— Ei! - Rafa protestou — essa é a melhor parte, babaca!
Peguei um pedaço de bacon do lanche dele, só para irrita-lo.
Recebi uma mensagem no celular. Hades apareceu na tela.
"O que está fazendo? Estou entediado. Vamos sair?"
"Não posso. Estou com Rafa, ele vai embora amanhã"
Mandei uma carinha triste para ele, enfatizando que queria um dia para mim e meu melhor amigo, independente do nosso trato.
— Com quem você está conversando? — perguntou, curioso.
— Ninguém especial — falei casualmente.
— Ana... — Ele me olhou desconfiado.
— Está bem — revirei os olhos. — Tem um garoto...
— EU SABIA! — Ele gritou.
— Calma! — devolvi, tentando fazer ele ficar quieto. — É um garoto do colégio. Ele está querendo ser meu amigo, sei lá porquê. Agora ele fica me mandando mensagem querendo me encontrar.
— Ana! — arregalou os olhos. — Você tem um pretendente e não me contou?! Você não pode dispensar ele, sua louca!
Ele pegou o celular da minha mão, digitou alguma coisa e me devolveu.
"Mudei de ideia. Nos encontre no parque de diversões"
— Rafa! — falei enquanto lia a mensagem, — Quem é o babaca agora?!
— Quero conhecê-lo — disse, dando de ombros. — Se tem alguém interessado em você, acho melhor investir. Faz muito tempo que você não fica com alguém.
— Não precisava fazer isso — murmurei de mau humor.
Eu sabia que discutir com ele não era uma opção. Íamos fazer aquilo e ponto.
{No parque...}
Era enorme. Tantos brinquedos e barracas que eu nem conseguia contar. Fazia anos que não ia naquele lugar, e, ainda assim, parecia mágico como da primeira vez.
Rafa me deixou sozinha, para buscar um garoto em casa (ele não queria ficar "sozinho")
Fiquei perambulando pelo parque, vendo as opções que tínhamos. Era uma hora da tarde, então tínhamos muito tempo para matar.
Alguém esbarrou em mim e derramou um copo inteiro de refrigerante na minha camiseta branca.
— Ei! — exclamei tentando chamar atenção.
A garota continuou seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Fiquei com raiva e frustrada ao mesmo tempo. O dia mal começara e eu já estava pegajosa e molhada.
Ouvi um assobio e um cara disse "camiseta molhada combina com você". Olhei em sua direção e mostrei o dedo do meio, saindo logo em seguida.
Fui até o achados e perdidos, na esperança de que alguém tivesse esquecido alguma roupa lá. A moça foi gentil, e disse que poderia me dar as roupas catalogadas como mais antigas.
Acabou que as roupas não eram exatamente o que eu estava pensando. Tinha um short preto curto de ginástica e uma camiseta de garoto que parecia um vestido curto para mim. Era isso, ou uma fantasia de coelho macabro fedendo a chulé.
Estava me sentindo um pouco desconfortável, mas era melhor que ficar molhada de refrigerante.
Agradeci a moça e lhe deu umas gorjetas pela ajuda.
— Ana? — Alguém me chamou por trás.
— Quem quer saber? — perguntei, me virando, enquanto ligava para Rafa.
— É você mesmo! Não te reconheci com essa... — Ele fez uma pausa. — roupa.
— Por acaso eu te conheço? — Eu estava irritada demais para lidar com engraçadinhos.
— Como assim? — Ele ficou confuso — Você está querendo zoar com minha cara?
— Olha, garoto, estou sem paciência agora. Licença! — falei e sai de perto.
— Ana! — Ele chamou, pegando meu braço — Para de gracinha, poxa. Você que me chamou aqui.
— O quê? — desliguei o celular assim que a chamada caiu na caixa postal. — Do que você está falando, doido?
Tentei desvencilhar da pegada no braço, pouco à vontade com a situação.
— Solta meu braço! — falei com firmeza — Eu não te conheço.
— Ana, fala sério! — Ele estava irritado. — Já chega de gracinha. Você me chamou aqui para isso?!
Então a realidade bateu. Eu realmente conhecia aquela pessoa. Eu estava irritada demais para reconhecer a voz (não me julgue).
— Lucas? — perguntei cautelosa.
— Finalmente! — disse, exasperado — Você é maluca? Por acaso tem amnésia pra esquecer quem eu sou?
— Desculpa... — falei com tristeza.
Realmente estava triste. Geralmente reconheço as pessoas pela voz ou por alguma característica peculiar. Mas quando estava nervosa ou dispersa, minha cabeça ficava toda confusa.
— O que foi? — perguntou, preocupado.
— Nada — balancei a cabeça.
Meu celular vibrou, era Rafa dizendo para me divertir sozinha por um tempo. Ele iria ficar ocupado por algumas horas. Revirei os olhos, sabendo o que aquilo significava.
— Então estaremos sozinhos hoje? — Lucas falou, encarando meu celular.
— Você é muito intrometido, sabia? — reclamei. — Mas sim, estamos sozinhos.
— Nada mal — Ele estava pensativo.
Revirei os olhos mais uma vez. Estava presa com o demônio em pessoa, em um lugar que eu considerava divertido.
Respirei fundo e entoei um mantra interno: "eu vou me divertir hoje, independe do que aconteça e de quem esteja comigo".
Abri os olhos. Era hora da megera se divertir um pouco, para variar.
Por acaso, Lucas era mais divertido do que eu pensava. Ele foi comigo em todos os brinquedos que eu gostava, sem reclamar nenhuma vez. Na verdade, ele parecia estar se divertindo ainda mais do que eu.
Gritamos na montanha russa e nas quedas livres, competimos nos carrinhos de bate-bate, nos perdemos na casa dos espelhos, quase vomitamos nas xícaras malucas e no barco viking, ficamos apreensivos no trem fantasma e disputamos quem comia hambúrguer mais rápido (confesso que nessa eu perdi feio, e ainda passei vergonha vomitando no chão).
Eram cinco horas quando finalmente Rafa e Jonata se juntaram a nós. Fomos em mais uma rodada de brinquedos e passamos por algumas barracas de jogos.
Jonata ganhou um coelho no jogo de tiro, e deu de presente para Rafa. O coelho foi perdido momentos depois, quando entramos na queda livre e a cordinha do bichinho se desprendeu. Procuramos por vários minutos, até que Rafa se deu por vencido, e se conformou que alguma criança estaria muito feliz.
Então chegou o momento de irmos na roda gigante. Já era noite e tudo estava lindamente iluminado. Obrigatoriamente tive que ir ao lado de Lucas, para que Rafa tivesse um passeio romântico nas alturas.
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Rostos Borrados
RomanceJá imaginou não conhecer a si mesmo? Rostos borrados, desconhecidos amigos, nenhum traço. Ana é uma garota sem rosto. E todos a sua volta também. Em meio a multidão desfocada, um amor da infância ressurge em sua vida depois de seis anos. Será que el...