A casa alugada onde Vanna morava era um pouco mais longe do colégio, situada a uns oitocentos metros depois da residência de Tai. E se o lugar onde minha hospedeira morava era simples, a casa de Vanna conseguia superá-la.
Era uma construção básica de alvenaria com pintura um pouco desgastada, que contava com um pequeno jardim ao fundo e uma simpática cerca de nanás rodeando a residência. Era quase uma casa de campo, porém situada no meio, da cidade.
Mas apesar de simples, era um lugar extremamente bem cuidado. Mesmo de fora já se percebia que era tudo limpo e organizado.
Com um sorriso gigantesco no rosto, dona Terezinha veio nos receber na porta e quase me sufocou com um abraço longo, que foi complementado com um beijo no meu rosto.
— Como você está, minha querida? Faz tempo que não vinha aqui me ver, heim? Entre, entre!
Com dificuldades, ela se colocou de lado e nos deu espaço para entrar. E, do lado de dentro, comprovei que a limpeza e organização se mostravam ainda mais presentes.
A casa possuía cinco cômodos, sendo uma cozinha, uma sala e três quartos, além do banheiro. Os móveis eram antigos e em pouca quantidade, sobrando muitos espaços vazios. Era um ambiente onde o luxo passava longe de ser sentido, mas em contrapartida, uma atmosfera de aconchego familiar dominava todos os cantos.
E a principal responsável por aquela forte sensação de acolhimento vinha de dona Terezinha.
Durante nossa caminhada, Tai já havia me adiantado algumas coisas sobre a mãe de Vanna. E perdi as contas dos elogios que foram feitos àquela mulher, tão batalhadora e de bom coração, apesar dos graves problemas de saúde que enfrentava.
Dona Terezinha sofria de uma doença degenerativa que lhe atacava a coluna e os músculos das pernas. Com dificuldade, ela se locomovia de maneira lenta com a ajuda de muletas, tendo uma dor implacável como sua companheira durante todas as horas do dia, o que contrastava com o sorriso radiante que ela exibia o tempo todo.
Com cinquenta anos bem vividos, era tão baixinha que facilmente seria confundida com uma anã por ter pouco mais de 1,45m de altura. E quando ficava ao lado de Vanna, também era fácil ser confundida como sua filha quando vistas de longe.
Teimosa, ela insistiu em fazer um café para nós, apesar dos protestos de Vanna, que ficou do seu lado, tentando dissuadi-la da ideia e assumir a tarefa, mas em vão.
No fim das contas, as duas dividiram os esforços, com Vanna preparando a mesa.
"Pega a vassoura" — pediu Tai, de repente.
'Hã?'
"Pega a vassoura e dá uma varrida na casa. Ela está ali no canto, do lado da bicicleta da Vanna."
'Varrer?' — Olhei para o local e vi a bicicleta e a vassoura.
"É. Eu sempre faço isso quando venho. Ela vai reclamar, mas não dá bola. Só diz que é rapidinho e continua."
Atendendo ao pedido, me levantei e catei a vassoura de palha, começando a passá-la pelo chão de madeira.
"Meu Deus, Miguel! Varre direito! Você só está espalhando a sujeira!" — continuou criticando Tai. — "Vai me fazer passar vergonha!"
'Eu tô varrendo!' — retruquei, tentando melhorar minha performance de limpeza.
"Pega isso com vontade! A vassoura não vai te morder!"
'Eu estou fazendo o melhor que posso, tá bom!?'
"Não acredito que você não sabe nem varrer um chão...!"
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Consciência Viajante
Teen Fiction(Classificação +14) Ele despertou na beirada de um prédio, prestes a cair. E após enfrentar momentos de tensão para impedir uma queda fatal, acabou descobrindo que acordar naquela situação aflitiva não era o maior de seus problemas. Logo se deu cont...