Capítulo 12 - Paraquedista ( ... )

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Houve uma breve pausa silenciosa enquanto ela me encarava. Até que:

— Oi?

— Eu não sou a Tainara — repeti.

— Tá. Isso era pra ser uma piada?

— Não. É sério. Esse corpo é dela, mas ela não está aqui. Não é ela quem está falando com você agora.

— Então, quem é que está falando comigo agora?

— Eu não sei. Não sei quem eu sou. A única coisa que eu sei é que eu não sou ela. Eu não sou, nem mesmo, uma menina.

— Tipo... hã?

Isso vai ser complicado de explicar.

— Eu sou uma cara. Um garoto — revelei. — E estou dentro do corpo da sua amiga Tainara. De alguma forma, eu saí do meu corpo e entrei no corpo dela.

— Peraí! Você é um... garoto?

— É. Eu sou.

— Um menino?

— É.

—Que saiu do seu corpo e entrou no corpo dela, tipo um fantasma? — Ela falava pausadamente, ainda incrédula.

— Não sei se fantasma seria o termo correto — observei. — Porque não sei se meu corpo está morto. Aliás, eu espero que não!

— Tá. — Ela fez um gesto como se pedisse calma para si mesma. — Digamos que eu acredite nisso. Só me responda uma coisa: como você sabe que é um garoto se você não tem corpo de garoto e nem sabe se esse tal corpo de garoto existe?

Revirei os olhos. — Porque eu sei, oras. Eu penso como um garoto.

Vanna ainda ficou durante um longo momento pensativa, me encarando de maneira fixa, refletindo sobre minhas palavras, até que, inesperadamente, ela sorriu e me abraçou. — Está tudo bem, amiga. Não precisa se preocupar com isso. Seja você mesma.

— Hã?

— Eu já saquei. Mas não precisava esconder isso. Podia ter se aberto comigo. Agora esse moleton já faz mais sentido.

— Do que você está falando?

— Olha, está bem claro — disse ela, agora me segurando gentilmente pelos ombros enquanto me fitava sorrindo. — Você está querendo sair do armário mas ainda está receosa e confusa. Mas não tem problema. Seus pais vão aceitar numa boa. E você continua sendo minha melhor amiga. Mesmo se querer que eu te chame de amigo a partir de agora.

Ah, então foi isso que ela concluiu.

— Não, não. Você se enganou. Eu não saí do armário — tentei explicar. — A situação é bem mais complexa do que isso. Eu sou realmente um garoto dentro do corpo da Tainara. Eu sou outra pessoa, totalmente diferente. Devo ter um corpo, mas de alguma forma, me tiraram desse meu corpo e me jogaram aqui.

— Tai, você não precisa...

— Eu estou falando sério, Vanna!

Ela revirou os olhos, ainda sem acreditar. — Mas tenho que admitir que você escondeu isso muito bem. Pelo menos, até ontem. Porque parece que ontem você decidiu se soltar. Até seus trejeitos mudaram. Ficaram mais masculinos. E você sempre foi a garota mais feminina e delicadinha que eu já conheci. Você ainda tenta se parecer com a menininha de antes, mas seus gestos agora já soam forçados.

— Meus gestos femininos agora parecem forçados porque eles realmente são forçados! — expliquei. — Eu preciso parecer com ela para não levantar suspeitas, mas é bem difícil fingir ser uma garota, viu? — reclamei por fim.

Consciência ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora