Capítulo 58 - Conexão (Miguel)

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Ela estava parada do lado de fora de uma loja, escorada na parede, distraída enquanto mexia no celular. E parecia ter a nossa idade.

Eu não fazia a menor ideia de quem era ela.

Mesmo assim, não conseguia parar de observá-la. No entanto, o motivo de ela chamar tanto minha atenção não tinha nada a ver com sua beleza ou qualquer outro fator externo.

Era algo mais subjetivo que eu não conseguia explicar.

— Conhece aquela ali? — perguntou Vanna, depois que parei de andar, com os olhos travados na misteriosa garota.

— Não — respondi, mas quase sem me mover, parecendo uma estátua esculpida na posição de sentinela.

"E por que diabos está olhando para ela desse jeito se não a conhece, Miguel?" — questionou Tai, um pouco incomodada com minha postura um tanto indiscreta.

Eu continuava sem conseguir explicar o motivo, mas sentia uma fortíssima conexão com aquela garota, como se ela me fosse muito familiar. Não era algo embasado em lembranças, mas de uma forma estranha, eu tinha a impressão de que a conhecia.

E que ela também me conhecia.

'Eu acho que ela pode saber o que aconteceu comigo' — suspeitei, depois de desviar o olhar. — 'Ela pode saber onde o meu corpo está.'

"O quê?!? E da onde você tirou isso!?" — indagou minha metade, confusa. — "Acabou de me dizer que não conhece ela!"

'Eu não lembro dela. Mas talvez, eu a conheça...' — Meu coração já estava acelerado, batendo com força no peito, impulsionado por uma sensação que eu ainda não conseguia explicar. Minhas mãos suavam, deixando claro um nervosismo crescente.

"O que está acontecendo com você, Miguel?" — Tai começou a se preocupar com minha reação, com o meu estado de ansiedade que ficava cada vez mais evidente naquele corpo que compartilhávamos.

E o motivo era a presença daquela garota. Uma garota que nenhum de nós conhecia.

'Eu preciso falar com ela.'

Tai demorou para responder, mas acabou concordando.

"OK, vamos lá, então."

—Fica aqui, Vanna — pedi. — Eu acho que aquela menina lá me conhece. Vou lá e já volto. Espera aqui.

—Eu poderia ir junto e te ajudar.

—Não! — discordei. — Fica aqui.

— Está descartando minha ajuda.

— Você calada estará me ajudando mais.

— Tudo bem — obedeceu ela, fazendo uma careta para mim. — Mas qualquer coisa, é só gritar que eu corro até lá.

Comecei a me aproximar com passos lentos, cautelosos.

"Será que ela fez parte da experiência também?"

Aquela possibilidade me deixou ainda mais nervoso, exatamente porque era possível.

A proximidade apenas tornava aquela sensação de familiaridade ainda maior. E me dava certeza que eu poderia ter as respostas que tanto procurava a respeito do meu passado. De onde estava meu corpo. Enfim, do que aconteceu comigo.

E com isso, o nervosismo também aumentou.

Até que eu finalmente cheguei perto o suficiente, anunciando minha presença quase gaguejando:

— Oi.

A garota ergueu os olhos da tela do aparelho pela primeira vez e me encarou, inicialmente surpresa. Esquadrinhou meu rosto e logo ficou claro que Tai não fazia parte de seu quadro de amigas.

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