Uma noite cheia de rostos desconhecidos e muita música extremamente alta, estava me aguardando.
Era sábado a noite, e estaria morta se não acompanhasse Rafa na boate do centro, pelo menos foi o que ele disse em uma mensagem.
— Posso levar você lá, se quiser — Meu pai disse, enquanto digitava incansavelmente em seu notebook.
— Tudo bem. Vejo que você tem um novo projeto pela frente. Rafa disse que o primo dele ia dirigir. Espero que ele seja fã de "lei seca" — Fiz careta.
— Eu também — Ele comentou distraído.
Fiz um cappuccino e coloquei ao lado do notebook para ele e fui me vestir para sair. Eu não gostava muito, mas sabia que Rafa poderia aprontar um escândalo se eu não fosse. "Pelo menos lá tem lugares para sentar"
A música eletrônica estava ensurdecedora. Rafa fez sinal dizendo que ia pegar bebidas, e eu fui em direção ao nosso lugar favorito.
A boate tinha um espaço ao ar livre nos fundos com bancos, mesas e sofás espalhados. O barulho não era tão alto ali, o que era um alívio para mim. Sentei em um sofá embaixo de uma árvore com luzes penduradas. Ali era nosso lugar favorito. Rafa chegou com nossas bebidas, e trazendo outra pessoa consigo.
— Rosa — Ele sussurrou para mim, entregando um copo.
— Oi, Rosa — cumprimentei animadamente.
— Ei, Ana! — ela acenou — Bom ver você por aqui. Faz tempo desde a última vez.
Me limitei a concordar e sorrir. Rosa era uma amiga de Rafa do teatro. Eu gostava dela, mas aparentemente ela preferia manter distância de mim.
— Que blusa bonita comentei, observando a blusa vermelha apertada e o decote grande.
— Eu sei — concordou e saiu arrastando Rafa para dentro.
Eu fiquei sozinha com meu copo. Uma ótima chance de derramar metade na árvore e deixa-lo de lado na mesa. Não me leve a mal, mas eu não gostava de álcool. Minha tia paterna morreu por causa de um imbecil que não sabia o que era "moderação".
— A árvore agradece — Alguém sussurrou em meu ouvido.
Minha nuca arrepiou, não parecia ser alguém que eu conhecia.
— A gatinha é muda? — perguntou.
— A "gatinha" não está interessada, obrigada — cortei seu cortejo.
— Não seja assim, anjinho — ele pegou meu braço com força. — Uma menina bonita como você precisa saber se comportar.
O bafo de álcool era o suficiente para me deixar enjoada. Mal começara a noite e ele já estava daquele jeito.
— E um garoto como você deveria saber como tratar uma pessoa — devolvi, empurrando seu braço. — Seja esperto e vá embora daqui antes que eu chame o segurança.
Ele grunhiu, descontente, olhou para o lado e saiu em direção a outra mesa.
Peguei o celular e comecei a jogar algo aleatório para passar o tempo. Depois de pelo menos uma hora entretida, ouvi uma discussão atrás de mim.
— O pagamento está atrasado, cara! — Alguém gritou. — Você acha que vamos continuar andando contigo?
— Espera! — Eu conhecia aquela voz. — Meu pai atrasou a mesada esse mês, mas vocês vão receber. Que tal receberem um pouco a mais?
— Não me interessa! Se eu e os meninos não recebermos o pagamento até amanhã, Lucas, não vamos continuar saindo contigo. Se quiser, nos pague o dobro.
Não deu tempo de ver o que aconteceria em seguida. Rafa apareceu, colocou uma placa de "reservado/ocupado" no centro da mesa e me arrastou para dentro da boate. Não protestei, já era hora de me divertir um pouco.
O tempo que passei lá fora foi o suficiente para o lado de dentro encher por completo. Corpos dançando, suados, felizes e cheios de energia. Comecei a dançar conforme a batida, os rostos tão embaralhados pelos movimentos que me fazia sentir bem.
Um garoto chegou perto, ficando de frente para mim. Ele pegou minha mão e me acompanhou na dança. Dei meia volta, ficando de costas para ele e rebolei indo até o chão e voltando. Olhei para trás lançando um sorriso para ele e depois me virei novamente.
Alguém segurou minha cintura por trás, puxando-me para perto.
*Uma dica: se você for chegar em alguém em uma boate, não chegue por trás se esfregando. Principalmente se você for um homem. Seja legal como o primeiro cara e chegue pela frente.*
Lancei meu cotovelo para trás, acertando em cheio o estômago de seja lá quem fosse. Ele pegou meu braço e me virou para ele. Consegui ouvir com dificuldade um "sua puta atrevida". Era o mesmo maluco que tinha chegado em mim na mesa, reconheci seu relógio enorme.
O cara que estava dançando comigo se colocou entre nós, chegou perto do imbecil e disse algo em seu ouvido. Foi o suficiente para ele sair dali.
Disse um "obrigada" e continuei a dançar com ele.
— Você está acendendo minha fogueira, gata — Ele sussurrou perto da minha orelha.
Me arrepiei, mas dessa vez foi pela cantada horrível. Minha vontade de ficar perto dele caiu para zero.
— Eu sou o fogo que destrói sua fogueira, garoto — disse de volta, e saí de perto dele.
Entrei no banheiro, ignorando minha imagem no espelho. Mandei mensagem para Rafa, aquela noite já estava precisando acabar.
"Pode ir, amiga, não se preocupe comigo"
Chamei um Uber, tentando não ficar com mais raiva do que já estava. Eu só queria me divertir, mas um babaca me assediou duas vezes, o garoto que parecia legal tinha cantadas horríveis e agora meu melhor amigo me abandonou para ficar curtindo com sua amiguinha.
A noite estava encerrada ali. Fiquei do lado de fora da boate esperando minha carona paga. "Aquele não era o garoto do colégio?", pensei, lembrando da discussão que tinha ouvido mais cedo.
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Rostos Borrados
RomanceJá imaginou não conhecer a si mesmo? Rostos borrados, desconhecidos amigos, nenhum traço. Ana é uma garota sem rosto. E todos a sua volta também. Em meio a multidão desfocada, um amor da infância ressurge em sua vida depois de seis anos. Será que el...