A vadia e um brutamontes

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    — Você acha mesmo que eu vou deixar você faltar uma semana, mocinha? — Meu pai estava irritado.

    — Mas Rafa está aqui! — respondi de volta.

    — Não importa se ele está aqui. Você não vai ficar faltando aulas ou ficar saindo por aí — Ele colocou a caneca na mesa com força - Eu sei que você está passando por um momento difícil depois de Lucas ter ido embora, mas isso não é desculpa!

    — Mas pai... — tentei argumentar.

    — Ana! — Nunca tinha visto ele tão nervoso — Já disse que não! Essa é minha decisão final.

    Abri a boca para falar, mas ele me olhou com raiva, fazendo-me engolir as palavras.

    — Vá para o seu quarto, agora! — espalmou as mãos na mesa, levantando-se.

    Olhei para ele com espanto, sem entender porque estava daquele jeito. Entrei em meu quarto e sentei na cama.

    — Nunca vi ele assim, Rafa — sussurrei. — Alguma coisa está errada.

    — Também acho — levantou-se e começou a andar pelo quarto. — O que você acha que pode ser?

    — Eu não sei... — cocei a cabeça e tentei repassar os últimos dias.

    — Será que tem algo a ver com sua avó? — ponderou. — Faz tempo que não ouvimos falar dela, mas será que seu pai sabe de alguma coisa?

    — Aquele lance com o André foi há meses... — levantei da cama e comecei a andar também —, se ela quisesse fazer alguma coisa, acho que já teria feito.

    — Mas explicaria o seu pai estar assim — Ele parou de frente para mim —, não vejo outro motivo para ele ficar tão bravo. Ainda mais sobre você sair.

    — Eu sei que a gente deveria ter cuidado, mas... — hesitei. — Eu não posso deixar de viver e ficar trancada em casa.

    — Não sei o que podemos fazer, sinceramente — deu de ombros. — Nós não sabemos muito sobre ela, ou onde ela poderia estar.

    — Também não sei — Me dei por vencida.

    Ouvimos meu pai batendo na porta e a abrindo.

    — Ana... — Sua voz estava baixa e cheia de arrependimento.

    — Está tudo bem — afirmei.

    — Desculpe — Ele continuou, enquanto passava a mão na nuca —, nada de faltar aula, mas acho que não tem problema você sair um pouco. Só... tenha cuidado.

    — Tudo bem! — dei um beijo em seu rosto e o assisti saindo do apartamento.

    — Quer sair um pouco? — Rafa falou com um sorriso travesso. — Ouvi dizer que alguém vai fazer uma festa hoje.

    — Hoje não é quarta-feira? — franzi a testa.

    — Eu não fico perguntando a razão dessas pessoas — revirou os olhos.

    — Certo — bufei —, pelo menos vamos fazer algo divertido enquanto você está aqui.

    Ele já estava com o celular em mãos, digitando freneticamente.

    Troquei minhas roupas e fiquei na sala esperando o "princeso" se arrumar. Meu celular tocou e o rosto de Lucas apareceu. Meu coração deu um mortal para trás e eu quase deixei o celular cair.

    — Oi? — atendi.

    — Nana? — Ele falou do outro lado. — Desculpe não ter ligado nos últimos meses, como você está?

    O celular foi arrancado de minhas mãos e Rafa suspirou.

    — Oi, aqui é o Rafa. Ela está bem, mas agora precisa ir embora. Tchau, Lucas — respondeu em meu lugar e desligou.

    — Rafa! - protestei. — Por que fez isso?

    — Ana, pelo amor... — revirou os olhos, irritado. — Você demorou meses para ficar melhor. Uma ligação dele é o suficiente para você entrar no fundo do poço de novo.

    — Você não sabe disso — protestei mais um pouco.

    — Não vou arriscar sua saúde mental assim. E nem você deveria — Ele foi até a porta. — Vamos?

    — Você e a Naty estão impossíveis — desisti de argumentar e fomos para a festa que ele queria.

    — Ei, olha por onde anda! — Uma garota loira trombou em mim assim que chegamos.

    Ela continuou andando como se nada tivesse acontecido. Mal tinha chegado e já estava sem paciência para ficar ali.

    — Amiga, hoje é dia de se divertir — Rafa me lembrou.

    — Certo... — respirei fundo.

    Fomos diretamente para a sala onde as pessoas estavam reunidas. Uma música frenética tocava, enquanto corpos dançavam despreocupadamente. Rafa pegou minha mão e me fez o acompanhar em alguns passos de dança que inventamos quando ele ainda morava por aqui. Eu gargalhava, super animada, lembrando da época que nos divertimos juntos, sem preocupações.

    Aquelas pessoas juntas me faziam lembrar as festas que eu ia com Lucas, e como nós estávamos felizes juntos. Uma onda de melancolia me acertou em cheio, deixando-me tonta e com falta de ar. Falei para Rafa que ia buscar algo para beber e logo saí para a área da piscina, fugindo da massa de pessoas. Sentei em uma espreguiçadeira e fiquei ali, pensativa.

    Sentada ali me fez pensar quando beijei Lucas pela primeira vez, mesmo não sabendo que era exatamente ele. No céu noturno as estrelas brilhavam e a lua sorria para mim com simpatia.

    — O que uma moça bonita como você está fazendo aqui sozinha? — Alguém sentou na espreguiçadeira ao lado.

    — Apenas aproveitando a noite — respondi com ar de poucos amigos.

    — Não seja tão arisca, gatinha — Ele se aproximou de mim.

    — Tudo bem, cara — revirei os olhos mentalmente —, você pode passar para a próxima garota, eu realmente não estou interessada.

    — Não se faça de difícil — Ele pegou em meu braço.

    Aquilo me fez lembrar o homem babaca que tinha me abordado em uma boate ano passado. Lucas tinha me ajudado...

    — Não estou interessada — repeti e me levantei, libertando meu braço.

    — Você se acha muito gostosa, não é? — falou com raiva e ficou de frente para mim — Só porque Lucas te comia não significa que você é tão bonita assim.

    — Olha aqui, garoto — O calor da raiva subia para o meu rosto —, não me importo com o que você acha, mas você não pode falar assim comigo!

    — O quê? — ele sorriu — Não posso falar que você é uma vadia?

    — Eu não sou uma vadia! — vociferei e o empurrei. — Imbecis de gatilho rápido como você só vão conseguir ficar com garotas de mentes vazias, seu babaca.

    — O que você disse, piranha? — Ele deu alguns passos, vindo para cima de mim.

    — Além de burro é surdo? — cerrei os punhos, se ia apanhar pelo menos eu cairia batendo também. - Eu sei que você não aguenta três minutos. Quer se fazer de machão, tudo bem, mas faça isso longe de mim!

    — Sua vadia! — aproximou-se mais um pouco, ficando a poucos centímetros.

    — O que foi? — debochei. — Seu vocabulário de xingamentos é tão limitado assim?

    — Sua... Sua... — Ele parou por um momento — Sua puta.

    — Parabéns — bati palmas lentamente -, agora você sabe três xingamentos.

    Ele bufou e levantou o braço. Eu não recuei e tentei não mostrar que estava com medo, mas juro que minhas pernas tremiam. Era hoje que eu levaria uma surra de um brutamontes.

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