Capítulo 13 - Trejeitos ( ... )

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Depois de dar um susto nos garotos, Vanna se aproximou de mim enquanto eu lavava as mãos numa torneira próxima.

Ela ficou me encarando surpresa, mas em silêncio, com os olhos arregalados.

— Acredita em mim agora? — perguntei, após terminar o breve ritual de higiene. E retomamos o caminho para o colégio.

— Você está mesmo no corpo dela...! — sua afirmação foi feita num murmúrio enquanto cobria a boca com as mãos.

— É. Eu estou. — E, finalmente, ela passou a acreditar em mim.

— E isso explica o seu cabelo todo torto! — exclamou ela, me fazendo parar de andar enquanto abria sua mochila e tirava uma escova de cabelo lá de dentro. — Meu Deus! Você não sabe nem pentear um cabelo direito!

— O que você está fazendo...? — perguntei, quando ela desfez meu rabo de cavalo e começou a passar a escova nos meus cabelos. E a cena logo fez com que todos que passavam por perto parassem para olhar; e lógico, começaram a rir. — Para com isso!

— Estou consertando seu cabelo! — disse ela, ignorando meus protestos e forçando ainda mais a escova a cada passada, deixando meu couro cabeludo doendo no processo.

— O que tem de errado com meu cabelo? — perguntei, o rosto já vermelho de vergonha pelo mico que estava passando.

— Errado?!! Dá de notar os fios embaraçados a quilômetros de distância! — ironizou ela. — E o rabo de cavalo tem que ficar atrás da sua cabeça, não do lado. Estava todo torto!

Segundos depois, ela já amarrava meus cabelos outra vez, após deixá-los penteados de modo impecável.

— É... ficou bem melhor — tive que admitir, dando uma conferida no resultado com seu espelho de maquiagem.

— E eu aqui achando que você deixou ele desarrumado de propósito pra fazer um estilo mais despojado. E estava sem graça de te dizer que estava feio!

— Obrigado — agradeci a ela, devolvendo-lhe o espelho. E continuamos a caminhar.

— E graças a Deus você não tentou se maquiar! Só fico imaginando o estrago que você iria fazer na própria cara!

— Sem chances de isso acontecer! Fico longe daquele estojo de maquiagem como se aquela caixa fosse radioativa!

— E quem é você? — foi a pergunta que Vanna me fez, logo após guardar o espelho de volta na mochila.

— Eu já te falei. Não sei quem eu sou. Não lembro de nada. Estou com amnésia.

— E onde ela está? Cadê a Tai?

— Eu também não sei.

— Como não sabe? — Seu tom de voz se alterou. — Você tem que saber! Esse corpo é dela! Eu quero minha amiga de volta!

— Desculpe, mas eu não sei onde ela está!

— Mas precisa saber! Ela deve estar aí em algum lugar!

E sua suposição me fez lembrar da sensação constante de companhia que eu sentia na minha cabeça.

— Na verdade, eu sinto como se tivesse mais alguém aqui. — E toquei minha têmpora com o dedo.

— É ela! É a Tainara!! — exclamou Vanna, esperançosa. — Chama ela de volta!

— Eu não sei como fazer isso. E nem sei se é ela quem está aqui! Nem sei se é alguém! Talvez, seja só uma falsa impressão.

— Não tem nada de falso nisso! É ela! Traz ela de volta!

— Eu não sei como fazer isso! — continuei repetindo, mas começando a me preocupar com a postura de Vanna, que parecia perder a paciência. — Desculpe, mas eu não sei quem eu sou e nem sei como eu vim parar aqui! E não sei como trazer ela de volta, se é mesmo ela quem está aqui junto comigo.

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