Motivações

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     — Sabes lo que puedo hacer con ella si llamas a la policía, ¿no? - Consuela continuou, sua voz cínica e arrastada. - Te mando la dirección, ven pronto ¡No tengo mucha paciencia con ustedes!¹

    A linha ficou muda e o celular caiu de minha mão. Minha visão estava turva pelas lágrimas que começavam a sair e minhas mãos não paravam de tremer. A lembrança de minha mãe caída ao meu lado e de um homem sendo morto na minha frente se repetia. Minha cicatriz doía, como o lembrete mórbido do que eu perdera naquela noite.

    Caio pegou o celular do chão e o ligou, esperando ver a mensagem com o local. Mais uma vez minha mente estava nublada, estagnada no trauma de anos atrás. Eu não sabia porquê Consuela me odiava tanto e porque queria me ver sofrendo daquela forma.

    — Ela mandou — sussurrou —, não é muito longe daqui.

    Assenti, sem conseguir processar muito as informações. Eu precisava de ajuda, mas se eu chamasse a polícia, Consuela iria matar Nataly antes de ser presa. Eu precisava salvá-la, nem que isso custasse minha própria vida. Peguei o celular e procurei um número.

    — Nana? — Sua voz estava sonolenta — Está tudo bem?

    Sem pensar acabei ligando para Lucas. Eu queria que ele estivesse comigo, pelo menos para sentir seu abraço reconfortante e sua voz me dizendo que tudo ia ficar bem.

    — Nana? Você está chorando? O que está acontecendo? — Agora ele estava alerta e preocupado.

    — Eu... — Minha voz estava travada, como se uma bola estivesse na minha garganta e nada conseguia passar.

    — Fala comigo, por favor! — Seu desespero era evidente — O que aconteceu?

    Caio gentilmente tirou o celular de minha mão.

    — Lucas? — começou a falar. — Aqui é o Caio, eu não sei bem porque a Ana te ligou, mas... Temos uma situação aqui.

    Ele se afastou de mim e explicou o que tinha acontecido. Eu me levantei, inquieta. Não deixava de pensar no homem com um buraco no olho, e de repente minha mente já estava pensando em Nataly da mesma forma. Então, já não sabia mais como respirar, parecia estar me afogando fora d'água.

    — Preciso ir. Obrigado, cara! — Caio desligou o celular e veio correndo na minha direção. — Ana, calma, respira.

    Ele me conduziu até uma das espreguiçadeiras e ficou de joelhos na minha frente.

    — Ana, atenção em mim! Olhe para mim! Respire junto comigo, ok? — Ele dava os comandos e eu apenas tentava acompanhar. — Inspira, expira. Inspira.... Expira... Inspira... Expira...

    Ficamos repetindo esse processo até que eu finalmente consegui recobrar meus sentidos.

    — Eu sei que não está tudo bem — Caio falou com uma voz calma e pausada —, mas vamos resolver isso juntos. Não importa o que aconteça, eu estou aqui e você pode contar comigo, entendeu?

    Afirmei com a cabeça, sem saber se conseguia soltar algum som.

    — Precisamos ir — continuou —, não sei o quanto aquela mulher irá esperar.

    Concordei e começamos a ir embora. Chegando na sala principal da festa, lembrei que Rafa estava ali também. Minhas mãos estavam geladas e suavam tanto que eu precisava constantemente passá-las na calça.

    — Rafa — chamei, interrompendo um beijo caloroso.

    Ele olhou para mim e assim que viu meu estado, seu sorriso apagou.

Rostos BorradosOnde histórias criam vida. Descubra agora