Capítulo 26 - A Nota ( Tainara )

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No fim das contas, tive que ir para o colégio sem minha esperada make, já que meu maquiador era uma negação total. E se eu insistisse, terminaria como uma palhaça.

Ou com um lápis de olho atravessado no globo ocular.

Mas pelo menos ele aprendeu a pentear os meus cabelos direito e fazer um rabo de cavalo apresentável.

E, o mais importante: voltei a aparecer em público com roupas decentes. E este pequeno detalhe me trouxe de volta à normalidade, já que minhas colegas de aula agora me olhavam sem aquele ar de estranheza de dias atrás, quando o que mais chamava a atenção em mim eram os horríveis moletons folgados.

E, como um bônus, esta mudança fez com que eu atraísse olhares um pouco mais interessados por parte de alguns garotos.

Nada como voltar a ser eu mesma.

Ou... metade de mim mesma.

A terceira aula, que havia acabado de começar, era a mais temida daquele dia, pois se tratava da segunda aula de Física da semana. E seriam divulgadas as notas da trágica prova surpresa, que fomos todos obrigados a fazer no dia anterior.

Após promover um suspense básico, a professora por fim entregou as provas, passando carteira por carteira, colocando as folhas de maneira solene sobre nossas mesas.

E a reação mais comum foi a de suspiros frustrados, junto a pequenos palavrões que eram suprimidos com dificuldade. De uma maneira geral, a sala toda havia fracassado, o que ficava claro nas reações dos alunos. Alguns, claro, rasparam numa nota mais alta, alcançando um 5,5... ou até um 6...

Vanna, por exemplo, ficou extremamente feliz ao receber sua prova e mostrava com orgulho aos colegas a nota 6,5 que recebera.

O restante, porém, podia-se dizer que foi ladeira abaixo.

Mas houve uma feliz exceção.

"10?!?"

'É o que parece' — afirmou ele, de forma zombeteira. — 'O número um e o número zero do lado, sem nenhuma vírgula no meio. Está me parecendo um 10.'

"Eu tirei um 10 em física...? — prossegui perguntando, ainda incrédula.

'Quase isso. Na verdade, fui eu quem tirei.' — Segurando a prova com uma das mãos, ele a ergueu na frente dos olhos como se fosse um troféu.

"Peraí...! Eu tirei mesmo um 10 em física?!? Um 10?? 10??? Em física??? Numa prova de Física?!? Numa prova surpresa de Física?!?"

'Tecnicamente, fui eu quem resolveu as questões. Então, eu tirei 10.' — cutucou ele novamente. — 'Mas o mérito será todo seu.'

"Eu nunca tirei um 10 em Física em toda minha vida...!!"

Ele tocou com dedo ao lado da nossa orelha e inclinou um pouco o rosto, como se estivesse apurando a audição para ouvir algo importante: — 'Eu ainda não ouvi um obrigado...'

"Você está no meu corpo e usou o meu cérebro para isso, seu convencido!" — retruquei, autoritária. — "E esse 10 aqui vai pra minha média. Então, esse 10 aqui é todo meu!"

'OK, sua pata. Ele é seu. Você mereceu.'

"Peraí!!" — Ele já estava ficando folgado demais. — "Você me chamou do quê!?

'Pata. Aquele bicho que faz quac quac, sabe?'

"Eu não acredito que você disse isso...! Quem você pensa que é para me chamar disso, seu bestão?"

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