Consciência Viajante

Capítulo 17 - Presidente ( Miguel )

O professor de História já havia entrado na sala, mas se mantinha ainda sentado em sua mesa, tentando organizar seu material para iniciar a aula.

Eu, por minha vez, decidi fazer algo parecido. Mas no meu caso, o objetivo era tentar organizar a minha própria vida, embora ali não fosse o lugar e nem o momento ideal para fazê-lo. Usando aquele tempo livre, repassei os últimos acontecimentos após o turbulento despertar no corpo de uma garota.

Buscava explicações razoáveis para o que havia acontecido. E, sobretudo, maneiras de retornar para meu corpo de origem.

Encontrar meu corpo deveria ser a minha prioridade. Poderia ser a única maneira de me livrar deste corpo emprestado. O grande problema era que eu não fazia ideia de onde procurá-lo.

E nem se esse meu suposto corpo original ainda existia...

Minhas divagações, no entanto, foram interrompidas por um nome que foi repetido algumas vezes; era a voz do professor chamando por:

— Tain...

— Oi!? — Antes que aquele meu novo nome se repetisse mais uma vez, respondi rápido, fixando o olhar para frente enquanto ouvia um suspiro irritado do professor como resposta, com o acréscimo das risadas dos colegas ecoando ao meu redor.

Droga...! Acabei me distraindo.

— Silêncio! — pediu ele, num tom mais alto para tentar calar a turma, sobrando apenas aquele silêncio constrangedor, que ficou ainda pior com a sensação de que todos olhavam para mim naquele momento.

— Olha, eu sei que história política não é um assunto tão interessante para vocês — ironizou ele. — Mas seria pedir demais que prestasse um pouco de atenção na minha aula, Tainara?

— Não senhor — respondi, baixando a cabeça.

— Está com problemas para dormir em casa, então? — perguntou ele, dando uma leve coçada na cabeça calva, num claro cacoete que evidenciava irritação.

— Não, senhor — prossegui com a mesma resposta.

— Então, eu agradeceria se não fizesse isso na minha aula.

— Desculpe, senhor.

Ele balançou a cabeça. — OK — E soltou mais um suspiro. — É uma pergunta mais opinativa: na sua visão, quem foi o presidente mais popular do mundo em toda a história?

Pensei um pouco e tentei me situar no cenário político mundial. Mas logo percebi que esse assunto não era meu forte. Eu me virava melhor em exatas. Então, chutei: — Harry Styles?

A gargalhada foi geral.

— E você acha que foi muito engraçada, senhorita Tainara? — questionou ele, sério.

— N-não — respondi, voltando a baixar a cabeça, sentindo o rosto corar com as risadas, que só aumentaram.

Até que uma menina soltou, num tom de voz desdenhoso: — Se essa quatro olhos estudasse ao invés de dar atenção pra mendigo na rua, talvez não falasse tanta besteira.

O comentário idiota gerou mais risadas, mas da minha parte, a vergonha deu lugar à raiva. Movi o rosto rapidamente para o lado, buscando quem tinha falado. E na última carteira de uma das fileiras à minha direita, dei de cara com uma menina me encarando sério. Alguém que reconheci facilmente: a Vaca Vaca.

Até que o professor levantou o tom de voz para pedir silêncio. E a sala finalmente obedeceu, se aquietando.

Um aluno da frente ergueu a mão e citou outro nome. E aquele foi melhor aceito pelo professor para definir um presidente popular. E isso abriu um pequeno debate, onde alguns concordavam e outros discordavam, abordando seus pontos.