Capítulo 29 - Esforço ( Miguel )

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— Nossa, Tainara! Você joga muito! — elogiou Rose no intervalo, empolgada com a boa primeira impressão que causei. — Eu tinha certeza que a gente ia terminar esse primeiro tempo perdendo por uns três gols de diferença! Mas ainda está 2x1! E agora elas estão com medo de a gente empatar!

— Isso! Vamos acreditar! — empolgou-se Flecha. — Esse time delas ficou em terceiro no nacional ano passado! Olha o nível!

— Com a Tainara no time, a gente arranca um empate, sim! — opinou Jéssika, que apesar de ser nossa goleira, não era uma das mais altas do time. No entanto, ela compensava sua baixa estatura com uma agilidade invejável.

E, na minha opinião, ela era a segunda melhor jogadora da equipe, perdendo apenas para Luz, embora seu grande potencial passasse despercebido a todos.

Mantive o silêncio durante toda a euforia das meninas e fiquei sem graça com os elogios. Mas, no fundo, também senti a mesma empolgação.

Principalmente, porque a Tai não parava de gritar dentro de mim, eufórica.

"Eu nunca joguei bola na minha vida! Mas é muito divertido!"

'É. E você está acompanhando de camarote.'

"Acha que a gente pode ganhar?"

'Ganhar é meio difícil' — ponderei. — 'O time delas é bem entrosado, fecha bem os espaços e tem uma defesa forte. Mas acredito que a gente pode achar um gol e sair daqui sem perder.'

"Nossa, Miguel! Seria o máximo!"

'Mas nós dois só aguentamos o ritmo até agora por causa daqueles exercícios que você reclamava tanto' — alfinetei. — 'Melhorou de um jeito absurdo nosso condicionamento físico.'

"OK" — admitiu ela. — "Mas eu ainda odeio exercícios!"

E sua resposta sincera me fez sorrir. — 'Vamos descansar bem esse intervalo e voltar com tudo!'

Porém, havia uma jogadora do nosso time não ficou muito motivada a me elogiar. Aliás, pelo contrário. Com uma cara de poucos amigos, a Vaca Vaca pediu a palavra e destacou alguns de meus erros durante a partida, tecendo algumas críticas e me culpando por ainda estarmos perdendo. Todas ouviram caladas, sem protestar, o que deixava claro que ela tinha uma posição de respeito no elenco, sendo uma das líderes. E com isso, sua opinião não era contestada abertamente.

Mas também ficou claro nos olhares das outras jogadoras que nenhuma delas concordou com seus argumentos.

Percebendo as evidentes farpas naquelas palavras, a capitã Luz se pronunciou, preocupada em manter a união da equipe. Chamou todas numa roda e gesticulou: — << A Tainara entrou muito bem. Temos que apoiar! Eu não quero ouvir críticas sem sentido! Problemas fora de campo são resolvidos fora de campo! Aqui somos um time e temos um objetivo! Todas entenderam? >>

Nem todas as garotas do time compreendiam de maneira perfeita a língua em libras. Por isso, esses discursos sempre eram traduzidos por Rose, que repetiu às outras, palavra por palavra, o que a capitã havia falado.

Para mim, no entanto, era um pouco mais fácil, já que eu tinha a minha própria tradutora embutida na cabeça.

Enfim, após a tradução, todas assentiram, entoando um sim em coro, com exceção de Lorelei, que permaneceu calada.

E aquilo deixou bem claro que, apesar de haverem líderes na equipe, a verdadeira liderança pertencia a uma só pessoa, que tinha suas opiniões seguidas e respeitadas acima de todas.

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