Você novamente

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{6 anos depois}

    — ...PARABÉNS, ANA! — Todos gritaram de uma vez.

    Soprei as 23 velas que estavam espalhadas pelo bolo (um exagero, devo dizer).

    — Bom, este ano o primeiro pedaço vai para... — fiz suspense. — Minha mentora maravilhosa, Sara!

    — Ah, querida, não precisava! - Sara me abraçou e pegou o pedaço de bolo.

    — Bom, estou aqui graças a você - comentei -, por vários motivos diferentes.

    — Isso não posso negar — riu da lembrança da minha chegada ao hospital. — Você é um prodígio, e eu não estava errada.

    Vinte e três anos. Seis anos depois de me graduar no ensino médio. O tempo tinha passado tão rápido, e a garotinha de 17 anos, amedrontada pelo fantasma da avó, parecia tão distante agora. Diego nunca apareceu, e as lembranças daqueles dias estavam guardadas no fundo de minhas memórias. Trancadas em um lugar seguro, onde não iam me trazer pesadelos.

    Depois de comemorar meu aniversário, os funcionários do hospital se dispersaram, deixando a cafeteria vazia. Voltei minha atenção para alguns papéis que deixei em uma mesa. Aquele era meu dia, mas ainda precisava apresentar minha proposta de pesquisa da especialização. Folheava algumas anotações, enquanto saboreava um delicioso bolo de chocolate.

    — Posso me sentar aqui? — Alguém perguntou, e eu apenas concordei, absorta em alguns papéis.

    Uma mão entrou em meu campo de visão e colocou uma pequena caixinha em cima do meu caderno. Em seu punho, não pude deixar de perceber, tinha uma pulseira com cordões trançados, sua cor desbotada em preto e vermelho. Ela estava virada ao contrário, então eu pude ver a amarração que terminava com um pingente prata escrito "Hope".

    — Isso é para você, Ana — ele falou.

    Por um momento eu congelei. Não podia ser, podia? Levantei a cabeça e o encarei. Ali, sentado na minha frente, estava uma versão mais velha do Lucas que eu me lembrava da infância, antes da Consuela.

     — Oi, Ana — sorriu, e pela primeira vez percebi que ele tinha covinhas.

    Meu coração disparou descontroladamente. Eu me levantei, completamente atônita, sem conseguir pronunciar uma palavra. Ele se levantou também, um pouco confuso.

    Eu apenas o abracei e me permiti segurá-lo por um tempo, enquanto meu cérebro processava aquela informação. Ele era real.

    — Você está aqui — sussurrei, finalmente.

    — Eu estou aqui — Ele afirmou, emocionado e me abraçou mais forte.

    Seu cheiro era diferente e mais suave, condizente com o homem que tinha se tornado. Eu o soltei, encarando seu rosto.

    — Seus olhos são escuros — falei —, achei que fossem mais claros. E é mais bonito do que esperava.

    — Bom, eu... — Ele começou a falar, mas parou no meio do caminho — Espera, você... Você consegue me ver?

    Assenti, rindo do seu rosto incrédulo.

    — Você consegue me ver de verdade? Tipo, de verdade mesmo? — perguntou de novo.

    — Você perdeu muitas coisas nesse tempo — sorri e fiz um gesto para que ele se sentasse.

    — Como isso aconteceu? — Ele passou a mão nos cabelos — Quer dizer... Você nunca me contou sobre isso.

Rostos BorradosOnde histórias criam vida. Descubra agora