Capítulo 30 - Paraíso ( Miguel )

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Como recompensa pela minha performance no jogo, eu ganharia uma carona até em casa, oferecida por dona Bia, a técnica do time, que havia se atrasado para o jogo, aparecendo no campo apenas no final da partida. Mas ainda chegou a tempo de acompanhar meu gol. E, atendendo aos pedidos das demais atletas, ela aprovou minha entrada no time.

Portanto, eu fazia agora, oficialmente, parte do time de futebol feminino do Colégio Estadual Jeon Jung-kook. E acabei entrando na fogueira, pois dali a quinze dias, teríamos o jogo mais importante da recente história da nossa instituição de ensino, quando enfrentaríamos um time quase profissional. E o vencedor garantiria a última vaga na fase de grupos da competição.

E fomos ajudados por uma regra que fora implementada recentemente no Torneio Nacional Estudantil, buscando a inclusão de equipes menos expressivas. A regra estipulava que: um dos colégios já classificados seria sorteado para colocar sua vaga em disputa, enfrentando outro colégio aleatório, também escolhido por sorteio.

Então, por uma sorte absurda, nosso colégio foi sorteado e conseguimos o direito de enfrentar uma das equipes classificadas, com a missão de tentar roubar a vaga delas em um jogo único.

Mas para nosso azar, a equipe sorteada para disputar a vaga conosco foi a atual campeã e considerada por muitos como a melhor equipe brasileira sub-16 de todos os tempos: a chamada Seleção do Colégio Isaac Asimov, do Rio de Janeiro, que havia sido campeã nacional nove vezes consecutivas nos últimos nove anos.

Claro que as chances de uma classificação até existiam na prática, mas a possibilidade real disso era um feito quase impossível.

Isso porque precisaríamos vencer.

Porém, acreditávamos em nosso potencial e lutaríamos até o fim. E após o resultado desse último treino, nosso time passou a acreditar que, com suor e esforço, era possível sonhar mais alto.

E, falando em suor, precisávamos de um banho urgente.

Fui a última a me dirigir ao vestiário, pois precisei atender uma ligação da mãe da Tai que estava preocupada com o atraso. Afinal de contas, não avisei que iríamos demorar tanto. Imaginei que ficaríamos só meia hora, mas já passara o triplo disso. Porém, escapei da bronca ao resumir em poucas palavras o meu feito de ter entrado no time e ter marcado o gol do empate no fim do jogo.

Após ouvir alguns elogios de dona Suzana, prometi voltar logo para casa e finalizei a ligação, guardando o aparelho. Peguei então minhas roupas e me dirigi ao vestiário.

Eu não sabia exatamente o que esperava ver ali dentro quando entrei, mas num sentido mais figurado, só faltei ouvir anjos cantando ao som de harpas e trombetas, como se estivessem anunciando minha chegada ao paraíso:

Espalhadas ao longo da fileira de chuveiros, mais de duas dezenas de lindas garotas conversavam enquanto se despiam. Muitas delas, já estavam completamente nuas. E todas elas riam docemente enquanto se banhavam, com a água do chuveiro beijando seus corpos curvilíneos sob a camada de espuma.

"...el..."

Algumas chamaram minha atenção pelas suas curvas tão acentuadas, lembrando esculturas de deusas vivas.

"...ara mig...!..."

Em meio àquelas imagens insinuantes, tive a impressão de ouvir alguém falando de muito longe.

"...guel..."

Uma voz baixa, mas que começou a ganhar força com a repetição,

"... rda Miguel..."

Consciência ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora