Capítulo 31 - Segredo ( Tainara )

39 10 61
                                    

Após o banho, a treinadora fez questão de levar nós duas em casa: eu e Vanna. E, durante o caminho, falou sobre o futuro do time, nos colocando a par da rotina de treinos e do quanto seria importante nos dedicarmos, enfatizando a importância de Luz para o time, tecendo intensos elogios à nossa capitã. E a mim também, pois ficou impressionada com o que me viu fazer.

Ou melhor, como que ela viu Miguel fazer.

A curiosidade me induziu a convencer Miguel a fazer perguntas sobre a calada jogadora, até chegarmos em um terreno mais pessoal, onde percebi que a treinadora ficou reticente em revelar mais coisas.

O básico sobre Luz todos já sabiam. Ela era órfã. E teve uma infância trágica, digna de um filme de drama. O pai se envolvera com dívidas e acabou sendo morto por agiotas quando ela tinha apenas um ano de idade. A mãe foi morta pouco tempo depois, também por causa dessas dívidas. Com isso, ela acabou ficando sob a tutela de uma tia, que sempre se mostrou muito ausente. E, no fim das contas, Luz encontrou em Laura uma amizade que praticamente substituiu sua família perdida. As duas eram bem mais do que parceiras de time e colegas de classe. Eram quase irmãs. E, juntas, tinham até um apelido: Flecha de Luz.

Mas queríamos saber mais. Queríamos saber dos segredos. E ela parecia ter muitos, pois até mesmo sua mudez era algo que não tínhamos certeza da origem. Não sabíamos se era de nascença ou resultado de algum acidente. De qualquer forma, o que mais nos interessava era o maior segredo que ela escondia.

Isso era ético? Era da nossa conta? Tínhamos o direito de querer saber, se a própria Luz não mostrava a ninguém?

Lógico que não.

Mas nossa curiosidade era mais forte.

Então, de maneira sutil, tanto Miguel quanto Vanna começaram a tentar arrancar essas informações da treinadora, que parecia saber dos detalhes mais pessoais sobre a talentosa jogadora da camisa 14.

— Não sei o que é — respondeu ela, quando perguntada a respeito do que Luz parecia sempre tentar esconder no seu corpo. Um detalhe que ficou evidente durante o banho coletivo. E nos jogou a indireta: — Mas deviam perguntar para ela, não pra mim.

OK. De maneira sutil, ela nos chamou de enxeridas.

No entanto, além de enxeridas, éramos insistentes.

— Acho que é uma cicatriz — observou Miguel.

— Mas eu já ouvi uma história diferente — relatou Vanna, enquanto o carro fazia uma curva mais fechada. — Que pode ser uma tatuagem. E que foi feita à força pelo chefe dos agiotas que mataram os pais dela, como uma espécie de cobrança da dívida dos pais.

— Nossa! Então ele pode ter feito uma tatuagem nela à força? — questionou Miguel.

— É o que ouvi dizer — confirmou Vanna. — Ou isso pode ser só uma lenda urbana. Mas bastaria a dona Bia revelar a verdade que não surgirão mais boatos assim.

— Boa tentativa, Vanna — riu a treinadora. — Mas se querem saber coisas pessoais sobre a Luz, perguntem para ela. Não adianta ficarem especulando.

É. Dona Bia não seria dobrada tão fácil.

— Ou pode ser uma marca de queimadura — sugeriu Miguel, ainda na tentativa de fazer a treinadora abrir o bico para desmentir sua suposição.

Ou, talvez, confirmá-la.

— Eu queria pedir uma coisa para vocês — disse dona Bia, após alguns minutos em silêncio.

Consciência ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora