    — Você precisa voltar para casa? — Olhou-me suplicante.

    — Não necessariamente — sorri.

    — Precisa avisar seu pai? — Pegou toalhas para nós.

    — Não, eu moro sozinha — disse, passando a toalha nos cabelos. — Concordamos que ele e Cléo precisavam de um canto só deles.

    — Entendi... — coçou a cabeça — Cléo é um nome legal.

    — Cléonara, na verdade — fiz uma careta —, mas ela me fez prometer não pronunciar o nome todo.

    — Onde você mora agora? — começou a se vestir.

    — Algumas quadras daqui — fiquei apenas de calcinha e blusa.

   — Sério? — arregalou os olhos.

    Dei de ombros e o beijei. Parecia tudo tão natural, como se nunca tivéssemos nos separado. Deitamos novamente e ficamos olhando um para o outro.

    — Até agora não estou acreditando que você está aqui — Ele falou, passando a mão em meu rosto.

    — Parece que voltamos no tempo, mas mesmo assim as coisas estão diferentes — entrelacei meus dedos com os dele.

    — Você lembra quando me contou sobre Caio? Um pouco depois sobre o lance da sua avó — comentou, com uma expressão indecifrável.

    — Lembro... — fiquei incerta sobre onde aquilo levaria.

    — Eu acho que nunca chorei tanto na minha vida — Ele riu sem humor —, percebendo que você tinha seguido em frente.

    — Você chorou? — olhei-o incrédula.

     — Eu não sou de ferro, Nana — Ele me olhou envergonhado. — Posso tentar ser firme o tempo todo, graças a criação dos meus pais, mas eu não sou desprovido de emoções.

    — Essa me pegou de surpresa — comentei, voltando a olhar para o teto —, porque eu também chorei muito naquele dia. Talvez uma parte de mim quisesse que você sentisse raiva, não sei. Mas você ficou tão calmo que fiquei pensando se você também já tivesse seguido em frente. Eu sei que eu não deveria sentir essas coisas, mas é verdade.

    — De certa forma era errado, se você pensar que estava com Caio — Ele disse —, mas fico feliz em saber disso. Que não só eu fiquei triste com a situação.

    — O que você fez durante esse tempo? — mordi o lábio. — Digo, você conseguiu namorar outras pessoas?

    — Tive uma namorada — revelou. — Ela era ótima. Tinha uma visão boa do que queria, era carinhosa, gentil, atenciosa, nunca falava alto em momento algum...

    — Parece perfeita — suspirei.

    — Esse era o problema — olhou-me de relance —, ela era perfeita demais. Parecia que sempre sabia o que falar e o que fazer nos momentos certos, parecia que me conhecia tão bem que conseguia desvencilhar de discussões.

    — Quanto tempo ficaram juntos?

    — Um ano — Ele fechou os olhos —, até descobrir que meus pais fizeram ela ficar comigo e minha mãe dizia tudo que ela deveria fazer para ser a mulher perfeita para mim.

    — Como assim? — apoiei-me nos cotovelos e o encarei boquiaberta.

    — Isso mesmo — Ele riu —, eles basicamente estavam pagando a menina para ficar comigo. Era tipo uma mesada que ela recebia, e ela também sabia que o futuro estaria garantido, com as empresas e a herança que eu tenho. Um dia minha mãe mandou uma mensagem por engano para mim, foi aí que comecei a questionar e cheguei aos fatos.

    — Nossa! — arregalei os olhos. — Eu sei que seus pais são manipuladores, mas isso beira a loucura.

    — Eu que o diga — suspirou pesadamente. — Por isso queria abrir minha própria empresa desde o começo. Assim, eu consigo me afastar deles o máximo possível. Eu sei que não vou me livrar disso totalmente, afinal são minha família, mas pelo menos a manipulação pode ser menor agora. Eu espero.

    — Vejo que eu tenho sorte de ter meu pai — voltei a deitar, agora com a cabeça em seu peito.

    — Seu pai é um dos homens mais íntegros e sensacionais que já conheci. Um verdadeiro exemplo de pai - beijou minha cabeça.

    Fiquei de olhos fechados, sentindo o seu cheiro e apreciando aquele momento. Não sabia o que nos aguardava para o futuro, mas com certeza aquele momento ficaria registrado em minha memória para sempre.

    Ter feito sexo com ele conseguindo ver seu rosto era uma experiência completamente nova. Era como se eu me sentisse completa. Como se no passado faltasse algo que na época eu não imaginava que seria importante.

    — O que será de nós agora? — virei-me para ele.

    Ele ficou um tempo apenas me observando, traçando caminhos pelo meu braço com seu dedo.

    — O que você quiser — sorriu levemente. — Eu sou todo seu, meu amor.

Rostos BorradosOnde histórias criam vida. Descubra agora