O banheiro daquele shopping tinha um teto alto e poucas aberturas para fuga de som, o que proporcionava um excelente isolamento acústico. E para quem já presenciou um grito solto à plenos pulmões dentro de um lugar tão fechado, sabe muito bem o tamanho do estrago que essas ondas sonoras poderiam causar.
E quando esse grito de intensidade máxima saía de uma garganta feminina, naquele tradicional tom agudo e estridente capaz de estilhaçar para-brisas blindados, os resultados eram simplesmente devastadores.
Mas meus ouvidos zunindo dolorosamente era o detalhe que menos me preocupava naquele momento. O que realmente estava me apavorando era a constatação de que foi da minha boca que aquele falsete ultrassônico saiu.
O que aconteceu comigo?!?
Mas o pior de tudo era a parte física daquela loucura toda: a prova de que uma insanidade havia acontecido com meu corpo.
Meu corpo era o de uma...
Ah, meu Deus...!
MULHER!
Ah, meu Deus!!!
O
MEU
CORPO
ERA
DE
MULHER!!!
MULHEEER!!!!!
Não... isso não está acontecendo... isso não está acontecendo... isso não está acontecendo... isso não está acontecendo... isso não está acontecendo... isso não está acontecendo...!
Eu me tateava como um maluco e ficava cada vez mais desesperado com as descobertas óbvias após o choque inicial.
E todas aquelas sensações esquisitas que me dominavam agora estavam explicadas!
Eu também tinha peitos!
PEITOS!
O sutiã apertado ajudou a mantê-los discretos sob a blusa. Mas eles não eram tão pequenos. Como não os percebi antes?!?
Sutiã...!
Caraca! Eu estava usando sutiã!
Mas nada se comparava ao susto que tomei quando abri o zíper e...
...NÃO ACHEI NADA!
Calma... eu precisava ter muita calma.... Isso devia ter uma explicação...!
Pesadelo! Tinha que ser um pesadelo...!
Por favor, alguém me acorde!
De relance, vi aqueles três garotos que passaram por mim entrando pela porta de um modo apressado, com expressões preocupadas. O outro sujeito que já estava ali dentro se aproximava de mim mantendo os braços esticados para a frente e as mãos espalmadas. Estava assustado e preocupado ao mesmo tempo. Perguntava repetidas vezes se eu estava bem. Mas se referia a mim como... moça.
Que pesadelo é esse?
— Você está bem, moça? Está passando mal? Posso ajudar? — Ele passava uma das mãos na cabeça e parecia perdido, sem saber direito o que fazer. — Ou posso chamar alguém para você. Sua mãe veio com você, moça?
— Você entrou no banheiro errado, garota — disse o cara que tinha me cantado lá fora um minuto atrás. Mas não havia nada de indiscreto no olhar que direcionava a mim agora. Havia apenas preocupação. E falava comigo usando gestos calculados, procurando não me assustar. — Quer que a gente chame um... médico?
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Consciência Viajante
Teen Fiction(Classificação +14) Ele despertou na beirada de um prédio, prestes a cair. E após enfrentar momentos de tensão para impedir uma queda fatal, acabou descobrindo que acordar naquela situação aflitiva não era o maior de seus problemas. Logo se deu cont...