Capítulo 35 - Super ( Tainara )

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Batman, Homem-Aranha, Superman, Homem de Ferro. Thor, Naruto, Goku...


Se perguntassem para qualquer garoto de seis anos qual o seu herói favorito, um desses personagens citados certamente seria o provável escolhido.

Mas não para o pequeno Thiago. Meu irmãozinho acabou se tornando fã de alguém com menos fama.

Ou seja, se tornou meu . Embora Miguel também partilhasse do crédito.

A nossa desesperada e bem-sucedida ação de salvamento acabou impressionando bastante o menino, a ponto de me colocar entre seus maiores ícones. Um herói bem mais real.

Ou melhor, nesse caso, uma heroína.

Mulher-Maravilha!? Pfff... Ela agora não era nada perto da Super Tainara.

E os meus pais acabaram sofrendo um pouco com a narração empolgada de Thiago logo que chegamos, onde ele repetia sem parar o que ocorrera, detalhando do seu jeito fofo nossa coragem em salvar seu grande amigo, o simpático Goleiro Velhinho.

E, claro, isso fez com que recebêssemos os parabéns de meus pais.

Nossa felicidade, entretanto, poderia ser ainda maior pela possibilidade de um pequeno aumento de mesada como recompensa pelo ato de bravura.

E nós merecíamos.

Mas tal prêmio dificilmente viria...


Na manhã do dia seguinte, quando sentamos para tomar o café da manhã, Thiago surpreendeu a todos quando apareceu na mesa trazendo consigo sua bola nova. E todos já imaginavam qual seria o pedido que faria. Certamente, o menino pediria para levá-la ao colégio, onde brincaria um pouco com o seu amigo com uma bola menos surrada.

Apontando para o objeto redondo colocado ao lado do copo de café, meu pai fez a pergunta:

— Por que trouxe essa bola para a mesa, filho?

E todos ficamos ansiosos pela resposta, que logo veio:

— É para o Goleiro Velhinho, pai. Eu posso levar?

— Pode sim, claro — respondeu ele, passando a mão na cabeça do menino com um sorriso paternal de orgulho.

— A bola dele é velha e feia. E tá descolando toda — lembrou Thiago, enquanto olhava para a sua, que estava em cima da mesa, e só faltava brilhar de tão nova.

— Ele vai ficar bem feliz quando vocês brincarem com essa sua bola tão bonita — disse minha mãe, também aprovando o pedido que ele fizera.

Mas o menino logo surpreendeu a todos ao explicar melhor sua intenção:

— Mas eu queria dar essa bola para ele. De presente.

Todos ficaram calados por um momento, surpresos com o que acabavam de ouvir. Afinal de contas, aquela bola sobre a mesa era a mais nova que ela tinha. Além de ter sido também a mais cara, pois se tratava de uma bola oficial. Thiago tinha outra no seu quarto, esta segunda um pouco mais usada, mas ainda em perfeito estado.

E, pensando exatamente naquela outra, meu velho tentou dissuadir o meu maninho. — Não acha melhor dar a outra bola? A azul? Ela também é bem bonita e parece novinha. Tenho certeza de que ele iria gostar muito. Porque esta aqui é sua melhor bola.

Thiago a pegou nas mãos e passou a admirar com atenção os detalhes de sua bola nova, parecendo reconsiderar sua decisão. Mas em seguida, declarou: — É por isso que eu queria dar essa pra ele. Porque é minha melhor bola. Eu posso, pai?

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