Capítulo 15 - Vaca ( Miguel )

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Com mais alguns passos, chegarmos ao portão do colégio, onde eu parei por um momento, me sentindo um pouco receoso em prosseguir após cruzar o limite de entrada.

— Miguel...? — perguntou Vanna, também parando de caminhar ao perceber que eu não acompanhei seus passos. Ela me dirigiu um olhar preocupado e se aproximou. — Você está bem?

— Estou sim — respondi, sorrindo para mostrar que estava realmente tudo bem comigo.

Ou quase.

— Você está recuperando a memória? — indagou ela em seguida, esperançosa.

— Não — respondi, o olhar ainda perdido naquele mar de adolescentes que tumultuavam o enorme pátio do colégio, numa barulheira sem controle, com as centenas de vozes simultâneas soando como um enxame de abelhas raivosas. E o fato de eu não encontrar nenhum rosto familiar em meio à multidão acabou me deixando receoso; um pouco mais do que eu esperava.

Vanna também encarou a aglomeração em frente e, como se tivesse lido meus pensamentos, afirmou: — Esse colégio assusta um pouco.

— É... — fui obrigado a concordar. — Um pouco.

Olhei para o alto da fachada e reli aquele nome estranho: Colégio Estadual Jeon Jung-kook. E meus olhos se mantiveram por um bom tempo fixos naquelas palavras.

— Ah, está curioso com o nome, né? — suspeitou ela.

— É. Um pouco. É um nome bem incomum para se colocar num colégio público — observei.

— É que nosso colégio é recente. Foi fundado há apenas cinco anos. O antigo foi demolido. E a prefeita na época da inauguração era uma fã maluca de K-pop, principalmente, do BTS. Aí ela batizou com esse nome, que é de um dos integrantes do grupo. Você conhece esse grupo?

— Hã? BTS? Ah, sim, sim. Já ouvi falar deles. Um grupo de K-pop, né? Sim, já vi uma imagem dele em algum lugar.

— Mas você não curte K-pop.

— Não! Não. Música de... menininha — desdenhei.

— Imaginei. K-pop não faria mesmo seu estilo. A Tai ama.

— Interessante — murmurei após a explicação, voltando a olhar para frente, encarando a multidão, ainda intimidado.

Ela, então, pegou na minha mão, me lançando um olhar encorajador. — Não se preocupe. A gente estuda na mesma sala. E eu sento atrás da Tai. Então, eu estarei junto com você até se acostumar com a rotina.

— Obrigado — agradeci, retribuindo o sorriso e me sentindo um pouco mais confiante.

— O bri ga da — fui corrigido outra vez, com ela soletrando a palavra num sussurro, de maneira bem lenta e didática, como uma professora primária.

— Ah, pois é... obrigada.

Eu precisava me habituar a isso. A me expressar daquela maneira, mesmo que ainda fosse muito estranho falar daquele jeito, como uma garota.

Sem contar a maneira de andar, de gesticular, de me portar.

Talvez eu nunca me acostumasse...

Volta, Tainara... por favor... volta logo para eu poder retornar para o meu próprio corpo...

— Vamos logo, ô sua lerda. Ou a gente vai se atrasar — lembrou Vanna, me dando um puxão.

Eu chutaria que deveria ter umas trezentas pessoas dentro daquele colégio. Estudantes de todos os tipos. Um diversificado bioma de espécies que poderia ser estudado. Haviam espécimes de cabelos azuis, verdes, amarelos, e vestindo roupas que pareciam terem saído de filmes. Tanto de guerra quanto de época.

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