"Você quase estragou tudo!" — acusou ela, logo que William nos deu as costas.
'Será que a gente podia ir embora agora?' — pedi, de maneira totalmente involuntária, obedecendo a uma ordem que dominava todo o meu corpo. Cada fibra de meu ser estava desesperada para fugir daquele lugar.
"Não!" — exclamou ela, recusando meu pedido. — "Você prometeu que ficaria. Ele é importante pra mim, Miguel. Eu sou apaixonada por ele desde o primário. E eu nunca estive tão próximo dele como agora depois desse convite para a festa."
'Tai, por favor...'
"É só hoje!" — exclamou ela, me interrompendo. — "Você logo vai embora para o seu corpo. Eu acredito nisso. Talvez, amanhã mesmo você já acorde lá. E vai ficar livre de mim. Mas antes de ir, faz esse último favor para mim! Por favor...!
'Tai...'
"É só ser gentil com ele. Ser agradável. Nada mais que isso. Só me dá essa chance. É tudo o que estou pedindo, Miguel."
Fechei os olhos novamente. Respirei fundo. E mais uma vez encontrei forças onde não existiam, desistindo de sair dali correndo, que era a atitude que todo meu corpo estava prestes a fazer. E larguei meu peso sobre a cadeira novamente.
"Obrigada, Miguel."
'Isso não vai dar certo' — avisei, antecipando o óbvio. — 'Esse cara não gosta de você, Tainara. Só quer te enganar...!'
"Ele veio falar comigo" — lembrou ela.
'E daí?' — contra-argumentei. — 'Vir conversar não quer dizer que ele se importa! O juiz também fala com o réu e logo depois condena ele à cadeira elétrica!'
"Essa comparação foi absurda."
'OK, ele veio até aqui, mas não disse nada que preste! Só te cantou! Ele nem liga para você, Tai. Ele só vai te usar!' — repeti.
"Deixa de ser chato! E eu espero que não tenha assustado ele!"
— Miguel...? — ouvi Vanna sussurrar ao meu lado, no exato momento da transição das músicas, no intervalo entre o fim de Castle On The Hill e o início de Shivers. Eu havia até esquecido da presença dela ali.
— Oi — respondi, me virando para ela enquanto forçava um sorriso.
— Você está bem? — perguntou ela em seguida, tocando meu rosto de forma preocupada.
"Fala que está tudo bem."
— Ela está bem — respondi à Vanna. — Não se preocupa.
— Eu não estou perguntando pela Tai. Estou perguntando por você, Miguel.
"Fala que você está bem!" — Tai me orientou a dizer, ao perceber que eu demorava para responder.
— Eu também estou bem, Vanna. Não se preocupe. Isso tudo é só um favor que eu tenho que fazer para a Tai. Mas não vai arrancar nenhum pedaço de mim. Ser gentil com esse idiota não vai me matar.
Ela ainda ficou me olhando por alguns segundos a mais, aparentando a mesma preocupação, até assentir, acreditando em mim.
Mas acrescentou: — Eu estou aqui perto, não se preocupe. Qualquer coisa, me chama.
"Ela vai estragar o clima estando aqui perto!" — reclamou Tai, tão logo nossa amiga terminou de falar.
'Ela é sua melhor amiga. Devia deixar ela aqui.'
"OK, acho que não tem problema" — conformou-se. — "Porque talvez" — sua voz, então, mudou, ficando um pouco mais sugestiva —, "isso faça ele me levar lá pra cima para termos mais privacidade..."
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Consciência Viajante
Novela Juvenil(Classificação +14) Ele despertou na beirada de um prédio, prestes a cair. E após enfrentar momentos de tensão para impedir uma queda fatal, acabou descobrindo que acordar naquela situação aflitiva não era o maior de seus problemas. Logo se deu cont...