Uma lista e a vadia interesseira

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    — Vamos para o Jota's hoje? — Rafa perguntou, enquanto escovava meu cabelo.

    — O que você quer lá? Encontrar o amor da sua vida? — dei uma breve risada.

    — Não... — falou hesitando.

    — Então é isso! — exclamei me virando para ele, a escova grudada em meu cabelo.

    — Não venha me julgar, senhorita Ana! — falou em sua defesa, e ficou com ar sonhador. — Ele é um amor de pessoa, mas eu não quero ir sozinho. Parece que ele vai levar uns amigos dele.

     — Só me faltava essa — revirei os olhos. — Quer que eu fique de vela junto com outras pessoas que eu nem conheço.

    — São pessoas do colégio, você deveria conhecer, pelo menos — disse, meio irritadiço.

    — É... Deveria - falei, virando de volta, para esconder minha cara meio triste.

    — Desculpa, amiga — percebendo o que tinha dito. — Foi sem querer, juro.

    — Que horas quer ir? — mudei de assunto.

    — Daqui meia hora! — disse animado, esquecendo de segundos antes.

    — Às vezes eu sonho que estou te torturando até a morte, sabia? — comentei, indo em direção ao guarda-roupa.

    Rafa tinha dito que o garoto levaria só 2 amigos. Mas 2 se tornaram 5. Eles estavam sentados em uma mesa baixa com sofás dos dois lados.

    Meu melhor amigo cumprimentou todos, e o garoto que ele dizia conhecer me apresentou para seus amigos. Tinha pelo menos duas garotas ali, o que percebi pelos cabelos longos, unhas pintadas e vozes estridentes.

    Ele se sentou perto do garoto que gostava, e eu tomei o lugar que podia, do outro lado da mesa. Logo de frente para as duas garotas.

    — Você também é do colégio Rodrigues? — Alguém ao meu lado perguntou.

    — Sou — respondi com um breve sorriso.

    — Legal — Ele sorriu de volta. — Também sou de lá, mas acho que ainda não te vi.

    — Garota Iceberg, Lucas — Uma das meninas disse, carregada de sarcasmo.

    — Wow! — Um garoto exclamou. — Então é você! É como se fosse uma celebridade, cara. Genial!

    — É verdade que você nunca transou? — A outra garota, de cabelos loiros, questionou.

    — Ei, deixe a menina em paz! — Acho que o nome dele era Jonata, estava sentado ao lado de Rafa, pegando em sua mão. — Vocês não tem nada a ver com isso. Vamos curtir e deixar as fofocas do colégio de lado.

    — Ele tem razão — O garoto ao meu lado disse. — Além do mais, ninguém deveria ficar espalhando essas coisas por aí.

    Apenas dei um meio sorriso e fiquei em silêncio. Uma moça trouxe um milkshake branco e colocou na minha frente.

    — Esse negócio é de alguém? — perguntei, tentando chamar a atenção do pessoal.

    — Não se preocupe — O garoto, chamado Lucas, cutucou meu braço com o cotovelo. — Jonata disse para trazerem milkshake para todo mundo, na conta dele. Aparentemente o pai dele é dono do lugar. Ou padrasto. Eu realmente sempre me confundo.

    Olhei para ele, dei de ombros e provei da overdose de açúcar à minha frente. Era tão gostoso quanto parecia.

    — Combina com você, Iceberg — comentou a garota loira.

    — Verdade. Cuidado, Lucas, ela pode roubar seu coração e congelar ele — A outra gargalhou.

    — Não acho que seria tão ruim assim — comentou e virou o rosto para o outro lado.

    As meninas ficaram em silêncio por um momento. Então, elas se entreolharam e começaram a rir.

    — Engraçado — A loira comentou e senti seu olhar me estudando. — Muito engraçado. Mas um garoto como você não ficaria com alguém como... Ela.

    Peguei um guardanapo e escrevi nele. Logo depois mandei uma mensagem para Rafa pelo celular:

"vou ficar lá fora um pouco, não se preocupe comigo, aproveite o momento. *Arco-íris*"

    Arrastei o guardanapo até as meninas e sai da mesa em direção a rua, com um riso de deboche.

"Consigo ver seus mamilos. Parabéns, sunshine!"

    Queria ter visto a expressão delas, mas apenas me contentei com uma saída dramática.

    Sentei na beirada do chafariz a frente da lanchonete, vendo as redes sociais pelo celular, enquanto esperava o encontro radiante de Rafa acabar.

    Minutos depois, alguém se sentou ao meu lado. Reconheci a camiseta xadrez azul.

    — Seus amigos vão sentir sua falta — comentei, apertando os olhos enquanto olhava para céu ensolarado.

   — Eram muitos mamilos para mim — disse rindo.

    — Você conseguiu ler — ri alto.

    — Você não ficou para ver a cara delas. Foi engraçado. Ficaram possessas de raiva.

    — E não quiseram vir atrás de mim? — ponderei. — Interessante.

    — Eu disse que era melhor elas não saírem dali, ouvi dizer que os meninos estavam interessados nelas — Ele também olhou para cima. — Na verdade eu não sei, mas foi o suficiente para o decote aumentar.

    — Não vejo nada de errado em decotes, mas aquilo lá estava mais para peitos à mostra mesmo — fiz uma careta.

    — Engraçado como eu nunca te vi no colégio. Você é o quê? Do segundo?

    — Isso. Eu geralmente não fico desfilando pelos corredores que nem uma diva.

    — Sei — ele riu. — Sou do terceiro.

    — Bacana — comentei, pouco interessada.

    Ficamos em silêncio, então vi um papel caindo no chão, parando aos meus pés. Peguei e ao virar me deparei com uma lista.

Pagamentos

João R. -- 30,00

Carlos C. -- 40,00

Jonata P. -- 30,00

Pedro B. -- 40,00

Marco R -- 20,00

    — O que é isso? — perguntei curiosa.

    — É... — Ele pigarreou. — Não é nada.

    Pegou o papel e guardou no bolso.

    — Uma lista de pagamentos? Como faço para receber também? — brinquei.

    — Logo quando eu achava que você era legal... Bom, deve ser uma vadia interesseira mesmo — disse com rispidez.

    — O que... — Eu tentei falar, mas estava surpresa com a reação.

    — Me deixe em paz.

    Fiquei ali, boquiaberta sem entender o que tinha acabado de acontecer. De uma hora para outra o garoto se transformou. Por causa de uma lista...

Rostos BorradosOnde histórias criam vida. Descubra agora